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Bolhas

JPMorgan perdeu mais de 2 biliões de Dólares devido a apostas especulativas. Tudo em seis semanas. Não é simples perder mais de 2 biliões em pouco mais de um mês, mas JPMorgan conseguiu.

Podemos pensar num problema deles, afinal é um banco privado. Mas não é bem assim. JPMorgan faz parte do restrito grupo dos Too Big To Fail, os demasiado grandes para falir.
E se forem demasiado grandes para falir, isso significa que em caso de problemas será encontrado o dinheiro para o resgate. Dinheiro público, dos contribuintes, claro.

Só que este dinheiro público tem dois efeitos:

  1. salva o banco em situações complicadas (depois)
  2. permite que os administradores da empresa façam apostas arriscadas com a máxima descontracção (antes).

Porque, em caso de “acidentes de percurso”, haverá sempre o ponto 1.
A desinchação de Too Big To Fail torna-se então uma espécie de autorização para perpetrar as operações mais arriscadas.

As coisas correram mal? Paciência. Sim, haverá títulos dos jornais, uma investigação governamental, se calhar será preciso demitir alguns responsáveis de pequeno calibre: mas depois?
Os ganhos que o mercado dos derivativos pode trazer compensam.

Porque é disso que estamos a falar, mais uma vez: derivativos.

Diz o presidente Obama:

Ainda não se conhecem todos os detalhes. Poderíamos ter tido um banco menos sólido […] que tivesse tido as
mesmas perdas e teríamos, talvez, de intervir. É por isto que a reforma
de Wall Street é importante.

Simpático Obama. Já passaram 4 anos desde o início da crise, os bancos continuam a actuar exactamente como antes porque nada foi feito e ele afirma com um candor celestial que a reforma é “importante”. Qual reforma?

Todavia aqui interessa outra questão. A coisa divertida é que, entre os principais bancos de investimento, JPMorgan é considerado um dos mais “seguros” (com aspas, porque estamos sempre a falar dum mercado onde não existem regras), pouco acostumado ao risco.

Então como é que um banco “pouco acostumado ao risco” consegue perder 2 biliões de Dólares?
Nas páginas da CNBC é disponível, em língua inglesa, uma explicação um pouco mais técnica de como as coisas evolveram. Mas o resumo é simples: apostas arriscadas, apostas erradas. E perdas que poderiam ainda não ter acabado.

Já foi anunciada uma investigação. Cujas conclusões podemos já antecipar:

  • JPMorgan perdeu 2 biliões de Dólares
  • JPMorgan arriscou demais
  • Acontece.

Isso porque a maioria das pessoas nem sabe o que se passa, nem sabe o que é um derivativo. E nem imagina as implicações deste sector do mercado.

Os principais bancos de investimentos têm exposições gigantescas em termos de derivativos:    

  • JPMorgan Chase: 70.100.000.000.000 Dólares
  • Citibank: 52.100.000.000.000 Dólares
  • Bank of America: 50.100.000.000.000 Dólares
  • Goldman Sachs: 44.200.000.000.000 Dólares

No total, os principais 9 bancos dos Estados Unidos têm uma exposição de 200 triliões de Dólares. Cerca de 3 vezes o tamanho de toda a economia mundial.

Isso significa que, afinal, uma perda de 2 biliões de Dólares é como ter deixado na mesa o troco para o empregado.

Mas significa também outra coisa: significa que é muito difícil entender o tamanho desta bolha especulativa. E significa que nem podemos imaginar as consequências da explosão desta bolha. Porque é assim: as bolhas rebentam, cedo ou tarde.

A bolha dos derivativos tem o potencial para arrasar as fundações do sistema financeiro mundial.
Por isso, as perdas da JPMorgan são apenas um aperitivo. O prato principal é que será bombástico. Um bocado pesado, se calhar, mas de grande efeito, não tenham duvidas.

Ipse dixit.

Fontes: CNN, CNBC, The Economic Collapse