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Faltavam os Ufo agora…

Vamos enfrentar um assunto “escabroso”?
Um argumento que nem deveria encontrar espaço num blog sério?
Algo que assusta grandes e pequenos?
Vamos.

O assunto é: UFO!!!

Minhanossasenhoradailhadocabodesãovicente! Mas este é um assunto ridículo!!! Este é um blog de geopolítica, economia, não de fofocas!

“Palhaço!”

Pois.
O argumento discos voadores é algo de totalmente desacreditado. E não importa o que dizem as associações de adeptos, os blogues da irmandade cósmica e outros ainda: para a maioria das pessoas, os Ufo são uma anedota ou pouco mais.

E este post não é dedicado a quem já acredita no tal fenómeno, pois aqui não encontrará nada de novo. Aliás, vai achar isso amplamente incompleto e pode não concordar com muitas das afirmações. De facto, vou tentar abordar o assunto do ponto de vista “racional”.

É possível falar de Ufo de forma racional? Sim, é possível. Mais: é um dever. Caso contrário, acabamos por cair na armadilha em que muitos, mesmo em boa fé, acabam por tropeçar.

Algo acerca do meu ponto de vista pode ser encontrado neste velho post. Mas disso vamos falar depois. Agora reflectimos.

O Homem vê fenómenos estranhos no céu desde sempre. O relâmpago era algo de incompreensível e assim permaneceu ao longo de séculos. Com o tempo muitos destes acontecimentos obtiveram uma explicação científica: hoje sabemos que o relâmpago não é a manifestação dum Deus enervado, mas um mero fenómeno físico.

Pergunta: todos os fenómenos do céu têm uma explicação? Resposta: não. A ciência oficial gostaria de responder que sim, e de facto tenta espalhar esta visão. Mas assim não é. O mesmo relâmpago tem ainda lados obscuros, não desvendados.

Sabia o leitor que o relâmpago atinge o para-raios mas que do para-raios partem relâmpagos em direcção ao céu também? Esta é apenas a última das descobertas, ainda sem explicação.

Tudo bem, mas afirmar que o relâmpago ainda tem mistérios não significa que os Ufo existam. Claro que não. Mas nunca temos de esquecer que, tal como a nossa ciência é o ponto de chegada de séculos de experiências, da mesma forma é o ponto de partida da ciência de amanhã.

Tal como há uma ciência do século XXI, haverá uma ciência dos séculos XXII, XXIII, XXIV (o leitor pode continuar)…
Mas é importante assumir que não sabemos tudo.

O Homem, como afirmado, vê coisas esquisitas no Céu desde sempre. Algumas observações podem ser explicadas hoje com o conhecimento moderno. Todas?

Ufo no passado: os artistas

Uma das áreas de grande sucesso da ufologia (a ciência que estuda o fenómeno Ufo) é a procura de “provas ufológicas” na arte do passado. É um território minado, onde é facílimo escrever disparates.
Por exemplo, observem esta imagem:

Este é um caso clássico. Trata-se de Scene di vita eremitica, também conhecido como La Tebaide, di Paolo Uccello, do ano 1460.
Ao isolar e aumentar a área do quadrado amarelo, podemos encontrar um objecto vermelho que muitos identificam como um Ufo.

Na verdade, uma observação mais cuidada revela outros pormenores e fornece uma explicação que não tem nada de “anormal”:

O “disco voador vermelho” é, na realidade, o chapéu utilizado pelos cardeais na altura. O pintor, Paolo Uccello, utilizou este objecto como crítica à elite eclesiástica do seu tempo. Nada de Ufo, portanto.

E temos outros exemplos também.

O que se passa é que não é possível ver algo de esquisito numa pintura e gritar “Olha o Ufo!”. Muitas vezes os artistas utilizavam (e ainda hoje utilizam) uma simbologia que tem de ser interpretada. Caso contrário, são só tristes figuras.

Moral: não é um bom argumento para convencer um céptico. 

