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O encantado mundo de Juncker

Jean-Claude Juncker, apesar de ter nome de caça da Luftwaffe, até tem cara quase simpática.

Depois descobrimos que é o Presidente do Eurogrupo e a simpatia cala.
Depois abre boca é fica claro que o simpático Jean-Claude é outro dos alucinados do grupo das Mentes Pensantes, com todas as limitações que isso implica.

Contrariamente à concepção que atravessa o continente europeu, o euro não está em crise. Fico furioso quando ouço dizer isso.

E tem razão. Claro, depende dos pontos de vista.
Se o nosso objectivo for a destruição dos Estados europeus, o empobrecimento dos cidadãos e a perda da liberdade, então torna-se evidente o estrondoso sucesso do Euro, só um louco poderia negar isso.

Transmitimos a impressão de termos fracassado em toda a linha, de não sabermos para onde vamos, mas a razão para esta amargura que muitos europeus têm em relação ao euro decorre do facto de não estarmos orgulhosos do que conseguimos alcançar.

Amargura dos Europeus? E por qual carga de água? O que é que não funciona?
Tudo procede segundo os planos, não há razões para amarguras: os ordenados baixam, o desemprego não desce, encontrar trabalho é um sonho, a retoma não chega, a produtividade é ridícula, o futuro é no mínimo incerto, os governos caem, há Países falidos, outros irão falir.
Mas além disso, tudo bem, ora essa.

Juncker realça como um dos maiores feitos foi precisamente a criação da moeda única:

Ninguém acreditava que fossemos capazes de o fazer, incluindo vários países europeus.

Dito de outra forma: temos de estar felizes com o Euro porque o Euro existe. Que como razão não é mal. É um pouco como dizer “Estou feliz por ter partido a perna porque ninguém acreditava que eu fosse capaz disso”. Tem uma sua lógica de fundo. Um pouco contorcida se calhar, mas tem.

O Primeiro-Ministro luxemburguês recorda que, nos anos 80 e 90, a inflação na Europa chegava aos 12%. Um horror. Melhor agora que os ordenados não perdem valor por causa da inflação, são reduzidos directamente no final do mês.

Do mesmo modo, desde que surgiu a moeda única, a economia europeia criou 14 milhões de empregos, o que compara com os 9 milhões criados nos EUA.
Alguém poderia dizer: e de quanto aumentaram os desempregados? Mas deixem, não estragamos o mundo encantado no qual parece conduzir a própria existência o simpático Juncker. Que assim concluiu:

Não é correcto dizer que a zona euro se encontra num epicentro de uma crise mundial

O que é verdade: o Euro não está num epicentro, está no fundo dum poço. O que não é mal, pois como diria Juncker: aqui não arriscamos queimar a pele e temos água em abundância.

Pontos de vista, como sempre.

Ipse dixit.

Fonte: Público