Linux: Snap ou não?

Um artigo dedicado aos utilizadores dos sistemas operativos Linux.

Ao longo do ano de 2020, a equipa que desenvolve Linux Mint tomou uma decisão importante: excluir os pacotes Snap da Canonical. Anunciada no boletim no blog do Mint, é também explicada no manual do usuário do mesmo sistema. Qual o problema?

Snap?

Para um utilizador casual, a plataforma Snap é apenas uma forma de obter novos programas de forma rápida. Mas para quem estiver mais atento, em particular à questão da liberdade dos softwares, representa um passo arriscado na direcção de softwares “menos livres”.

Para esclarecer: há várias formas de descarregar programas num sistema Linux. Pode ser feito via internet (por exemplo a partir da página do produtor/distribuidor do software), através de aplicações dedicadas já presentes nas várias distros, via linha de comando, pode ser feito directamente do grande repositório geral Synaptic, ou através de plataformas como Flatpak, AppImage, ZeroInstall ou Snap.

Ao escolher um programa da plataforma Snap, o programa é instalado a partir de uma fonte proprietária específica da Canonical: enquanto o software subjacente ainda é de código aberto, o “empacotamento” não é e isso quebra a longa tradição da distribuição de software aberta e gratuita. Esta prática torna a instalação mais simples e, ao mesmo tempo, facilita a  manutenção por parte da Canonical. Mas há alguns revés.

Para já todos os pacotes Flatpack, AppImage ou Snap são muito maiores quando comparados com os programas originais: isso porque estas plataformas servem muitos sistemas operativos ao mesmo tempo, pelo que cada programa tem que conter as adaptações que lhe permitam funcionar nas várias distros. Resultado: um programa que normalmente ocupa alguns Mega de espaço no disco, com as plataformas chega tranquilamente ao Giga (e esta é a principal razão pela qual não utilizo tais pacotes: trata-se dum enorme desperdiço de espaço, com armazenamento redundante de dados).

Agora: se for possível escolher entre programa original e a versão “empacotada” não há problema, cada um pode fazer a sua escolha. Mas se não existir escolha?

Exemplo: Chromium

Pegamos no caso do navegador Chromium, a versão open source de Google Chrome. Ao tentar instala-lo no sistema Ubuntu (que pertence à Canonical) através da aplicação fornecida com Ubuntu ou até do terminal por exemplo (portanto não a partir da plataforma Snap), o que realmente será instalada é a pesadíssima versão Snap. Nem é dada ao utilizador qualquer escolha, nem um aviso. Aos olhos da Canonical isso facilita? Sem dúvida: entrega-se o mesmo pacote Chromium a todos os utilizadores e o caso está fechado.

Mas não é tão simples assim: muitos utilizadores (é o meu caso) abandonaram os sistemas operativos proprietários (como Windows) especificamente para se afastarem deste tipo de comportamento, para poder ter um maior controle sobre o computador. E são estes os utilizadores que Linux Mint tinha em mente quando decidiu excluir os pacotes da Canonical.

Ninguém precisa duma nova Apple

Não é a primeira vez que a Canonical toma decisões impopulares. Aliás, é uma constante. E isso explica porque aquele que é o seu produto principal (o sistema operativo Ubuntu) uma vez era “o” sistema Linux por definição enquanto hoje é ultrapassado nas preferências dos utilizadores pelos vários MX Linux, Endeavour, Manjaro, Linux Mint…

Nem seria a primeira vez que a Canonical decida voltar atrás nas suas escolhas. Mas é difícil que isso aconteça no caso de Snap porque as vantagens logísticas aos olhos da empresa são demasiado grandes.

Paralelamente, é improvável que os pacotes Snap sejam abraçados pela maior parte da comunidade Linux: de facto, o repositório de Ubuntu tornou-se “proprietário” e, com Flatpack, AppImage, ZeroInstall (ou, melhor ainda, com as versões originais dos programas), não há necessidade nenhuma de utilizar Snap. Pessoalmente agradeço a escolha do equipa do Mint, que por acaso é um dos meus dois sistemas Linux actualmente em uso.

A sensação é que no futuro Ubuntu continuará a perder utilizadores porque ninguém precisa duma nova Apple. Paciência, pois com centenas de sistemas operativos Linux gratuitos, escolha é coisa que não falta: a Canonical que volte a trabalhar no âmbito do software realmente livre ou então que desapareça.

 

Ipse dixit.

2 Replies to “Linux: Snap ou não?”

  1. A Canonical juntou-se a pandilha da BIG TECH e não foi hoje.
    Quem por lá ainda anda, é quase como se anda-se de mão dada com a Microsoft, Apple ou Google.
    Mudai… delete Canonical… punish Canonical.

  2. Está para existir algum sistema que possamos somente utilizar com tranquilidade e liberdade, cada um deles tem algo de ruim, aqui no Brasil que eu saiba ainda ha o império do ruindows, no linux tem coisas que simplesmente não funcionam, tenho saudade do DOS.

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