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Populista e popular. E brutos.

Um termo que sempre me irritou profundamente: populista.

O governo de David Cameron, Primeiro Ministro do Reino Unido, tem uma ideia: lançar petições na internet, de modo que os cidadãos possam escolher alguns temas a ser tratados no Parlamento.

Uma primeira tentativa de democracia directa. Só uma tentativa, mas mesmo assim um começo.

A proposta do governo britânico já provocou grande controvérsia porque, dizem os críticos, petições populistas, como a reintrodução da pena de morte ou a saída da Inglaterra da União Europeia, poderiam obter um grande apoio e causar problemas ao governo liderado por David Cameron. Diz uma fonte anónima entrevistada pelo Guardian:

Nós apreciamos o velho princípio do website da Downing Street, mas esta técnica de consenso é pouco edificante. Devemos encontrar uma forma mais eficiente e madura para envolver o público em geral a interagir com o Governo e o Parlamento.

Portanto, utilizar internet para que os cidadãos possam escolher temas que o Parlamento deve tratar não é uma forma suficientemente “madura”.

Vice-versa, chamar o cidadão para que de vez em quando ponha uma cruz numa folha com os nomes dos candidatos, esta sim é uma forma madura. Que os políticos, a partir dai, fiquem entregues a eles próprios, sem qualquer ulterior contacto com o eleitorado, esta evidentemente representa uma forma madura.

Depois há o termo tão esperado: populista.
Até com exemplos: como a reintrodução da pena de morte ou a saída da Inglaterra da União Europeia.

Eu acho que há aqui uma voluntária confusão entre “populista” e “popular”.

Típicos utilizadores de internet

Explico.

“Populista” é um termo que indica um movimento político que propõe colocar no centro de toda a acção política o povo enquanto massa em oposição aos mecanismos de representação próprios da democracia representativa. Estes regimes frequentemente utilizam a repressão policial dos movimentos de Esquerda e sempre realizaram uma acção reformista dentro de um quadro puramente capitalista.
O Fascismo bem representa um tal tipo de regime.
 
Depois há “Popular”, um adjectivo, que indica uma coisa que recolhe amplo consenso.

E aqui começam os problemas: a reintrodução da pena de morte é populista ou popular? Depende. Se a maioria da população concorda com esta medida, então é popular. E a saída da União Europeia? Também.

No entanto, ambas as opções são definidas como populistas. Usa-se um termo com uma conotação negativa para afastar até a ideia. Mas é correcto? Acho que não.

Não vou dizer aqui qual a minha ideia acerca da pena de morte, pois não é isso que interessa: mas se, por exemplo, 51% dos cidadãos dum País são favoráveis à reintrodução desta medida, é correcto ou não ignorar esta vontade? E porquê?

A elite política tem a função de representar a vontade dos eleitores ou de “guiar” os mesmos tendo como base princípios que nascem…donde?

Dito de forma ainda mais simples: se alguém avançar com uma proposta para a reintrodução da pena de morte, se a petição for aceite, se o Parlamento (formado pelos nossos representantes) discutir e aprovar esta proposta, qual o problema? Podemos gostar ou não da medida, mas não deixará de ser uma decisão democraticamente tomada.

Esta a teoria. Depois há a prática. E, pior ainda,os políticos.

A elite política

Também Paul Flynn, o deputado trabalhista, ouvido pelo Daily Mail rejeita a proposta:

Essa ideia pode parecer atraente apenas para aqueles que nunca viram quanto inútil foi uma reforma destas nos Países onde foi aplicada. A blogosfera não é um lugar onde iniciar um debate complexo e sensível. Muitas vezes, é dominada por obcecados e fanáticos, e muitas vezes aparecem ideias simplesmente loucas

Tudo quanto escrito até agora não conta. A verdade é que somos um conjunto de brutos sem grandes capacidades para entender.
E quem utiliza internet, pelos vistos,  pertence à camada mais atrasada. Um blog não é um lugar onde iniciar um debate complexo e sensível: porque afinal somos apenas fanáticos.

Ainda bem que não somos nós os políticos. Ainda bem que existem estas pessoas iluminadas que sabem distinguir o que é o Bem e o que o é o Mal.

Sorte nossa.

Ipse dixit.

Fonte: Guardian, Daily Mail