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Cedo ou tarde…

Talvez não. Ou talvez sim.

Mais provavelmente: sim, a recessão dos Estados Unidos começou.

E se não uma verdadeira recessão, no mínimo uma estagnação.

Quem segue Informação Incorrecta desde o início sabe que nunca tivemos dúvidas acerca dos enormes problemas da economia americana.
E que sempre avisámos: cedo ou tarde, cedo ou tarde…

Catastrofismo? Antipatia em relação aos EUA?
Nem por isso. Mais simplesmente: dados.

E agora os dados contam que algo está a acontecer. Não só: mas alguém nos States começa a perceber.

Os dados

O Weekly Leading Index (WLI) é um índice composto que tem como base os seguintes sete indicadores: JOC-ECRI materials price index, mortage activity, bond quality spreads, stock prices, bond yeld e jobless claims.
Sintetizamos: mede o pulso da economia americana analisando vários dos seus aspectos significativos.

O WLI mede os principais indicadores e mostra de forma rápida e fiável as tendências económicas através dos indicadores que medem os factores que determinam os ciclos económicos.

Nem sempre o WLI acerta: não tinha previsto a crise de 2008-9 (o que não é pouco…), mas quando o âmbito é um ciclo económico sem acidentes aparatosos as previsões são de confiança.

Ora bem. A seguir alguns gráficos particularmente interessantes: retratam a evolução da economia americana ao longo do último mês.

WLI 21 de Maio 2010

WLI 28 de Maio: +0,3%

WLI 04 de Junho: -3,7%

WLI 11 de Junho: -5,7%

E não é preciso ser um analista financeiro para perceber o que se passa: a economia americana está em queda.
Lakshman Achuthan, Managing Director do Ecri, fala de “abrandamento” e não de “recessão” que nos EUA é uma espécie de tabu. Mas as suas palavras deixam poucas margem para a dúvida. Eis a transcrição da vídeo-entrevista no Yahoo Finance da passada Sexta-feira:

A economia dos EUA continua a perder força. O crescimento do índice semanal do ECRI caiu 5,7% na semana passada. Que segue a queda de 3,7% da semana anterior, a primeira vez em negativo desde o início de 2009. “Não vamos adoça-la, é uma queda brusca“, diz o director administrativo do ECRI, Lakshman Achuthan.

“A queda no índice é uma razão para preocupação, mas isso não significa que estamos numa recessão ou que “double dip” [a segunda fase duma recessão de tipo W, ver este post para mais informações, NDT] no futuro próximo seja inevitável.”

Estou definitivamente em estado de alerta, não estamos a ignorar o problema, mas é prematuro”, diz Achuthan  “Estamos definitivamente a cair“, mas vai demorar um “par de meses” antes do ECRI poder lançar um alarme definitivo.

Eu apostaria nesta direcção” afirma, mas não no ponto de chegada continua, observando que o índice do ECRI não está a cair tão drasticamente.[…]

“Os números relativos ao emprego nos próximos meses podem levitar um pouco”. No entanto, esse impulso de curto prazo fará pouco para conter o desemprego persistentemente elevado. “Na criação de empregos ao ritmo com o qual avançamos, e assumindo que não haja uma nova recessão o que é uma suposição enorme, vai demorar até 2015, 2017 para que a situação esteja normalizada”.

Nada mal para uma pessoa que não quer falar de recessão…

 O mercado imobiliário em crise, outra vez

Um dos sectores que mais preocupa? 
O imobiliário, outra vez.

Os leitores mais antigos talvez lembrem dos posts nos quais se falava de “assets tóxicos ainda em circulação” e dum portfolio dos bancos saturado de casas não vendidas.

Assets e casas estão ainda todos ali, só que agora não é possível continuar a ignorar a situação.
Cedo ou tarde, cedo ou tarde…

A economia dos Estados Unidos aproxima-se perigosamente à segunda fase de recessão ao enfrentar um novo conjunto de problemas que afectam particularmente o mercado imobiliário e que inviabiliza praticamente todas as oportunidade para uma séria retoma.

Meredith Whitney, analista financeiro, nunca foi tão pessimista e fala até duma potencial “Apocalipse” para os bancos. Apesar de não vir a antecipar um segundo colapso da economia no geral [o tal tabu, NDT], Whitney diz que um colapso está pronto para o mercado imobiliário e que isso inevitavelmente corre o risco de retardar a retoma.

“É surpreendente como as pessoas ainda possam ter dúvidas acerca da possibilidade duma segunda recessão no mercado do tijolo” observa ele, acrescentando: “É inacreditável.”.

A principal razão é que os bancos tornaram-se cada vez mais agressivos com o envio de notificações de penhora a quem não paga os mútuos. Tudo isso, por sua vez, irá aumentar os níveis de estoque do mercado, colocando pressão sobre os preços e garantido assim um crescimento económico tépido no melhor dos casos.

“Os bancos estão a acelerar os programas de penhora e os programas de vendas a curto prazo. As pessoas que agora pagam um mútuo deverão começar a pagar um aluguer”, continua Whitney.

O comportamento do consumidor tem mostrado características que Whitney afirma nunca ter visto antes. Uma das principais anomalias é a tendência dos proprietários a não pagar os mútuos e, em vez disso, pagar outras contas e aumentar as despesas pessoais (daí o contraditório aumento dos consumos norte-americanos).

Além disso, os problemas do Estado e dos governos locais irão pesar sobre a economia, especialmente porque há “cortes no pessoal em quantidades e formas que nunca vimos antes. Ficam entre a espada e a parede e não sabem para onde ir.”

O analista, famoso por ter previsto a recessão de 2008, acrescentou que a reforma do sistema das regras de Wall Street e uma política que não favorece a classe média vai acabar com o minar o crescimento. “Os populistas argumentam que conseguimos o dinheiro para depois redistribuir a riqueza. Isso empurra a classe média ainda mais para baixo. As consequências involuntárias de tudo isso são terríveis.”

Pagam outras contas e não o mútuo. Porque será?

Vamos ler um comentário encontrado na entrevista anterior, a de Yahoo Finance; diz o utente BringBackCapitalism:

Falei com um investidor ontem sobre um prédio que possui em Las Vegas. Ele comprou-o em 2005 por 25 milhões de Dólares, com um empréstimo de 18 milhões do Wells Fargo. Não fez um pagamento em 19 meses e a Wells Fargo nem sequer lhe enviou uma carta. A propriedade foi recentemente avaliada em 6 milhões de Dólares..

Levante a mão quem estaria disponível para pagar um empréstimo de 18 milhões por uma casa que vale 6 milhões de Dólares.
A ideia é simples: não pago a casa, pela qual deveria pagar um montante que nunca poderá ser recuperado (e se calhar já perdemos um dos trabalhos em família), e entretanto tento viver da melhor forma possível.
Amanhã? Algo acontecerá…

Este não é o American Dream, este é o Carpe Diem.

Ipse dixit.

Fontes: Il Grande Bluff, Yahoo Finance, Wall Street Italia