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Bernie fora, luz verde para Donald

O Senador Bernie Sanders anunciou que vai suspender a sua campanha para as eleições presidenciais de 2020. O candidato do Partido Democrata será, portanto, o ex-Vice-Presidente Joe Biden.

A campanha do Senador deu uma reviravolta desagradável depois de vários candidatos democratas decidirem retirar-se da corrida para apoiar Joe Biden. A decisão de Sanders de suspender a campanha veio apenas um dia depois das Primárias Democráticas do Wisconsin, onde é esperada a vitória de Biden de acordo com as últimas sondagens.

Tweet de Donald Trump:

Bernie Sanders está fora! Graças a Elizabeth Warren [candidata também que decidiu retirar-se da campanha em Março sem apoiar nenhum dosa restantes candidatos, ndt]. Se não fosse por ela, Bernie teria ganho quase todos os Estados na Super Terça-feira. Acabou tal como os Democratas queriam e o Comité Nacional Democrático, tal como o fiasco da corrupta Hillary [Clinton]. As pessoas de Bernie deveriam vir para o Partido Republicano.

As ideias de Bernie

Bernie Sanders sempre definiu-se como um “socialista democrático”. Os principais objectivos da sua proposta política eram a criação duma economia “que funcione para todos e não apenas para os mais ricos” e facilitar a participação democrática dos cidadãos, especialmente os mais jovens, reconhecendo simultaneamente a saúde e a educação como direitos inalienáveis e gratuitos.

Do ponto de vista das políticas sociais e fiscais, Sanders é um defensor do modelo nórdico e da adopção de medidas de redistribuição de rendimento; como seu conselheiro económico escolheu Stephanie Kelton, um dos principais expoentes da Modern Money Theory (MMT). Sanders também é um firme defensor dos direitos LGBT, dos direitos das minorias étnicas, da legalização do aborto, da cannabis e um opositor da pena de morte e da Segunda Emenda (embora seja favorável à protecção jurídica dos fabricantes de armas).

Contudo, alguns observadores consideraram mais apropriado descrever Sanders como social-democrata do que como socialista, uma vez que ele não promove a abolição completa do Capitalismo e da propriedade privada.

Na política externa, Sanders sempre manteve posições pacifistas, opondo-se a qualquer intervenção militar americana, defendendo ao mesmo tempo os direitos dos veteranos. Durante o seu sétimo mandato na Câmara, opôs-se veementemente à invasão do Iraque em 2003, receando que o recurso às armas, para além de implicar custos enormes e uma grave perda de vidas humanas de ambos os lados, pudesse prejudicar a estabilidade política da região, arriscando comprometer a luta contra o terrorismo. Elogiou o Presidente Barack Obama pelos acordos de paz com o Irão e Cuba; nesta segunda circunstância, em particular, manifestou a sua satisfação pelo fim de uma “guerra fria” que durou cinquenta anos.

Em relação à questão israelo-palestiniana, Sanders apoia a solução de dois Estados, a fim de “garantir ao povo palestiniano uma nação própria e ao povo israelita uma vida pacífica sem risco de terrorismo”. No que diz respeito ao ISIS e ao jihādism, considera que os Países muçulmanos do Médio Oriente são chamados a desempenhar um papel mais importante do que os próprios Estados Unidos: a este respeito, criticou duramente a Arábia Saudita, os Emiratos Árabes Unidos, o Kuwait e o Qatar; este último, em particular, foi acusado de ter utilizado mais recursos para a organização do Campeonato do Mundo de 2022 do que para a luta contra os fundamentalistas. Na sequência dos atentados de 13 de Novembro de 2015, em Paris, manifestou o seu receio pelo sentimento crescente de islamofobia, degenerando em xenofobia e racismo.

Em várias ocasiões, Sanders fez duras críticas aos antigos secretários de Estado Henry Kissinger, considerado “um dos mais destrutivo da história moderna”, e Hillary Clinton, atacada por receber, através da Fundação Clinton, “vários milhões de Dólares de governos estrangeiros, ditaduras […] sem grande respeito pelos direitos dos homossexuais e das mulheres”. Manifestou igualmente a sua opinião contra o Tratado Transatlântico sobre Comércio e Investimento e a Parceria Transpacífica.

Sanders é também um ambientalista e tem sido frequentemente associado ao Partido Verde: em particular, está convencido de que o aquecimento global é um problema prioritário, a enfrentar através dum aumento decisivo da utilização de energias renováveis, pelo que está em conflito aberto com Donald Trump.

Pelo que, um socialdemocrata “à estadounidense”, com algumas boas ideias mas bastante confusas. Mesmo assim, algo relativamente “novo” no panorama presidencial, um pouco (não demais) fora dos esquemas. Sobretudo, alguém mais próximo dos ideais daquela “Esquerda” possível nos EUA. E por isso destinado a não ser eleito: demasiado afastado do establishment progressista dos Democratas, que fez tudo para trava-lo.

Trump fica satisfeito e não pouco. O afastamento de Sanders significa luz verde para o segundo mandato: Joe Biden é um outro suicídio eleitoral dos Democratas. Bernie Sanders, com o seu programa entre bons propósitos e ingenuidade, poderia ter sido o catalisador daquela grande fatia de eleitores indecisos com tendências democratas que hoje não votam republicanos mas nem conseguem reconhecer-se no partido democrata.

Obviamente o programa eleitoral é uma coisa, a Presidência é outra: se eleito, Bernie deveria ter aceite os inevitáveis (e pesados) compromissos. Mesmo assim, poderia ter sido uma experiência interessante. Paciência.

 

Ipse dixit.