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Obama, próximo teste: China

E vamos concluir esta “Trilogia Estadunidense” (espiões, OGM, armas) com uma hipótese.
Repito: apenas uma hipótese. 

Nos últimos tempos, o simpático Barack Obama tem estado constantemente no olho do furacão: antes o escândalo da agência federal que trata do pagamento dos impostos e que concentra as próprias atenções sobre entes e organizações de Direita; a seguir, o elaborado plano da CIA para espiar os jornalistas da Associated Press; por último, a Administração que espia tudo e todos com os casos Verizon e Prism.

Uma olhada ao calendário: tudo no último mês. Nada mal.

As coisas acontecem, óbvio. Mas quando não acontecem, podem ser feitas acontecer: será este o caso?
Para já, Obama cedeu a condução do FBI: no topo do Federal Bureau of Investigation fica agora o republicano James B. Comey, antigo membro da Defesa com George W. Bush. Isto após de outro homem da Direita, o ex Governador do Nebraska Chuck Hagel, ter sido nomeado Secretário da Defesa.

É possível pensar numa manobra dos Republicanos só para obter duas nomeações? FBI e Defesa são extremamente importantes, não há dúvida, mas se de “conspiração” queremos falar, então será preciso procurar para algo mais. A campanha anti-Obama é particularmente virulenta, até inclui órgãos de informação que notoriamente apoiam os Democratas: é o caso do New York Times, o terceiro diário mais lido dos Estados Unidos após USA Today e The Wall Street Journal. Se aceitarmos a ideia duma campanha orquestrada para atingir o Presidente, temos que procurar em outros lugares.

Obama não é um pacifista. Será Nobel da Paz, mas de pacífico tem pouco e isto poderia ser facilmente demonstrado apenas lembrando a utilização dos drones: todavia estas armas, implementadas pelo ex Presidente Bush, substituem o uso maciço das tropas terrestres e a política de empenho directo nos cenários de guerra.

Obama escolheu um “baixo perfil” dos EUA durante a crise da Líbia: apesar da tecnologia americana ter sido fundamental para derrubar o Coronel Khadafi, a invasão foi obra das forças da Nato.

O Presidente apoiou a “Primavera Árabe”, cujos desenvolvimentos não são tão bem vindos em áreas importantes do establishment americano e israelita (é o caso da Irmandade Muçulmana no Egipto).

Pior ainda o caso da Síria: uma guerra que arrasta-se há dois anos e que vê os “rebeldes” armados pelo Ocidente não conseguir substituir o regime de Assad. E sabemos que a Síria é o corredor de entrada para o Irão, uma questão particularmente sensível na zona de Tel Avive.

Obama, portanto, tem conduzido uma política de forte ingerência em casa dos outros, em linha com o a tradição de Washington, mas sem conseguir resolver as questões de forma peremptória e definitiva. Uma espécie de “tigre de papel” , para retomar uma definição do pouco saudoso Mao. Normal pensar que esta atitude possa ter irritado a Direita americana e os líderes israelitas, dos quais conhecemos a capacidade de influência nos EUA. A tal propósito, não podemos esquecer que o já citado New York Times costuma ficar sim perto dos Democratas, mas também de Tel Avive.

Em conclusão, uma série de escândalos para derrubar um presidente pouco guerreiro? Provavelmente não. Em 2008, Obama foi literalmente empurrado para a Presidência quando os poderes fortes entenderam quanto desastrosa tinha sido a liderança do incapaz George W. Bush: era necessário recuperar um mínimo de prestígio e de credibilidade, e um candidato não branco, democrata e em odor de pacifismo foi a escolha óbvia.

Agora é provável estarmos perante dum sério aviso, sobretudo se tivermos em conta o próximo encontro de Obama com o chefe da República Popular Chinesa: há sectores da sociedade americana que não estão dispostos para mais concessões.

Desaparecida Hillary Clinton, verdadeiro “homem-forte” da Administração, Obama é mais fraco e os Republicanos podem concentrar-se nos trabalhos de casa: recuperar uma política exterior mais agressiva e preparar-se para a próxima corrida eleitoral.

Ipse dixit.