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O dinheiro dos Maus

Não sei alguém entre os leitores pode lembrar disso, mas há uma guerra na Líbia.

É que as notícias acerca do conflito continuam a perder posições nas primeiras paginas dos jornais: começaram com ocupar o topo, com fotografias e grandes títulos, depois iniciou uma lenta e inexorável descida.

Hoje na página online do diário Público, por exemplo, nem há sinais da guerra.

Para compensar, podem encontrar a notícia segundo a qual pela primeira vez está em exposição uma carta de Adolf Hitler com o desejo de exterminar os judeus. Um documento indispensável para entender a realidade económica e social do mundo em que vivemos.

Voltamos ao discurso da Líbia.
Até poucos meses atrás, Khadafi não era o novo Senhor do Mal. Pelo contrário, era um fulano simpático com o qual fazer negócios era um prazer.

Na Líbia tinha sido criado o Fundo Soberano da Líbia em Junho de 2007, com um património de 40 mil milhões de Dólares. E pouco antes da guerra, o Fundo tinha alcançado os 70 mil milhões de Dólares.

Quem tinha ajudado em melhorar as prestações do Fundo?
Em França, a mesma França que foi uma das primeiras a intervir nesta guerra “humanitária”, era a Societé Générale que cuidava dos investimentos líbios: 1,8 mil milhões de Dólares em três produtos “estruturados”.

E nos Estados Unidos? Aqui os nomes são bem conhecidos: Goldman Sachs diz algo?

Desde Janeiro até Junho de 2008, o fundo depositou 1,3 mil milhões de Dólares nas caixas do bancos americano.

E aqui a situação torna-se divertida: porque em Fevereiro de 2010, deste depósito sobravam apenas 25,1 milhões. E o resto? Desaparecido. O 98% do montante dado ao banco simplesmente evaporou.

Não é a primeira vez que isso acontece, ao longo da crise financeira começada em 2008 outras empresas sofreram o mesmo destino: AIG, General Motors, Lehman Brothers, Fannie Mae e Freddie Mac, todos viram o próprio dinheiro eclipsar-se. Mas no caso de fundos de investimento soberanos este é um recorde.

Mas Societé Générale e Goldman Sachs não foram os únicos a entrar em negócios com a família Khadafi. O Fundo Soberano da Líbia contactou outros operadores para investir um total de 150 mil milhões de Dólares com a ajuda de JP Morgan (que não poderia faltar), Lehman, HSBC e grupos privados de equity (um tipo de actividade financeira realizada por instituições que investem essencialmente em empresas que ainda não são listadas na bolsa de valores, com o objectivo de alavancar o seu desenvolvimento) como Carlyle e Och-Ziff.

A primeira das reuniões entre Fundo e bancos aconteceu na City londrina, entre emissários líbios e o banco liderado por Lloyd Blankfein, a Goldman Sachs.

Neste primeiro encontro não faltaram nomes importantes:
Michael Sherwood, gestor da Goldman Sachs europeia;
Driss Ben-Brahim, um número da divisão para os mercados emergentes
Kabbai Youssef, líder do sector Goldman Sachs para o sector norte-Africano.

E o negócio começou bem: após um primeiro investimento de 350 milhões de Dólares (Janeiro de 2008), o montante aumentou até 1,3 mil milhões para operações que incluíram acções da Citigroup, Banco Santander, Allianz e EDF (Électricité de France).

Em Agosto de 2008, um mês antes do crack do banco Lehman Brothers, o Fundo tinha perdido quase todos os investimentos feitos com a ajuda da Goldman Sachs; coisa que a família Khadafi não apreciou particularmente.

As discussões em Tripoli foram realizadas em circunstâncias tão delicadas que Goldman teve que enviar pessoal da própria segurança para garantir o regresso dos seus agentes.

Sucessivamente, Lloyd Blankfein e o diretor financeiro David Viniar tentaram compensar as perdas dos Líbios.

Como?
Mistério…

Mas na altura uma solução terá sido encontrada.
Porque Khadafi era bom, e o seu dinheiro era ainda melhor.

Ipse dixit.

Fontes: Público, Wall Street Italia, Wall Street Journal