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O Banco Mundial – Parte II: o BIS

A sede do BIS

No dia 23 de Dezembro de 2010, no blog tinha sido publicado um artigo com o título: O Banco Mundial – Parte I, que assim fechava: “Acaba aqui a  primeira parte do artigo. Em breve a segunda”.

“Em breve” significa hoje, dois anos depois.
Sim, ok, sou pessoa um pouco distraída, problemas com isso? Olha só, nunca satisfeitos…

Bom, dizia: a primeira parte do artigo analisava o percurso histórico do Banco, enquanto hoje vamos ver as coisas do outro ponto de vista.
A razão é um artigo do Wall Street Journal, que bem conhece os bastidores da finança e que de certeza não pode ser considerado como um diário “conspirador”.

Conta o Wall Street Journal:

A cada dois meses, mais de uma dúzia de banqueiros se encontram aqui, no
domingo à noite, para conversar e jantar no 18 º andar de um edifício
cilíndrico, com vista para o Reno [reuniões em Basileia, na Suíça, ndt].

As discussões durante o jantar,
sobre o dinheiro e a economia, são mais do que académicas. Na mesa há os
chefes dos principais bancos centrais de todo o mundo, representando os
países que produzem anualmente mais de 51 triliões de dólares de produto
interno bruto, três quartos da produção económica mundial.

Mister King, do Banco da Inglaterra, lidera as discussões durante o jantar numa sala decorada pelo estúdio de arquitectos suíço Herzog & de Meuron,
que projetou o estádio “Ninho de Pássaro” para a Olimpíada de Pequim.
Os homens têm assentos reservados numa mesa redonda, numa sala
perfumada com orquídeas brancas e emoldurada por paredes brancas, tecto
preto e vista panorâmica.

Argumentos sérios alternam-se com aperitivos, vinho e conversa, de acordo
com pessoas que estão familiarizadas com esses jantares. Mr.King geralmente pede aos
seus colegas para falar sobre as perspectivas nos países deles. Outros
fazem perguntas. As reuniões não produzem transcrições ou relatórios.
Nenhum membro do pessoal de serviço é admitido. 

De facto, nenhuma das pessoas está ai para socializar, as razões são outras. Falamos duma organização internacional imensamente poderosa, acerca da qual a maioria das pessoas pouco ou até nada sabe. São eles, os presidentes dos maiores bancos centrais mundiais, que controlam o fluxo do dinheiro. De todo o dinheiro.

É este o Banco Mundial? Não, este é o Banco de Compensações Internacionais (BIS, do inglês Bank for International Settlements), o Banco Mundial dos Bancos Centrais. Pois os senhores sentados com vista sobre o rio Reno (mas têm filiais em Hong Kong e na Cidade do México) são os presidentes dos 60 bancos centrais mais importantes do planeta (inclusive Portugal, Brasil, China, Estados Unidos, França, Italia, israel, Alemanha, Índia, Reino Unido, Rússia, Banco Central Europeu….).

Os Países membros do BIS

Quando comparado com o Banco Mundial “normal”, o BIS apresenta algumas diferenças:

  • O BSI é uma sociedade de capital privado, com sede legal em Basileia (Suíça). O Bancos dos Bancos Centrais é uma sociedade privada??? Claro que sim: se os Bancos Centrais nacionais (a maioria deles) forem privados (algo repetido até a exaustão neste blog), porque carga d’agua a principal organização deles deveria ser pública?
  • O elenco dos accionistas não é público: sabe-se apenas que entre os donos da sociedade aprecem os Bancos Centrais da Bélgica, da França, da Alemanha, do Reino Unido, da Italia e dos Estados Unidos.
  • O capital social é constituído por 3 biliões de Dólares, composto por 600.000 acções sem direito de voto, transferíveis apenas após autorização do instituto. As acções conferem participação aos úteis.
  • O Conselho Directivo decide por maioria, mesmo sem unanimidade.
  • O BIS não emite moeda nem empresta dinheiro.
  • O BIS e os dependentes deles gozam de imunidade de jurisdição, tal como os bens da organização.
  • O BIS tem total isenção de impostos.
  • E, obviamente, o BIS não responde a nada ou a ninguém.  

É esta uma das sociedade cujas decisões afectam a vida de todas as outras no planeta. E os membros não são eleitos, são simplesmente escolhidos e participam em reuniões secretas das quais ninguém sabe nada.