Mas na Antiguidade não há apenas símbolos: há também coisas muitos mais interessantes.
Há pinturas rupestres. Uma das últimas descobertas chega da Índia:

Esta, por exemplo, é uma imagem encontrada numa gruta perdida no meio da selva, no distrito de Hoshangabad (Estado de Madhya Pradesh), 70 quilómetros de Raisen.

O céptico dirá: “Então, não pode também esta ser uma representação simbólica?”.
Justo. De facto pode.

Então arrumamos todas as pinturas e esculturas em circulação.

Ufo no passado: os testemunhos oculares

Sigiburg, 776

E que tal testemunhos oculares?
A seguir apenas um excerto das observações.

  • No ano 500 d.C., em Hereford (Reino Unido), uma “trave de fogo” aterrou e voltou para o céu.
  • No ano 776 foram observados uns objectos voadores durante o cerco do Castelo de Sigiburg, em França. Tais objectos (descritos como “escudos de fogo”) pararam acima da igreja, assustando os sitiantes que fugiram. Do facto existe também uma representação contida nos Annales Laurissenses (imagem ao lado). 
  • No ano 796, na Inglaterra, apareceram globos que rodeavam o Sol.
  • No VIII séc., as crónicas dos Longobardos relatam o aparecimento duma “trave de fogo” que desceu do céu, queimou vários objectos e depois repartiu para o céu, onde mudou de posição.
  • No ano 842 foi observado um objecto voador que sobrevoou a cidade francesa de Angers (ver imagem).
  • No séc. IX, o Arcebispo Agobardo de Lione recebeu muitas queixas de fieis cujos campos eram saqueados por “marinheiros celestes” que desciam das nuvens.
  • No séc. XI, o cientista chinês Shen Kuo relata a observação dum objecto voador na sua obra mais importante, Meng Xi Bi Tan: um objecto “brilhante como uma pérola” que voava acima dum lago na província de Jiangtsu. Características mais salientes: o facto de dividir-se em duas parte e de aparecer com regularidade ao longo de 10 anos, pelo que os testemunhos foram vários.

Angers, 842

Continuamos? Não, pois a lista seria demasiado comprida.

Mas que pode pensar o céptico? Pode pensar que os observadores confundiram meteoritos. Meteoritos que param no céu? Que mudam de direcção? Que aterram e voltam a levantar-se?

“Então”, pode concluir o céptico, “em alguns casos ignorância, em outros fantasias de povos supersticiosos”.

E de tal forma ficam arrumadas também todas as observações directas.

Resumindo: não é possível encontrar no passado uma prova definitiva que possa convencer o céptico.
Por isso, abandonemos a antiguidade.

Vamos ver a época contemporânea.

Ufo no presente: os projectos americanos

A ufologia moderna nasce no dia 24 de Junho de 1947, dia em que Kenneth Arnold observa, a partir do seu pequeno avião, alguns objectos voadores enquanto voavam em formação, nos Estados Unidos.
Foi ele, piloto experiente, o primeiro a utilizar a definição de “discos voadores”, que ficará na memória colectiva.

Dirá o céptico: “Meteoritos, Arnold era um tipo muito supersticioso, com muita fantasia e provavelmente estava bêbado”.

Desta forma podemos também arquivar todas as observações relatadas a partir da Segunda Guerra Mundial: ou eram meteoritos, ou os observadores eram supersticiosos, com muitas fantasias ou estavam bêbados.

No caso de observação de massa (que incluíram muitas dezenas, centenas, até milhares de pessoas) podemos também falar de alucinações colectivas e psicose de massa.
E quando juntamente às observações de massa temos também a fotografia do evento? Neste caso a massa sofreu uma alucinação, enquanto a câmara era psicótica.

Mas quantas foram as observações de Ufo desde 1947 até hoje?

Muito difícil fazer uma estimativa. Todavia temos estudos oficiais, levados a cabo pela Administração dos Estados Unidos. Os EUA que gastam dinheiro para estudar observações de meteoritos, superstições e fantasias de bêbados? Pois, isso mesmo.

