A guerra europeia contra a Italia

Pergunta JF:

Max, sendo você Italiano, como vê a recusa por parte da união europeia (UE) em apoiar a Itália no combate ao Covid-19?

Hoje, o spread continua a subir, atingindo o seu ponto mais alto desde a crise da Dívida Soberana de 2010-2012 (não considerando um pequeno pico em 2018).

No meio da pior emergência económica camuflada de sanitária, o Banco Central Europeu, mais uma vez, não apenas deixa sozinha a Italia à mercê de especuladores, mas até de forma deliberada atira o País para as mandíbulas deles, dando luz verde para desencadear a armadilha.

E não é um “defeito institucional” da área do Euro, mas sim um dos seus fundamentos: o BCE usa o spread como uma ferramenta para pressionar os governos desde sempre. Deveríamos saber melhor do que ninguém. Doutro lado, como Mario Monti admitiu há algum tempo (e como foi confirmado pelo Financial Times), em 2011 Mario Draghi, então Presidente do BCE, decidiu interromper as compras de Títulos do governo italiano para aumentar o spread e forçar Berlusconi à demissão, abrindo caminho para a ascensão do governo “técnico” de Monti.

Como diz Adam Tooze, da Columbia University:

Dizer que são os mercados impõem a sua vontade aos Estados da Zona Euro através do spread é eufemístico. O papel dos mercados em relação ao BCE e ao dominante governo alemão deve ser comparado ao de um grupo paramilitar (os mercados) que está autorizado a realizar um massacre enquanto a polícia (o BCE) se afasta.

Clara a metáfora? Hoje, como há dez anos, o BCE está a fazer o “jogo sujo” para enfraquecer o País e desencadear uma tempestade financeira que justifique medidas de emergência. Da última vez, serviu para impor o açougue social em Monti, mas agora?

O Leitor não pode esquecer que, segundo todas as sondagens, o próximo governo italiano será liderado por Matteo Salvini, da Lega: um partido que reúne anti-europeistas, que avalia em medidas quais a saída da Zona Euro e que deseja travar o fluxo de imigrantes ilegais. O actual governo, liderado pelo Partido Democrata (netos do PCI, o então maior partido comunista do Ocidente) e pelos Cinque Stelle (totalmente vendidos aos burocratas de Bruxelas) não goza de grandes simpatias populares. Vice-versa, a Lega consegue 30.3% das preferências: ao somar os aliados “naturais” quais Fratelli d’Italia (12%) e Forza Italia (5.5%), consegue uma cómoda maioria relativa que viabilizaria um novo governo de tendências anti-europeistas.

Mais desta forma cairia a candidatura de Mario Draghi (ainda ele) para o lugar de Presidente da Republica (que em Italia é votado pelo Parlamento) ao qual já parece destinado.

Objectivo final deste ataque será, muito provavelmente, o envio dum comissário europeu (estilo Troika em Portugal) que, entre as outras coisas, faça aprovar o famigerado Mecanismo de Estabilidade Europeu (que, obviamente, seria rejeitado pelo próximo governo). Neste aspecto, a recente frase da actual chefe da BCE, Christine Lagarde (“Não estamos aqui para reduzir os spread”), não foi um erro mas palavras bem calculadas que tinham como objectivo (alcançado) de atirar para o pânico as Bolsas e sepultar ainda mais o spread italiano.

Pelo que, na verdade não há nada de novo debaixo do sol: vivemos numa ditadura disfarçada de regime democrático, na qual as escolhas dos eleitores são submetidas à aprovação dos maiores agentes económicos “progressistas”, no Velho Continente bem representados politicamente pela União Europeia (que podemos ler “Alemanha”) e economicamente pelo Banco Central Europeu.

 

Ipse dixit.

2 Replies to “A guerra europeia contra a Italia”

  1. Tendo em conta o panorama político Italiano, se Matteo Salvini vier a formar governo em coligação acha que poderemos assistir a uma saída da Itália da união europeia (ue)?

  2. Olá JF! (sou o Max)

    Acho que o objectivo de Salvini não é sair da Europa, esta é só retórica eleitoral. O que ele quer na verdade são outros pontos: mais flexibilização em termos económicos (basta com o limite de 3% de Dívida/PIB), stop à chegada de imigrantes ilegais, luta mais firme contra o crime (que disparou após a chegada de centenas de milhares de imigrantes ilegais), mais espaço para a economia nacional. Salvini construiu a sua fortuna política sobre estes temas, que têm o apoio da classe média.

    Depois terá também que lidar com os “sovranistas”, aqueles que querem a introdução duma moeda italiana paralela ao Euro. É um desejo em crescimento e acho que Salvini iria utiliza-lo como moeda de troca nas negociações com Bruxelas.

    Fui!

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