Catastrofismo climático: a grande especulação

Triste vida do blogueiro. Dum dia para outro encontro-me com dois documentos que merecem ser lidos e analisados. Um é o Netzwerkanalyse Corona Komplex sugerido por Yin e Yang (obrigado!); outro é um dossier, Catastrofismo Climatico: La Grande Speculazione.

Enquanto o pobrezinho do Max afunda-se nas leituras, eis a entrevista que o site ComeDonChisciotte realizou com os dois autores do dossier acerca do clima. Nos próximos dias, com mais calma, voltaremos aos dois assuntos.

Boa leitura e comportem-se.

Catastrofismo climático. A grande especulação.

Entervista de ComeDonChisciotte, de Ivana Suerra

Como surgiu a ideia de escrever um dossier sobre o ambientalismo?

Alessandro Carità – Anos atrás, fiquei particularmente impressionado com um ensaio de Paolo Barnard intitulado “O maior Crime” [publicado com outro título e em partes distintas nas páginas de Informação Incorrecta, ndt]. Conta a história da manipulação da teoria macroeconómica, com particular atenção aos passos que levaram, ao longo dos últimos 100 anos, à problemática situação social e cultural em que vivemos hoje. Em detalhe, as chamadas “religiões económicas” ditas “neoclássicas” e “monetaristas”, na base do obsceno ordoliberalismo europeu e do neoliberalismo anglo-saxónico, conseguiram ultrapassar as ideias e políticas pós-keynesianas que estavam a encontrar, durante os 30 anos que se seguiram à guerra e com a adopção de constituições democráticas, o compromisso certo entre Capitalismo e Estado do welfare.

Depois de mais de 10 anos a estudar, observar e ler livros sobre a questão clima-energia, considero as semelhanças com a questão sócio-económica perturbadoras. Por um lado, a teoria neoclássica, a ideologia neoliberal, as regras monetaristas; e por outro, a teoria do Aquecimento Global antropogénico, a ideologia ambientalista e os modelos climáticos do IPCC (Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas): estamos perante os mesmos padrões, com a perspectiva de novos resultados nefastos que, na sequência da pandemia, irão agravar a crise da sociedade contemporânea.

Motivado pelo desejo de fazer todo o possível para evitar este cenário, e reforçado pela experiência adquirida nos últimos anos com a associação MMT Itália (que foi fundada com base naquela pesquisa de Barnard), pretendo partilhar estes conteúdos com os contactos e as amizades encontrados ao longo do caminho na luta pela informação livre e qualificada. A pessoa que demonstrou mais vontade de apoiar esta acção popular é Gianluca Gandini, engenheiro e co-autor deste dossier.

Porque pensa que seja importante lançar luz sobre a questão energia-clima e divulgar a sua análise?

Por duas razões muito simples. Primeiro, porque existe um enorme risco de que os proponentes das teorias económicas pós-keynesianas se percam nas sirenes ecológicas e direccionem os seus programas de despesa pública para os piores investimentos possíveis imagináveis, como o Green New Deal. A segunda é que desta vez, ao contrário da crise económica após 2008 e 2012, ou de uma guerra, os cidadãos podem travar mais directamente este processo através das suas próprias escolhas de consumo, ou através da pressão sobre as escolhas de investimento dos municípios e regiões, instituições que são muito mais acessíveis do que aquelas que determinam as políticas fiscais e monetárias, tais como a Comissão Europeia e o BCE para os Estados Membros da Comunidade Europeia.

O que pensa da COP26, a Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas em 2021?

Estes encontros são tão reminiscentes das missas aztecas onde eram invocados sacrifícios humanos em troca de uma forma de misericórdia ou de clemência divina, ou o fecho do cilício na coxa como sinal de penitência e de lavagem do pecado através da dor. Bom, neste caso o pecado a evitar coincide com o desenvolvimento linear da humanidade na Terra e no Universo, uma progressão que só pode ser alcançada através de uma adequada extracção de energia dos combustíveis fósseis (enquanto os tivermos) e do átomo. A COP26, que em vez disso prega o contrário, tem as características de um teatro mediático geopolítico onde os poderosos da Terra mostram a sua preocupação pelos males do mundo e anunciam mudanças radicais (as penitências), inspiradas neste caso por uma “divindade” escandinava chamada Greta Thunberg. Mas os males do mundo são outros, os conhecemos muito bem e todos eles ainda lá estão: guerras, pobreza, especulação financeira, pressão militar, ditaduras. Em geral, todas as formas de prevaricação e arrogância do homem sobre o homem, o mais forte sobre o mais fraco, o mais rico sobre o mais pobre, o mais astuto sobre o mais ingénuo. A luta contra as alterações climáticas, segundo a nossa investigação, esconde estes males pela enésima vez na história.