Project Sign

O primeiro estudo foi o Project Sign (1947-1948), da Air Force: este analisou prevalentemente observações efectuadas por pessoal qualificado (nada de bêbados então) como cientistas, militares, pilotos de aviões.

O Project Sign não chegou até um juízo unânime e foi substituído, em 1948, pelo Project Grudge (1949-1951).

Project Grudge

O Projecto Grudge, já em 1949, publicou um relatório de 600 páginas no qual era afirmado que os Ufo eram fruto de:

  1. má interpretação de vários objectos convencionais.
  2. uma forma leve de histeria de massa e nervosismo.
  3. pessoas que criavam estas histórias para fraudes ou porque em busca de publicidade.
  4. pessoas com problemas mentais.

Parecia o golpe de graça ao fenómeno ufológico, até quando foi descoberto um facto desconcertante: os membros do Projecto Grudge simplesmente omitiam os casos mais relevantes.

Por isso foi fundido num novo projecto, o Project Blue Book (1952-1970).

Project Blue Book

O Project Blue Book analisou mais de 12.000 casos, 701 dos quais definidos como inexplicáveis.

Interessantes as conclusões do mesmo projecto:

  1. Nenhum Ufo descrito, investigado e avaliado pela Força Aérea tinha representado uma ameaça à segurança nacional.
  2. Não tinha sido apresentada nem foi descoberta pela Força Aérea evidência de que as aparições classificadas como “não identificado” representassem evolução tecnológica ou princípios além do conhecimento científico moderno.
  3. Não havia nenhuma evidência de que as aparições classificadas como “não identificado” fossem veículos extraterrestres.

Interessante porquê? Porque em nenhum ponto o Project Blue Book negou a existência dos Ufo. Pelo contrário, o Project trata as observações como inerentes a objectos reais: limita-se a afirmar que estes não representam uma ameaça e que não parecem ser de origem extraterrestre.

Conclusões que foram chumbadas pelo Condon Committee, em 1968. Apresentado mesmo antes que o Project Blue Book tivesse acabado os trabalhos, o relatório Condon retoma as explicações fornecidas em 1949 pelo Projecto Grudge. Idênticas.

“Visto?” pode afirmar o céptico “Bem três estudos e uma conclusão: os Ufo não existem”.
Na verdade as coisas não são tão simples. É suficiente pensar que o único cientista envolvido nos três projectos (Josef Allen Hynek) passou a ser um dos mais fervorosos apoiantes do fenómeno ufológico.

Mas assumimos como válida a dúvida do céptico e aceitamos as conclusões dos estudos oficiais da Administração americana. Pois há algo de mais interessante ainda.

Ufo no presente: fotografia e vídeo

Década dos ’40: Foo Fighters

Uma das características da nossa época é a difusão da tecnologia de amplo consumo.

Uma vez a pobre testemunha era obrigada a fazer um relatório oral ou, no máximo, uma representação gráfica dos acontecimentos. Hoje todos (ou quase) têm uma máquina fotográfica. Muitos uma câmara vídeo.
E então as coisas mudam.
E bastante.

Falsificar uma fotografia é uma brincadeira. É suficiente um qualquer programa de imagem para obter bons resultados.

No entanto, há programas que conseguem “ler” os dados das fotografias digitais: quando a imagem foi tirada, com que máquina (marca, modelo, até número de série), com qual software foi modificada.
Um destes programas é o comum e gratuito IrfanView. 

Todavia é sempre possível gerir as imagens duma forma que estas possam parecer o que não são.
Já o discurso vídeo é diferente: falsificar um filme e obter um bom resultado (bom mesmo) não é fácil. Mas sempre possível, com os instrumentos adequados.

Isso hoje, claro está, graças à tecnologia digital. Mas “antes”? Na época analógica?

Falsificar uma imagem feita com a clássica fotocâmara reflex (a com a película) é bem mais difícil e requer instrumentos que poucos podem ter. Para não falar dos vídeos, quase impossíveis de alterar (e obter resultados decentes). Além disso, descobrir os “falsos” é extremamente mais simples.

