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Elenin, Nibiru e a genialidade da contra-informação

Este post não é dedicado a todos os que já perceberam a linha do blog (e que são muitos pelos vistos, ainda bem).

É dedicado a todas as pessoas que passam o dia na pesquisa das últimas notícias acerca do fim do mundo, que esperam uma invasão alienígena, que procuram consolação (?) nas palavras catastrofistas de blogueiros cujo objectivo é apenas aumentar o número das visitas.


Olá pessoal!

Como sempre, um post acerca do catastrofismo desperta paixão e atenções.
Vice-versa, um post acerca da realidade (ver o caso da Nova Ordem Mundial, da Grécia ou de Krugman) passa em segundo plano.

É normal, também Hollywood quando quer colectar alguns Dólares prepara um filme com grandes efeitos especiais e destruições em massa.
Porque um filme acerca da realidade teria bem pouco sucesso, seria algo de bastante aborrecido.

Mas nós não estamos em Hollywood: aqui falamos da vida, das nossas vidas. Falamos das pessoas e das instituições que regulamentam a nossa vida, escolheram o nosso passado, escrevem o presente e projectam o futuro.

Então pergunto: vamos crescer ou não?
Porque a questão é esta: ou damos um salto para a frente ou ficamos atordoados num mundo que não existe.

Dar um salto para a frente significa tomar consciência de que Elenin, Nibiru e companhia (mas há mais do que isso) podem ser assuntos fascinantes, sem dúvida, mas não passam de …pois, de quê? De fantasias.

Isso mesmo: fantasias criadas para atingir vários fins.

Como o dinheiro, por exemplo. Pois vender livros e dvd rende, e bem.

Ou fantasias para aumentar o número de visitas do próprio blog.
E se no blog houver também publicidade, junta-se “fama” (por assim dizer) e um pouco de dinheiro (não muito, com a publicidade nos blogues ninguém fica rico).

Não são apenas fantasias?
Ok, então pergunto: mas alguém entre vocês alguma vez viu Nibiru? Ou Elenin?

Os vídeo no Youtube? Mas estamos a brincar? Quem sabe reconhecer um vídeo adulterado dum vídeo original? Quantos deles são falsos clamorosos?

Pelo contrário, todos podemos ver (e vemos) o desemprego, um mundo onde a injustiça não é perseguida, onde as coisas não funcionam como deveriam, onde muitos sofrem e um restrito círculo de pessoas gozam de benefícios que o comum mortal nem consegue imaginar.

Percebo que muitos, perante um tal cenário, possam preferir fechar os olhos ou olhar para algo de longínquo, de irreal. Tal como o conto de Elenin. É, de facto, uma maneira simples para esquecer a crua realidade.
Mas é uma realidade que não desaparece, continua aí, perto de nós, sempre, inexoravelmente.

Elenin passará, mas a vossa/nossa condição ficará na mesma.

Imaginem se a raiva, o desaponto que conseguem mostrar nos vossos comentários fossem dirigidos contra os verdadeiros alvos. Não seria melhor?
Mas quantos que aqui escrevem para criticar e ofender alguma vez pegaram numa caneta ou no teclado para protestar contra as más decisões do próprio governo?

Pessoalmente deveria ficar lisonjeado: “olha, aos olhos destas pessoas sou mais importante da Dilma!”
Mas sei que não é assim, as razões são outras.

O problema é que a vossa atitude causa prejuízo: como escrevi no post A morte da informação alternativa, é por causa de assuntos fantasiosos como Elenin, por exemplo, que o mundo da informação alternativa vegeta num estado miserável. E ninguém o leva à sério.

Não seria mais correcto culpar os autores dos blogues “catastrofistas”? Não, não acho.

Internet pode ser imaginado como um grande mercado, onde cada um expõe a própria mercadoria (as ideias): de quem a culpa se mercadoria de fraca qualidade é bem vendida? De quem vende ou de quem compra?

Para responder é preciso considerar que no mesmo mercado há também mercadoria de nível superior, sempre ao mesmo preço.

Se ninguém ou poucos comprassem a mercadoria de fraca qualidade, os vendedores ficariam fartos de gastar o próprio tempo e desapareceriam. Ou começariam a vender mercadoria melhor, o que seria ainda melhor.