Como pretendem divulgar as questões do vosso ensaio ao público? Já conceberam uma estratégia?

Gianluca Gandini – Esta é uma pergunta a que gosto de responder com uma reflexão. Os temas contidos no ensaio podem ser enquadrados num fenómeno que está agora generalizado: o do “não a algo”. Sabemos muito bem que, actualmente, os principais meios de comunicação social desacreditam qualquer pessoa com visões alternativas, ou que proponha ideias para o debate, utilizando vários rótulos: negacionistas, “terraplanistas”, contra-isso, não-aquilo. É um método que funciona muito bem, como qualquer pessoa que tenha lido dois conceitos de programação neurolinguística sabe.

Neste campo, além disso, já estão a ser utilizadas ferramentas avançadas de comunicação social, estou a pensar no carácter de Greta Thunberg: um ícone facilmente assimilado por todos, a imagem positiva da rapariga escolar inocente e rebelde a quem foi confiada uma mensagem baseada num arquétipo de humanidade: o pecado. O homem, sujo e poluente por nascimento, tem pecado intensamente e está a arruinar o planeta. Deve redimir-se, purificar a sua alma, expiar o seu pecado através do sacrifício e da submissão: isto soa familiar? O que é bom até este momento; produzimos demasiada poluição.

De facto, este ensaio não fala de poluição (o CO2 não é um gás poluente, mas sim uma parte natural dos gases da atmosfera e alimento para espécies vegetais), mas de como este tema é abordado e confundido com o tema das alterações climáticas (para nós, “história climática”), que é de uma natureza completamente diferente.

Agora, toda esta premissa para dizer que é difícil para nós identificar um análogo positivo de Greta que possa transmitir a nossa mensagem com a mesma técnica narrativa, precisamente porque é uma mensagem em que não há culpado, não há pecador. Portanto, só podemos desmontar os elementos narrativos da peça principal, fornecendo dados, enfatizando a realidade empírica e o que está realmente a acontecer para abrir a mente ao pensamento crítico. A dificuldade reside no facto de, na base de tudo, haver um esforço de pensamento e, claro, a necessidade de o leitor desmantelar quaisquer crenças e posições adquiridas.

Já tiveram oportunidade de discutir estas questões com figuras de autoridade que possam ajudar a divulgar o vosso trabalho?

Estamos a fazê-lo: alguns académicos já nos ajudaram a redigir os argumentos do ensaio. Refiro-me aos Professores Franco Battaglia e Nicola Scafetta, a quem gostaríamos de agradecer, que gentilmente disponibilizaram dados dos seus estudos, que revimos. Estamos a estabelecer contacto com toda uma série de personalidades que dirigem canais de informação alternativos à corrente dominante e que há anos que tentam comunicar algumas das questões relacionadas com a climatologia ao seu público. Além disso, temos estado em contacto com vários estudiosos dos principais centros de investigação italianos que estão envolvidos na medição e monitorização de glaciares e ambientes naturais, e que estão por isso em contacto directo com a realidade das coisas. E são precisamente aqueles que têm conhecimento directo do que realmente se está a passar que ficaram entusiasmados quando leram o projecto do nosso ensaio.

Na linha do que aconteceu no século passado noutro campo, a economia, o pensamento neoliberal conseguiu difundir-se como dominante, primeiro no público através da criação de grupos de reflexão neoliberal, depois através da propaganda nas universidades e centros de estudo e, finalmente, nos parlamentos e órgãos de decisão; assim, de forma semelhante, estamos a tentar criar um think tank sobre este assunto. Aí reside o nosso desafio, pois tudo isto necessita de financiamento, estudos científicos e publicações que possam ser amplamente divulgadas.

Vocês não são climatologistas, cientistas atmosféricos, físicos, cientistas que lidam diariamente com estas questões. Não acham que isto pode desacreditar o vosso trabalho de investigação?