E aqui o nosso céptico encontra pão para os seus dentes. Pois há fotografias “analógicas”, assim como filmes, que foram objecto de estudo e que, mesmo assim, resistiram até hoje. Parecem originais. Ao ponto que instituições como a Nasa admitem não conseguir provar o contrário.

Esta imagem foi tirada no dia 4 de Setembro de 1971 pela equipa do Instituto Geográfico Nacional da Costarica. E não precisa de explicações. Esta imagem foi autenticada pela Nasa.

Outras fotografias tiveram tantos testemunhos que nem é precisa uma autenticação.

É o caso dos Ufo sobre Los Angeles, em 1942. Em plena Segunda Guerra Mundial, com as imagens de Pearl Harbor ainda na memória, uma formação de objectos voadores no céu da cidade americana alarmou e não pouco. Japoneses? Nem por isso.

10 anos mais tarde, Ufo até sobre a Casa Branca. Neste caso a imagem é um fotograma duma gravação televisiva da época.

Em 1990 outro caso clássico. No ano anterior tinha começado uma série de observações conhecidas hoje como “a vaga da Bélgica” e, em Abril do ano sucessivo, uma gravação vídeo mostra o que milhares de pessoas puderam ver, incluídos numerosos agentes da polícia.
Vale a pena lembrar que ao longo da “vaga da Bélgica” aviões militares F-16 tentaram uma aproximação aos objectos, mas sem sucesso.

E voltamos a falar da Nasa com uma fotografia autenticada nestes dias.
Foi tirada no passado Dezembro por Gaston Garnier, Argentina. À esquerda a imagem original, com a Lua, à direita o pormenor ampliado.

Como não é possível fazer uma panorâmica completa de todas as imagens julgadas como autênticas, acabamos com uma curiosidade. A seguir uma série de fotografias realizadas ao longo de várias missões espaciais. Isso é, tiradas por pessoal da Nasa.
Nasa que, neste caso, não comenta.

(click para aumentar!!!)

Também neste caso é possível utilizar internet para encontrar muitas mais fotografias. Claro, é precisa atenção, pois há quem tente falsificar até as imagens do ente espacial americano. Mas com um pouco de prática não será difícil encontrar sites de confiança.

Conclusões. Pessoais.

Por isso, o que pode afirmar o nosso céptico nesta altura? Até os astronautas eram bêbados?
Mas mais importante do que isso: o que podemos afirmar nós?
São suficientes algumas imagens, talvez sugestivas, para afirmar que os Ufo são naves espaciais que transportam representantes de civilizações tecnologicamente mais avançadas?

A minha resposta é: não. 
O que as imagens indicam é uma coisa diferente: que há algo, algo que não conseguimos explicar. Cada um é livre de pensar o que mais lhe apetecer, é óbvio. Mas qualquer coisa que seja acrescentada é pura especulação.

No comment…

Homens verdes? Irmandade Cósmica? Habitantes de Marte? De Vénus? Dum outro sistema? Duma outra galáxia? Reptilianos?

Especulações, todas, sem um mínimo de fundamento (e isso inclui também as minhas considerações no post anteriormente indicado).

Ok, nesta altura já haverá leitores enfurecidos: “Especulações? Sem fundamento? Palhaço!”.
(“Palhaço”? Outra vez? Epá, mudem…)

Lamento, mas até prova contrária não há provas: e desculpem a redundância.

Se alguém estiver convencido de que os Ufo são naves espaciais, faça o favor de apresentar provas irrefutáveis. Ou, caso contrário, aceite piamente o meu ponto de vista. Porque sem provas estamos perante um acto de fé, e nada mais (e como prova irrefutável não vale um vídeo de YouTube!!!).

As imagens indicam que o fenómeno Ufo é algo de concreto, que não pode ser resolvido com um sorriso de escárnio, típico de quem está convencido de ter as verdades no bolso. Mas um fenómeno que nem merece ser alvo de atitudes que só ajudam a desacredita-lo.

Qual a necessidade de pensar em homenzinhos verdes ou irmandades cósmicas?
Estamos perante algo de desconhecido: não é isso suficientemente fascinante?

Ipse dixit.