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Pentágono: o relatório acerca dos Unidentified Aerial Phenomena (UAPs)

Até que enfim! Com um pouco de atraso (o relatório era esperado para o dia 25 de Junho, foi publicado no dia 26) eis que chegou o documento do Pentágono acerca dos UFOs.

Para já, e saltitando pela internet, nota-se uma certa desilusão. O que não faz muito sentido porque as notícias são positivas, muito positivas. Vamos ver a razão.

Em primeiro lugar, ao relatório trabalharam:

Nada mal considerado que estamos a falar dum fenómeno que não existe, criado por teóricos da conspiração ou fruto de ilusões ópticas…

Depois vamos ver o que diz o texto. Ponto de partida é que os “vários tipo de sensores que registam UAPs [UFOs, ndt] geralmente funcionam correctamente e captam dados reais suficientes para permitir avaliações iniciais, mas algumas UAP podem ser atribuíveis a anomalias dos sensores”.

O que significa: uma vez eliminados aqueles casos onde o fenómeno é atribuível a anomalias das máquinas, temos uma série de observações que descrevem factos reais, pois é difícil que um sensor sofra de alucinações ou tenha tendências conspiracionistas.

O relatório concentra-se, por uma precisa escolha metodológica, em 144 acontecimentos entre 2004 e 2021, concluindo que os Estados Unidos são incapazes de fornecer explicações para a grande maioria das ocorrências. Afirma que não há provas que confirmem a existência extraterrestre por detrás de alguns desses fenómenos, mas também que não há provas que a excluam. “Os dados na nossa posse”, salienta o documento da Defesa, “são largamente insuficientes para determinar a natureza” destes misteriosos objectos observados pelos pilotos militares.

O relatório, como afirmado, refere-se a 144 UAPs ao longo de um período de tempo de 17 anos, reconhecendo que “os UAPs representam um problema para a segurança do voo e podem constituir um desafio para a segurança nacional dos EUA” afirma o documento, que também diz que “provavelmente não existe uma explicação única” para todos os fenómenos observados. “Num número limitado de observações” os Uaps “apresentam características de voo pouco usuais” que podem ser o resultado de erros nos sensores ou na percepção do observador” e exigem uma análise mais rigorosa.

Um funcionário do Pentágono acrescenta:

Dos 144 relatórios com que estamos a lidar aqui, não temos indicações claras de que haja uma explicação não terrestre, mas iremos para onde quer que os dados nos levem. Acreditamos absolutamente que o que estamos a ver não são simplesmente artefactos de sensores. Estas são coisas que existem fisicamente.

De facto, 80 dos casos analisados no documento incluíam dados de múltiplos sensores. E em 11 casos, os investigadores acreditam que quase se verificou uma colisão com o pessoal militar dos EUA empenhados em missões de voo.

O relatório também menciona os objectos voadores salientando características que parecem ser superiores às dos veículos aéreos observados até agora na Terra, em termos de velocidade, maneabilidade e sistemas de propulsão. “Em relação aos 144 fenómenos descritos”, contudo, um membro da comunidade de inteligência dos EUA disse à agência AP, “não temos indicações claras de uma possível explicação extraterrestre, mas continuaremos a busca onde quer que os dados nos levem. A partir dos dados na nossa posse, não temos qualquer indicação clara de que qualquer destes fenómenos não identificados faça parte de um programa de inteligência de uma potência estrangeira, nem sejam o resultado de avanços tecnológicos por parte dos nossos adversários”.

Outro representante da inteligência explicou que em 21 dos casos “parece que estamos a lidar com propulsão avançada, ou alguma tecnologia avançada” desconhecida aos Estados Unidos: trata-se de objectos em movimento sem meios de propulsão identificáveis, ou com uma aceleração tão rápida que ultrapassa as capacidades conhecidas de Rússia, China ou de outras nações.