A observação é extremamente pertinente, e aqui mais uma vez gostaria de reflectir ligando-me à anterior observação sobre Greta Thunberg. Ela tem uma autoridade que vem de qualificações académicas científicas? Serão as personalidades mais ou menos conhecidas que aparecem nos meios de comunicação social e que espalham os receios da catástrofes climáticas, ao  dizer que não há mais tempo, que temos de agir rapidamente, que o planeta está a arder, por acaso, cientistas bem conhecidos? Para dar alguns exemplos das personalidades que apareceram no circo mediático para falar sobre as alterações climáticas, encontramos: Al Gore, Mike Bloomberg, Leonardo Di Caprio, […] que não são propriamente figuras académicas proeminentes.

Na parte inicial do ensaio afirmamos que para fazer investigação e lidar (pelo menos a este nível) com questões deste tipo, não é necessário ter qualificações de institutos de renome, mas é necessário ter um mínimo de experiência na procura de fontes e de dados fiáveis (e no ensaio há gráficos e tabelas retiradas de organismos oficiais que realizam medições climáticas), e um pensamento livre e crítico que permita analisar a realidade empírica que nos rodeia independentemente das superstruturas mentais.

Não temos a presunção de dizer que a nossa é a Verdade Absoluta; queremos apenas lançar as sementes do debate, analisando a questão de muitos pontos de vista: histórico, social, económico, lógico. Este trabalho pretende ser um ponto de partida para um processo que será talvez abordado e alargado mais tarde, com a perícia e autoridade de académicos que sentem-se livres de expressar a sua própria versão dos factos, sem medo de serem isolados, desacreditados e apontados como negacionistas. É disto que trata o think tank que mencionei anteriormente: construir um grupo de trabalho onde nos possamos sentir parte de um projecto de informação verdadeiramente científico, baseado num debate sério e constante.

O dossier já está descarregado e, infelizmente, está só em italiano. Li “por alto” e admito ser interessante. O problema é que são mais de 50 páginas, pelo que não posso traduzi-las todas “duma enfornada”. Mas vamos fazer assim: realço as partes mais significativas e, de vez em quando, vou publicar, pode ser?

 

Ipse dixit.

One Reply to “Catastrofismo climático: a grande especulação”

  1. Sim, pode ser, Max. Vamos ver se saí observações, compilações e dados que entrem olhos a dentro das pessoas que os lerem.
    Transformar santos em demônios e vice-versa talvez não seja tão difícil, dispondo de material suficiente e simples para o entendimento da maioria.
    Há uma fonte de energia, digamos, um tanto alternativa que não ouço falar: as hidroelétricas. No Brazil 60% da energia vem daí.
    Mas não estou a falar somente de Itaipus. Falo do aproveitamento de declives suficientes nos incontáveis rios permanentes, que podem ser aproveitados para hidroelétricas de pequeno porte.
    Aqui onde vivo poucos fazem isso, mas a norma existente é: podem fazer hidroelétricas pequenas em locais privados. Utilizem a energia necessária, e se houver mais produção que a necessária devem remete-la para a Celesc (empresa ainda majoritariamente estatal ).
    Se o Brazil tivesse uma governança minimamente séria e comprometida com o povo e o país (olha a Maria sonhando…) fomentava o desenvolvimento dessas iniciativas particulares, sem prejudicar os locais destinados para esportes radicais e reprodução de espécies fluviais. Nesse caso, até as comunidades indígenas da Amazônia teria, se quisessem, energia elétrica proveniente da hidroelétrica de Belo Monte. Mas infelizmente não é esse o caso.
    Existe o problema da seca para o fornecimento de energia o tempo todo, mas também poderia existir o sistema de troca com as empresas estatais. Nas cheias te fornecemos energia, na seca nos é devolvida, um sistema misto. (Bobagem, isto nunca acontecerá porque quem mais alto voa, mais corrupto fica)
    Então…vamos lá ao que existe. Já se sabe que energia eólica não funciona. Se não para pela neve, onde há, para pela falta de ventos constantes, ou para porque funciona bem como máquina de matar pássaros, onde eles ainda abundam.
    Pode ser que as células fotovoltaicas funcionem, principalmente em parques onde haja sol constante, como é o caso do Brazil.
    Mas há um problema maior: a energia/falta de energia não é culpa do clima ou falta de opções. Como quase tudo é um problema político.

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