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2013: virar de esquina?

Quando o blog era bem mais jovem, costumava publicar com regularidade os relatórios GEAB (Global Europe Anticipation Bulletin).
Este é o boletim do Leap, um grupo de estudo, que tem como objectivo prever quais os desenvolvimentos económicos globais.

As “profecias” do GEAB muitas vezes tornaram-se factos, mas isso não esconde uma visão demasiado Euro-optimista que a realidade demonstrou não ter bases. Assim, as traduções do boletim deixaram de ter espaço no blog.

O último GEAB apresenta-se como particular: a previsão, neste caso, está relacionada com o segundo semestre de 2013, e vê um inevitável “crise sistémica global”, um cenário de transição entre “antes” e “depois”. E o “depois”, naturalmente, deve ser visto como a reconstrução económico-financeira global.

Um dos pontos-chave do documento reside nas mudanças que estão a ocorrer no âmbito do petróleo e dos petrodólares. A notícia mais importante é esta: em 2005, o consumo de petróleo dos Países emergentes superou aquela dos Países ocidentais. E hoje esse processo ainda continua, acompanhado pelo clima de desconfiança em relação ao Dólar, que é a principal moeda no comércio do ouro negro (mas não podemos esquecer os sinais controversos que chegam da China). Este facto terá consequências de longo alcance.

De acordo com os Leap2020, os problemas relacionados com o petróleo vão ter um forte impacto no “mundo após a crise” que esta organização prevê como iminente.

Outra questão que não pode ser ignorada é que o Leap, organização profundamente europeísta, vê muitas das medidas tomadas a nível europeu nos últimos tempos como uma “modernização”, idóneas para enfrentar os desafios do século XXI.

Não vale a pena falar do assunto nesta sede, mais importante é sublinhar que, mesmo na óptica de quem apoia o Euro, estas medidas não serão suficientes para lidar com os desenvolvimento que o mundo inteiro vai sofrer sob forma duma “tempestade que está prestes a chegar às moedas” (sempre aos olhos do Leap).
Primeiro entre todos, como evento desencadeador do “ponto de não regresso”, o colapso do Dólar. Este facto, que o Leap espera para o segundo semestre de 2013, será o elemento chave através do qual o mundo terá que reorganizar-se com “novas bases”, em primeiro lugar um “novo sistema monetário internacional”.

Se o Leap vê nisso um momento desejável (pontos de vista), o que importa é determinar as datas. Sempre segundo o boletim, o G20 (a reunião das 19 economias mais fortes do planeta mais a União Europeia) do próximo Setembro “terá lugar no meio da tempestade, porque terá já havido grandes medos acerca do Dólar”, medos previstos para o período de Março-Junho de 2013.

O boletim afirma que “somos testemunhas dos últimos dias de petrodólares, que são o elemento chave da dominação dos EUA”.

E os sinais deste fim parecem claros: guerras monetárias em acto; índices nacionais dos Estados Unidos; Cliff Fiscal adiado (próxima data: Maio de 2013), diminuição do PIB e de recaída dos EUA na recessão no final de Abril, subida da agitação social.

O relatório conclui que a mesma situação será experimentada por vários Países, e que o cenário previsto é aquele duma crise “estilo islandês”: já não salvar os bancos mas deixá-los falir.

Vamos ver.

O boletim GEAB até hoje não foi de confiança quando o assunto forem as datas e não é a primeira vez que começa a gritar anunciando a crise sistémica global. Que pontualmente não acontece (não nos termos descritos).
Mas costuma acertar nas dinâmicas macro, apesar do pequeno pormenor segundo o qual o Euro foi a melhor invenção da Humanidade após a roda enquanto as outras moedas são todas destinadas a falir.

Do meu ponto de vista, o Leap continua a cometer um erro (que explica as previsões erradas no passado também): vê o desenrolar-se dos acontecimentos como um percurso “por etapas”, enquanto a realidade evolui de forma lenta e com “golpes de cauda” que parecem tornar a situação mais estável e controlada.

Depois, muitas vezes de forma não prevista (dado o enorme número das variáveis em jogo), algo acontece e mais um degrau é descido.

Ipse dixit.

Fontes: Leap 2020