Como em todos os relatórios emitidos pelos serviços secretos ou militares dos vários Países, é necessário ler nas entrelinhas. É óbvio que no caldeirão das numerosas hipóteses postas em jogo pelos Serviços Americanos haja tudo e mais alguma coisa. Há as explicações mais banais como a mera falsificação, aves, balões, sondas, fenómenos naturais ou aviões convencionais não reconhecidos: o leque de hipóteses que deve ser sempre considerado nestes casos. Depois há possibilidades mais importantes: alguns UAPs poderiam ser efectivamente objectos de forças estrangeiras (Rússia e China) que violam o espaço aéreo americano, ou até veículos experimentais fruto de programas secretos dos mesmos EUA. E finalmente, há a possibilidade explicitamente citada pelo Pentágono: objectos voadores não identificados de uma matriz não terrestre, algo que o documento não pode excluir.

Ainda o relatório, na páginas 5, fala duma “mão-cheia de UAPs parecem demonstrar tecnologia avançada”. Em 18 incidentes, descritos em 21 relatórios, os observadores relataram padrões de movimento UAPs pouco usuais ou com características de voo peculiares: alguns UAP pareciam permanecer estacionários ou moviam-se contra o vento, manobravam abruptamente ou a uma velocidade considerável, tudo sem meios de propulsão discerníveis. E num pequeno número de casos, os sistemas das aeronaves militares americanas detectaram energia de radiofrequência (RF) associada aos avistamentos.

Um relatório de apenas nove páginas: a montanha pariu o rato? Nada disso. É claro que quem estava à espera de imagens fantásticas terá ficado desiludido. Mas uma “imagem fantástica”; qualquer dela, fica no centro do debate ao longo de semanas, com um sem número de possíveis explicações convencionais para depois desaparecer da memória colectiva. O que o Pentágono nos deu é algo bem mais importante: é a confirmação oficial de que há “algo” lá em cima, algo para o qual não há uma explicação. Trata-se dum ponto de viragem absolutamente fundamental: já não há apenas alucinações ou malucos com teorias saídas do mundo da ficção, há algo e este algo é concreto, tangível, detectado por profissionais do ar e confirmado por sensores.

Se os vários programas governamentais ao longo das décadas tiveram como único objectivo demolir qualquer explicação não convencional e abafar as vozes, aqui, pelo contrário, temos um documento que é o ponto de partida por um sem número de hipóteses que vão além do óbvio. Pela primeira vez, não estamos perante um documento que “fecha” mas que “abre” a porta. A mesma forma como tal documento foi antecipado é significativa: vídeos das forças armadas para demonstrar que “há algo”, que a Task Force da Defesa e os outros Departamentos não estavam a gastar tempo (e dinheiro dos contribuintes) à procura de fantasmas mas estavam empenhados na análise dum fenómeno objectivo.

Quem ficou desiludido? Os meios de comunicação, sempre à procura do bombástico, e quem nunca seguiu de perto o fenómeno UFOs. Ficaram desiludidos pelo facto do Pentágono não ter apresentado a fotografia dum homenzinho verde sorridente ou por não ter tido “A propósito, lembram-se de todos os acontecimentos estranhos ao longo dos últimos 80 anos e que nós tinhamos rotulado de alucinações e disparates? Bom, percebemos que eram todos verdadeiros, beijinhos e fiquem bem”. É claro que se alguém estava à espera de algo tão ingénuo então sim, de certeza que ficou desiludido.

Agora é só esperar: temos que perceber a razão pela qual o Pentágono decidiu operar esta mudança de rumo porque é bom lembrar que nada teria impedido continuar no mesmo caminho. Se os EUA escolheram mudar a posição oficial, isso é porque a nova posição é funcional. Objectivo? Não sabemos. Por exemplo, existe a possibilidade de que no futuro os UAPs possam ser utilizados para desempenhar o papel de “maus da fita”, uma ameaça, seja contra a segurança nacional dos EUA, seja contra a Humanidade toda. Uma ameaça oriunda da Rússia ou da China, por exemplo. Ou, quem sabe?, até de inimigos piores. A ver vamos.

 

Ipse dixit.