Depois há os casos mais graves, nos quais as pessoas realmente acreditam neste género de coisas (Elenin, Nibiru, etc.); que já não são um mero passatempo mas tornam-se realidade aos olhos dos desinformados.

É difícil falar com estas pessoas. A única coisa que posso dizer é o seguinte: olhem para os vossos dados, vejam quais são as fontes, tentem usar o vosso cérebro de forma crítica.

No post Elenin, o cometa assassino podem encontrar perguntas, respostas, dados.
Ninguém entre todos os que pensaram bem comentar para apoiar a própria convicção (de forma mais ou menos educada) pensou fazer uma coisa extremamente simples: contradizer as minhas afirmações com outras perguntas, outras respostas, sobretudo outros dados. O máximo que conseguiram fazer foram insultos.

Exemplo: estão convencidos de que Elenin seja a causa dos terramotos? Alguém importa-se de iluminar-me e explicar como? A gravitação? O magnetismo? Uma deformação espaço-temporal? Ou quê?
É apenas uma explicação, não me parece pedir muito.

Mas ninguém explica. Querem saber qual a razão? É uma razão simples: quem acredita em Elenin (mas não só) limita-se a acreditar em coisas que lhe foram ditas. Não existe pesquisa, não existe critica, uma pessoa lê no blog tal que Elenin provoca terramotos então começa a repetir que Elenin provoca terramotos.
No máximo a pesquisa é feita nos links indicados pelo mesmo blog. Que, olha o acaso, confirmam a versão do blog.

Não sei se repararam, mas é a mesma coisa que acontece ao ver a televisão: quantos olham para a tv e acreditam? Não é esta uma atitude que vocês querem combater?

Se alguém, em boa fé, pode trazer para este blog provas que demonstrem a perigosidade do cometa, a existência dos alienígenas malvados ou do planeta deles, prometo dar espaço, sem censura.

Se, mesmo assim, continuam a acreditar, então boa sorte, mais não posso dizer nem fazer.
Neste blog não defendo nem a verdade oficial nem a ciência oficial, longe disso. Mas há uma fronteira entre a realidade e a fantasia e às vezes pode não ser fácil reconhece-la.
Eu mesmo, perante teorias muito mais “terrenas”, às vezes paro e questiono-me: fazem sentido? Podem ser reais? Ou estamos perante a enésima manobra de contra-informação (que existe e adora Elenin, tal como Nibiru)?

Mas é uma pena. Além da questão ligada aos estragos da informação alternativa, há também o desperdício de recursos. Pois pessoas capazes de procurar além do óbvio, empregam a própria energia em assuntos vazios.
Sim, verdade que afinal cada um é livre de acreditar naquilo que mais gosta, sem dúvida. Mas é como comprar um Ferrari só para ir ao supermercado.

Doutro lado, não é este o fim último? Manter as mentes ocupadas com algo de inexistente, longe dos problemas reais. É por isso que existe a televisão, os media de regime e os contos de fantasia. Evitar que as pessoas tomem consciência da realidade e fiquem entretidas com inutilidades.

Não posso não realçar a suprema ironia de quem preparou isso: manter as mentes longe dos culpados com a ideia de atacar os mesmos culpados.
Genial. Falo a sério, acho esta técnica bem inteligente.

Vou continuar a seguir o “caso Elenin” até o fim, e sempre com o meu estilo.
Falta pouco, é só até os meados de Outubro. Depois basta, pois há coisas bem mais importantes das quais falar.
Mas não deixo Elenin, porque espero que alguém, no fim, possa ter a vontade de reflectir. É este o objectivo, nada mais: se uma pessoa, mesmo que seja só uma, tiver a coragem de pensar em quanto lido ao longo destes meses e perceber que as “verdades” (que eu não conheço) ficam noutros lugares, então isso será um sucesso nada secundário. Porque será uma outra pessoa que pode investir o próprio tempo na tentativa de perceber um mundo que não é como deveria ser.

Quem ficar incomodado ou até ofendido com quanto escrevo, tem uma solução rápida e sem dor: não ler este blog. Há muitos outros, leituras não faltam. E continuo com a minha ideia: há já muitos “lobos maus”, bem reais, não é preciso inventar outros.

Ipse dixit.