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Esquecimentos de Nobel

Barack O’Bama falou.

O Prémio Nobel da Paz de clara origem irlandesa falou da situação de Israel e da Palestina. Com objectividade e coragem.
Talvez sem muita objectividade.
Talvez com bem pouca coragem.
Mas enfim: ao sempre  as palavras do Nobel da Paz, um pouco de respeito, e que raio.

O bom Barack disse que Israel tem que voltar ás fronteiras de 1967.
Obviamente Netanyahu e Hamas começaram às gargalhadas, embora por diferentes motivos.
Mas não é isso que interessa. E nem vamos perder tempo acerca da questão dum Estado palestiniano sem exército: sem exército porquê? Israel está disposto ao mesmo?.

Não, o que interessa são outras coisas. Coisas que preocupam.

Como pode o bom O’Bama definir “ditadores” o ex Presidente egípcio Mubarak e o homologo da Tunísia, Ben Ali? Não eram eles os leaders autoritários que os Estados Unidos protegeram ao longo das décadas? Não falamos de séculos atrás, falamos do passado Dezembro.

Onde o bom O’Bama fez o seu discurso histórico acerca do Islão? Não foi no Cairo? Pois foi. Então como é que o Nobel da Paz escolheu o País dum feroz ditador sem mostrar na altura algum desconforto? Sei lá, uma pequena critica, uma “indirecta” contra a falta de liberdade no Egipto…mas nada. Na altura Mubarak era bom.


Bom e amigo.
Ficou mau poucas horas depois, logo O’Bama ter voltado para a Casa Branca.
Uma conversão relâmpago.

Outros pontos nevrálgico do discurso presidencial: Síria e Bahrein.
O’Bama diz: “Assad, comporta-te, deixa livre a Síria, deixa que a liberdade e a Coca Cola possam fluir nas ruas de Damasco”.
Assad responde: “E caso eu não deixe?”
Resposta? Silêncio. Nem uma palavra.

Porque, de facto, já disse tudo Hilary Clinton: se a Síria interromper os relacionamentos com o Irão e a ajuda ao Hamas e Hezbollah, as manifestações acabariam no dia seguinte.

Outras ameaças? Supérfluas. A situação na Síria permanecerá instável até Assad interromper os relacionamentos com os inimigos do Império e de Israel. Depois, como por magia, a paz voltará. Assad, agora mau e tirano, será bom e amigo, outra vez.

Acerca do Barhein, a posição é ainda mais…bah, como defini-la? Incoerente? Sim, no mínimo.

O bom O’Bama deixou que as tropas da Arábia Saudita entrassem no pequeno Barhein para silenciar os revoltosos. Justo, afinal é Nobel da Paz: pacificamente consentiu.

Agora afirma: “Então, não ouviram os meus apelos em nome da Paz?”.
Justamente no Barhein: “Desculpe, chefe, mas quais apelos?”
Mas o bom O’Bama não recua: “Os apelos, meus amigos, os apelos em nome da Paz! É preciso deixar espaço à oposição. Mas atenção, não muita oposição pois atrás dela está escondido…”
“Sim?”
“…está escondido…”
“Sim???”
“…o Irão!”
“Ohhhhhhh!!!”

Isso mesmo. Democracia? Sim, mas com cuidado. Melhor se em pequenas doses. Muito pequenas. Em alguns Países é benéfico o vento da liberdade. Em outros, uma leve brisa é mais que suficiente.

Em outros Países ainda, até uma leve brisa pode ser devastadora. Por isso melhor fechar portas e janelas. E esquecer o assunto. Isso mesmo, esquecimento. Só esta pode ser a explicação.

O Nobel da Paz não pode ignorar que a Arábia Saudita ocupa as primeiras posições na classificação da repressão dos direitos civis. E que na Jordânia a situação é tensa, muito tensa.
O bom O’Bama sabe e fica cheio de pena, disso não há dúvida.

Doutro lado, o homem não pode lembrar tudo.
Seria desumano.

Fonte: Marcello Foa