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Jornalismo ao serviço do poder

…e falamos de jornalismo. Porquê? Porque sim. Começando com uma noticia muito curta.

The Lancet retira a pesquisa fraudulenta

A (antigamente) prestigiada revista científica The Lancet foi obrigada a retirar a investigação que punha em causa a validade da hidroxicloroquina para combater o terrível Coronavírus.

Foi precisa apenas uma semana para perceber que estava baseada em dados fraudulentos, segundo os quais o medicamento não só não tinha efeitos benéficos, como até aumentava o risco de arritmias cardíacas e de morte nos doentes.

O que se passou foi o seguinte: quando alguns médicos pediram para verificar os dados originais fornecidos pela empresa Surgisphere (nos quais estava baseada a pesquisa toda), o seu gestor, Sapan Desai, recusou-se a fornecê-los citando “questões de privacidade dos pacientes”.

Perante esta recusa, três dos médicos que assinaram a investigação retiraram a sua assinatura e o The Lancet teve de retirar a investigação. Uma péssima figura da publicação que era tida como uma referência mundial no âmbito da imprensa medica.

Meios de comunicação e serviços secretos

O ex-jornalista do Wall Street Journal, Joe Lauria, numa entrevista esclareceu que os meios de comunicação social dos EUA actuam como “porta-vozes dos serviços secretos” em assuntos quais a política externa e a segurança nacional.

Numa curta entrevista à emissora televisiva RT, Lauria afirma que os meios de comunicação social privados “reciclam” frequentemente a desinformação alimentada pelos serviços secretos, enquanto os políticos fazem pressão sobre Facebook para que este actue como canal de comunicação social contra a “desinformação” estrangeira.

Lauria disse:

Os meios de comunicação social privados, na sua política externa e nos relatórios de segurança nacional, são praticamente porta-vozes dos serviços de informações. Reciclam a desinformação dos serviços de informação nos Estados Unidos, que ganham credibilidade se forem lidas no New York Times e não directamente na CIA. Têm também uma função estatal, apesar de serem propriedade privada. Portanto, isto é claramente uma coisa anti-russa, anti-chinesa, anti-iraniana.

E, de facto, Facebook já tinha noticiado a sua acção de “rotulagem” dos conteúdos publicados para combater a “influência estrangeira” nas eleições presidenciais americanas de 2020. As páginas dos meios de comunicação russos, incluindo RT e Sputnik, bem como os meios de comunicação chineses, já foram rotuladas.

Lauria observou que gigantes das redes sociais como Facebook e Twitter tomam tais medidas porque são “fortemente pressionados” pelo Congresso dos EUA, porque os políticos querem que as empresas privadas actuem “como filiais do Governo dos EUA para fazer censura em seu nome”.

O CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, tinha sido previamente convocado para audições no Congresso, onde foi censurado por não fazer o suficiente para combater a “propaganda” russa e convidado a tomar medidas decisivas para conter a “interferência” estrangeira na política americana.

Nada disso espanta: é apenas mais uma confirmação.

New York Times pede desculpa

Depois de defender e apoiar terroristas, jihadistas e mercenários pagos pelos EUA, grupos militares e paramilitares que há anos cometem crimes em dezenas de Países.

Depois de ter coberto com notícias falsas guerras de conquista que produziram milhões de mortos e refugiados em dezenas de Países.

Depois de ter sido o véu liberal para ocultar os crimes mais hediondos dos Estados Unidos, agora o New York Times pede desculpa.

Mas não pelo que escreveu e aprovou sobre Jugoslávia, Iraque, Líbia, Afeganistão, Síria, Ucrânia, Venezuela, Cuba, Nicarágua…. Não. Pede desculpa porque os seus leitores, muitos dos quais apoiam esses crimes no estrangeiro, ficaram indignados com um artigo de Tom Cotton, um senador republicano do Arkansas, que apoia a utilização dos militares contra os manifestantes nos Estados Unidos.

Após o alegado assassinato de George Floyd em Minneapolis, começou uma brutal repressão, tão brutal como sempre acontecia na era Obama também (mas nesse caso os leitores do NYT não ficavam indignados). Criminalizar a repressão de Trump pela brutalidade da polícia não faz sentido num País onde, mesmo sob a presidência democrata, as minorias não são mais do que escravos dos interesses económicos das multinacionais privadas que gerem as prisões.

Nos Estados Unidos, com o silêncio cúmplice das ONGs (preocupadas com Hong Kong) existe, de facto, a maior população prisional do mundo, na sua maioria hispânica e afro-americana. Há hoje, como havia na época de Obama.

Escreve o diário comunista italiano Il Manifesto:

Foram necessários os protestos de numerosos leitores e cerca de oitocentos funcionários de jornais, incluindo muitos repórteres, que ameaçaram abandonar a redacção na Sexta-feira.

E exulta o Manifesto perante as notícias que trazem ordem no templo “liberal”, esquecendo-se de lembrar que quando as tropas são enviadas para o estrangeiro, quando os terroristas são financiados contra Estados soberanos, quando os drones são pilotados contra alvos civis a milhares de quilómetros de distância, esses 800 funcionários continuam a fazer o seu trabalho sem protestar.

A diferença entre o Cotton, o New York Times e o Manifesto é que o Cotton revela a verdadeira face dos Estados Unidos, sem véus liberais ou ridículos aplausos daqueles que hipocritamente ainda querem fazer acreditar que um Biden ou um Obama possam ser melhores do que Trump neste aspecto. São exactamente a mesma coisa. E por vezes é melhor um inimigo declarado do que um falso amigo, sobretudo se este for o último e mais perigoso bastião de um regime oligárquico brutal.

 

Ipse dixit.