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Sionismo: sai Bibi, entra o Naftalina

Finalmente. Benjamin “Bibi” Netanyahu já não é o Primeiro Ministro de israel: após 12 anos seguidos, Bibi foi obrigado a deixar o cargo por causa da escolha de Naftali Bennett, antigo aliado de Bibi, que aceitou a proposta para fazer parte da coligação da oposição para tomar o poder no País. E o problema está mesmo aqui: é ele, Naftalina, o novo Primeiro Ministro.

Naftalina tem tudo para ser até pior do que Bibi: nascido duma família de judeus asquenazes, desde jovem fez parte do movimento sionista Bnei Akiva. Após o serviço militar, durante o qual participou nas operações no Líbano (começo da década de ’90), na Operação Grapes of Wrath (1996), no Massacre de Qana (1996), na Operação Defensive Shield (2002) e na Segunda Guerra do Líbano (2006), foi para New York, na zona exclusiva do Upper East Side, onde começou a actividade empreendedora fundando a Cyota (software de segurança); mais tarde trabalhou da Soluto (na altura partner da Microsoft) e na Payoneer (área dos pagamentos digitais, colaborações com MasterCard, Airbnb, Amazon, Google), da qual, segundo Forbes, Naftalina deverá ganhar 5 milhões de Dólares só no presente ano.

A carreira política de Naftalina começa em 2011, quando fundou My israel, e noo ano seguintye com a estreia do movimento chamado “Yisraelim”, ou seja “israelitas”. Os principais objectivos do movimento incluem aumentar o sionismo entre os apoiantes de Centro-Direita, aumentar o diálogo entre as comunidades religiosas e seculares e promover “A Iniciativa de Estabilidade de israel”.

Nomeado Ministro da Economia e Ministro dos Serviços Religiosos em 2013, no mesmo ano é também Ministro de Jerusalém e dos Assuntos da Diáspora. A seguir: em 2015 Ministro da Educação (é nesta altura que Naftalina proibiu que os directores das escolas convidassem membros do grupo Breaking the Silence e outras organizações que denunciam a conduta militar de israel na Cisjordânia). Nos anos seguintes, Naftalina saltita dum ministério para outro até abandonar a área do governo e passar para as fileiras da oposição com o seu movimento Nova Direita. O resto é história destes dias, com a coligação da Direita para afastar Bibi e tomar o poder.

As posições políticas de Naftalina são claras: é um ultra-nacionalista, “mais à direita” do que Netanyahu e opõe-se à criação de um Estado palestiniano. Naftalina é 100% sionista, não há dúvida.

Como explica Wikipedia versão inglesa:

Em Janeiro de 2013 sugeriu uma tripartição dos territórios palestinianos, através da qual israel anexaria unilateralmente a Área C, a autoridade sobre a Faixa de Gaza seria transferida para o Egipto, e as Áreas A e B permaneceriam com a Autoridade Nacional Palestiniana, mas sob o guarda-chuva de segurança das Forças de Defesa de israel e Shin Bet para “assegurar a tranquilidade, suprimir o terrorismo palestiniano, e impedir o Hamas de tomar o território”.[…]

Em resposta à libertação de prisioneiros palestinianos por israel em 2013, Bennett disse que os terroristas palestinianos deviam ser fuzilados, alegadamente acrescentando: “Já matei muitos árabes na minha vida, e não há absolutamente nenhum problema com isso”. […]

Em Janeiro de 2013 Bennett disse: “Não vai haver um Estado palestiniano dentro da minúscula terra de israel”, referindo-se à área desde o rio Jordão até ao Mar Mediterrâneo. “Isso não vai acontecer. Um Estado palestiniano seria um desastre para os próximos 200 anos”. […]

Em Outubro de 2016 Bennett disse: “Sobre a questão do País de israel, temos de passar de uma acção para uma decisão. Temos de marcar o sonho, e o sonho é que a Judeia e Samaria façam parte do Estado soberano de israel. Temos de agir hoje, e temos de dar as nossas vidas”. Não podemos continuar a marcar a Terra de israel como alvo táctico e um Estado palestiniano como alvo estratégico”.

Em Novembro de 2016, Bennett disse que a eleição de Donald Trump como Presidente dos Estados Unidos lhe deu esperança de que a solução de dois Estados deixaria de ser considerada viável, afirmando: “A era do Estado palestiniano acabou”.

Segundo o jornalista israelita de Haaretz, Anshel Pfeffer, aqueles que trabalharam com Naftalina disseram em privado que grande parte da sua retórica é para fins eleitorais, e ele é, de facto, mais moderado do que se pensa. Será, mas é lícito ter não poucas dúvidas…

Obviamente, Naftalina defende os direitos da comunidade LGBT porque assim mandam os ditames do novo curso global. E Naftalina tem também uma visão histórica: critica aquela que ele chama de “uma actual atitude de anarquia em israel”, dizendo que a razão pela qual o Segundo Templo foi destruído foi porque cada um “seguiu as suas próprias regras” (na verdade, o Templo foi destruído pelo então general Tito após a Primeira Guerra Judacia em 70 d.C.).

“Precisamos de compreender o grande quadro” disse, “hoje estamos na era do Terceiro Templo” e aproveitou para rever a história do Reino de israel:

Tivemos apenas duas vezes um Estado onde governámos como um povo unido. A primeira vez durou apenas 80 anos, o Rei David 40, depois o Rei Salomão 40. Depois disso, separamo-nos. A segunda vez, fomos governantes por apenas 74 anos durante a dinastia hasmoneana [de 140 a 37 a.C., quando o poder destes sacerdotes terminou devido à conquista romana, ndt]. Estamos agora há 72 anos [desde o nascimento do Estado de israel]. A nação judaica nunca foi capaz de manter um governo unido durante mais de 80 anos.

Tudo normal: afinal falamos da Terra Prometida por Deus…

Voltando ao Naftalina: com o novo Primeiro Ministro israel vira ainda mais à Direita, imprindo uma aceleração ao projecto do Grande israel. O Sionismo consegue fazer nomear o representante dum partido segundário, com uma expressão eleitoral mínima mas que constitui um elo que reforça as ligações com a elite dos EUA (Naftalina tinha a cidadania norte-americana). Um útil idiota que terá que actuar tendo como pano de fundo não tanto a Palestina (para a qual aproximam-se tempos muito duros) mas, sobretudo, o confronto com o Irão.

 

Ipse dixit.