Mas por conta de quem trabalha o BIS? Ora bem, nesta altura é possível libertar as rédeas da fantasia, cada um está livre de escolher os nomes dos verdadeiros donos. O que interessa aqui são as decisões que a instituição toma.

Fundado em 1929, durante a Segunda Guerra Mundial o BIS reciclava o dinheiro e o ouro dos nazistas; depois, uma vez acabado o conflito, por muitos anos manteve um perfil baixo, operando nos bastidores.

Foi aqui que foram tomadas importantes decisões, como desvalorizar ou defender moedas, fixar o preço do ouro, regular as operações bancárias offshore, aumentar ou diminuir as taxas de juros no curto prazo.
Em 1977, contudo, o BIS abandonou o anonimato em troca duma sede e dum papel ainda mais eficiente. O novo edifício é um arranha-céu circular de 18 andares com uma longa história, que se eleva acima da cidade medieval. Logo tornou-se conhecido como a “Torre de Basileia”.

Os tempos tinham mudados, o BIS estava nas condições de ganhar notoriedade (uma relativa notoriedade), reclamar a própria total independência e até constituir uma sua própria força policial privada.

É na sede do BIS que tem lugar o fórum Global Economy Meeting (GEM): a maioria das pessoas nunca ouviu falar do GEM, mas ao longo dos últimos anos este fórum já recebeu 31
governadores dos bancos centrais como membros permanentes, além de uma série de outros
governadores presentes em rotação. É, de facto, o grupo mais importante para a gestão global entre os
bancos centrais.

Mas voltemos ao BIS: o que faz em concreto esta organização?

Um artigo publicado em InvestorsInsight explica como o BIS alcança a “estabilidade monetária e financeira”:

Escritórios do BIS na Suíça

Isto é conseguido através do controlo da moeda. Actualmente, detém 7% dos fundos de câmbio disponíveis no mundo, cuja unidade de conta foi convertida em Março de 2003 do Franco Suíço para os Direitos Especiais de Levantamento, um “dinheiro” fiat artificiais, com um valor baseado num conjunto de moedas (44% de Dólares dos EUA, 34% de Euros, 11% de Yen japonês, 11% de Libra Esterlina).

O banco também controla uma grande quantidade de ouro, que guarda e empresta utilizando o grande poder de alavancagem no preço do ouro, sendo o ouro ainda a única moeda universal. As reservas de ouro do BIS foram avaliadas no relatório anual de 2005 em 712 toneladas. Como esta quantia esteja repartida entre depósitos dos bancos membros e reservas do BIS não é conhecido.

Ao controlar os câmbios da moedas e o ouro, o BIS pode fazer muito para determinar as condições económicas dum determinado país. Lembrem-se disso da próxima vez que a Federal Reserve ou o presidente do Banco Central Europeu anunciarem um aumento nas taxas de juros. Podem apostar que não aconteceu sem o “conselho” do BIS.

Ainda dúvidas acerca do poder dos bancos centrais e da organização deles, o BIS?
CNBC:

“Quando termos em conta todos os bancos centrais do mundo, chega-se a mais de 9.000 mil milhões de dólares”, afirma Marc Doss, gestor regional de investimentos da Wells Fargo Private Bank, “É como criar a segunda maior economia do mundo a partir do nada”.
Na verdade, a dos bancos centrais tornou-se uma economia em si mesmo, um império de vários bilhões de dólares que massaja e manipula os mercados.

Portanto, é um esquema piramidal, no base do qual encontramos os Estados (nós) que precisam de dinheiro; no nível acima, os bancos privados; acima, os bancos centrais; mais acima ainda, o BIS.
Para que a coisa fique ainda mais clara: nós, acima os bancos privados, mais acima os bancos privados controlados por privados, mais acima ainda o BIS, o banco dos bancos centrais, privado também.

O futuro?
O futuro já começou: em Março de 2003, como lembrado, o BIS abandonou o Franco Suíço para adoptar uma nova unidade de conta, o Direito Especial de Levantamento, um “dinheiro” artificial baseado em outras moedas. Segundo alguns, o precursor do dinheiro global.

Assim: o Banco Mundial é importante? Sim, até conhecer o BIS…

(Nota final: fica um pouco mais claro, agora, como é que os “grandes inimigos” da Humanidade são aqueles Países com um banco central realmente independente? Iraque, Irão, Líbia, Venezuela…)

Ipse dixit.

Fontes: Wall Street Journal, InvestorsInsight, CNBC, Wikipedia (versão inglesa), Bank for International Settlements
Imagens: Wikipedia