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Ratazanas

Blog fechado hoje e amanhã em sinal de luto.

A minha cidade, Genova, foi atingida por violentas chuvas que causaram a morte de várias pessoas, entre as quais duas crianças. Na verdade afirmar que as chuvas provocaram as mortes é incorrecto: a chuva não mata, a estupidez do Homem sim.

Estes dois dias de luto não são um protesto. Pelo contrário, são uma forma para eu lembrar.
Lembrar que podemos analisar, discutir, avaliar: mas afinal os culpados não estão longe de nós, os culpados somos nós.

Quando votamos estas ratazanas porque “estes sim fazem o que deve ser feito”.
Quando votamos estas ratazanas porque “assim sempre fiz”.
Quando votamos estas ratazanas porque “alguém temos que escolher”.
Quando votamos estas ratazanas porque “estas são coisas complicadas, não quero meter-me nisso”.
Quando votamos estas ratazanas porque “os outros são piores”.
Quando votamos estas ratazanas porque “prometeram uma ajuda”
Quando votamos estas ratazanas porque “são do meu partido”.
Quando votamos e deixamos que tudo isso aconteça, então somos culpados: estas ratazanas de esgoto só aproveitam a nossa passividade.

Inútil procurar álibis e desculpas. Até quando não seremos capazes de reconhecer as nossas responsabilidades, nada poderá ser feito e nada mudará.
E não é uma tentativa de encontrar conforto na auto-comiseração: as ratazanas estão aí porque alguém decidiu que aí ficassem.

Eu não votei na altura? Que importa? Limitar-se a deixar fazer para poder depois afirmar “mas eu não fui cúmplice” não pode ser a solução e não funciona como desculpa.

Vivemos numa época em que escolhemos não ser Homens. Mas isso tem um custo.
O custo é também os morros que ruem no Brasil; a banda de criminosos que destroem Portugal; as centrais nucleares construídas por cima de falhas sísmicas; a Presidente da Câmara que chora as vítimas depois de não ter mexido um dedo para evitar a tragédia.

E nós aqui, a olhar, como se fosse sempre culpa dos “outros”.

Não é tempo de Homens.

Ipse dixit.