Ok, falemos de comida.
Mas este deveria ser um blog de geopolítica e economia. Então mudo: geopolítica, economia e culinária. E no futuro: vida e obras das formigas vermelhas.
Tá bom, se calhar nada de formigas vermelhas. Mas espreitar no prato não é mal: afinal é por aí que passa a nossa comida e sabemos que com os alimentos introduzimos no nosso organismo várias substâncias. Algumas fazem bem, outras nem por isso.
Sem falar de assuntos empenhados como o Codex Alimentarius, vamos observar alguns produtos e meditar.
Prontos? Ok, meditemos.
O caso clássico: a pseudo-comida do McDonald´s.
Todos sabemos que as refeições servidas na mais conhecida cadeia de fast-food são uma porcaria. Mesmo assim, entrem num centro comercial e observem: qual a fila mais comprida? Aquela do McDonald´s.
Agora observem os preços. Em Portugal, por exemplo, o Menu Happy Meal (vocacionado para as crianças) custa 3,25 Euros. Inclui: um cheesburger (sal), batatas fritas pequenas (gorduras, sal) e um refrigerante (açúcar). Eis que com apenas 3,25 Euros teremos subministrado à criatura uma bomba calórica, pouco nutriente, insuficiente e prejudicial do ponto de vista da alimentação.
Isso sem contar que uma vez acabado o Happy Meal a criatura terá ainda fome, ou pensemos que um organismo em plena fase de crescimento poderá ficar satisfeito com um pouco de sal, de açúcar e gorduras? A verdura, por exemplo? Não será que querem considerar como “verdura” aquela fatiazinha de pepino cadavérico, não é? E a fruta?
Com metade do preço é possível entrar num café qualquer e comer um “prego”, isso é, uma fatia de carne de vaca quente no pão. Ou uma bifana (com carne de porco). Uma sopa custa pouco mais de 1 Euro. Uma salada fresca, mesmo bem recheada, dificilmente chega aos 3 Euros.
A criança prefere o cheesburger? Então os pais deveriam explicar que nem sempre o que sabe bem faz bem. A criança não fica convencida e faz birras? Então fica sem comida ao longo de três dias, fechada num quarto sem luz, ao frio, sem roupa e com as músicas de Roberto Leal a tocar, depois vamos ver se come a sopa. Excessivo? Ok, retirem as músicas de Roberto Leal.
Mas além destes que são princípios básicos, que todos deveriam conhecer, há mais.
A comida feita de hamburger, batatas fritas e refrigerantes cria uma dependência parecida com aquela da nicotina e das drogas. Parece inacreditável, não é?
Mas a pesquisa é séria, até merecer a publicação na conceituada revista Nature Neuroscience. Os autores, Paul Johnson e Paul Kenny, do Scripp Institute (Flórida), revelam os mecanismos que originam os vínculos de dependência e até crises de abstinência.
Como acontece na dependência do fumo, também naquela da lixo-comida há o enfraquecimento dos mecanismos da recompensa que, em condições normais, funcionam ao viver uma experiência agradável.
As cobaias utilizadas foram postas perante pratos de bacon, salsichas, doces e chocolate. As cobaias são animais pequenos mas não estúpidos, pelo que começaram a comer e festejar. Só que, com o passar do tempo, sempre com a mesma dieta, o mecanismo de recompensa começou a funcionar cada vez menos: a comida tinha-se tornado um vício.
Problema: as cobaias não tinham vontade nenhuma de mudar de dieta e ficavam enervadas em presença de alimentos diferentes (e as cobaias enervadas são aterradoras).
Então os pesquisadores associaram a comida de hipermercado a uma dor numa das patas. Cada vez que uma luz ficava ligada, as cobaias sabiam que poderiam ter comido, mas isso teria implicado a dor na pata.
As cobaias normais diziam “Não, obrigado, hoje não tenho fome, aliás, acho que vou dar uma volta que o tempo é bom”. As cobaias gordas, já viciadas, comiam na mesma (e provavelmente acusavam a companhia eléctrica de conspiração).
Mas falar mal do McDonald´s é como atirar contra a Cruz Vermelha: demasiado simples.
Por isso, nos próximos episódios: açúcar, farinha, leite, água, fluoreto de sódio, kebab (a propósito: comem kebab fora da Europa?)
Ipse dixit.