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O Polo Norte corre (para a Rússia!)

Há poucos dias a revista Nature publicou um artigo sobre a situação do [wiki title=”Campo magnético terrestre”]campo magnético terrestre;[/wiki] e para o final do mês é esperada a apresentação do novo Modelo Magnético Global ([wiki title=”World Magnetic Model” base=”EN”]WMM[/wiki] o acrónimo inglês), algo muito importante pois representa a base teórica utilizada, por exemplo, pelo Departamento da Defesa dos Estados Unidos, pela Nato e pelos sistemas de navegação militares e civis. E também pelo Leitor, pois o WMM é pré-instalado nos smartphones, sejam Android, sejam iOS. Na prática: o WMM é a base de toda a navegação moderna.

Há quatro anos, Informação Incorrecta publicou o artigo Insólito: a inversão dos Polos, no qual era feito o ponto da situação (e cujas considerações gerais permanecem válidas). Entretanto as coisas mudaram um pouco: o [wiki title=”Polo norte magnético” base=”PT”]Polo Norte magnético[/wiki] da Terra está a afastar-se do Canadá em direção à Sibéria. E até aqui nada de novo, pois é sabido que o Polo Norte magnético não é um ponto fixo na superfície do planeta mas costuma deslocar-se com o passar do tempo. O problema é a velocidade: a versão mais recente do WMM tinha sido apresentada em 2015 e deveria ter durado até 2020, mas o campo magnético está a mudar de forma tão rápida que os pesquisadores já devem altera-lo.

O cerne da questão está em parte no movimento dos Polos e em parte nas outras mudanças que ocorrem no interior do planeta. As deslocações dos líquidos no [wiki title=”Núcleo terrestre”]núcleo central da Terra[/wiki] geram a maior parte do campo magnético, que varia ao longo do tempo com o variar dos fluxos profundos. Em 2016, por exemplo, parte do campo magnético sob o lado norte da América do Sul e sob o leste do Oceano Pacífico aceleraram temporariamente este movimentos profundos. As razões? Desconhecidas. Mas os satélites, como aquele da [wiki title=”Swarm”]missão Swarm[/wiki] da Agência Espacial Europeia, conseguiram detectar os movimentos.

Os actuais problemas do WMM tiveram início no ano passado, em 2018: pesquisadores da NOAA (Centros Nacionais de Informações Ambientais da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica) e da British Geological Survey em Edimburgo estavam a fazer os controles de rotina sobre as mudanças no campo magnético da Terra e perceberam que o modelo tinha-se tornado tão impreciso que estava prestes a exceder os limites aceitáveis para ser utilizado nos sistemas de navegação.

Arnaud Chulliat, geomagnetista da Universidade do Colorado e do NOAA:

Foi uma situação interessante aquela que encontrámos. O que está a acontecer?

A resposta tem duas motivações, como o mesmo Chulliat explicou no mês passado na reunião da American Geophysical Union em Washington.

Em primeiro lugar, o impulso geomagnético de 2016 (aquele citado antes, da América do Sul) chegou na pior altura possível, ou seja, imediatamente após a actualização de 2015 feita ao WMM. Assim, o campo magnético variou imediatamente após a última atualização do modelo, de uma forma não prevista.

A seguir: o movimento do Polo Norte magnético agravou o problema. O Polo vagueia de forma imprevisível e isso sempre fascinou exploradores e cientistas, desde que James Clark Ross o mediu pela primeira vez em 1831 na zona ártica do Canada. Em meados dos anos 90, o Polo Norte magnético deslocava-se com uma velocidade de cerca de 15 quilómetros por ano: hoje viaja a 55 quilómetros por ano. Em 2001 entrou no Oceano Ártico, em 2018 cruzou a linha de mudança de data no hemisfério oriental e actualmente está a dirigir-se para o norte da Sibéria. O facto que o Polo esteja a acelerar torna os nosso modelos mais propensos a erros: e, depois dum certo limite, tais erros poderiam ter consequências catastróficas na navegação marítima e aérea.

Elaboração imagem da revista Nature

Para resolver o problema, o WMM será revisto e espera-se que a nova versão seja mais precisa e utilizável com confiança pelo menos até a próxima actualização, programada para 2020.

Enquanto isso, os cientistas estão a trabalhar para entender por qual razão o campo magnético está a mudar tão drasticamente. Os impulsos geomagnético, tais como aquele que se manifestou em 2016, podem ser atribuídos a ondas hidro-magnéticas que chegam do fundo do núcleo do planeta; e o movimento rápido do Polo Norte magnético poderia ser ligado a um jacto de ferro líquido de alta velocidade que está a fluir debaixo do Canadá.

Este jacto parece enfraquecer o campo magnético sob o Canadá e isso significa que a América do Norte está essencialmente a perder o capo magnético em favor da Sibéria. Que fica na Rússia. Maldito Putin, não foi suficiente a Crimeia, agora até o Polo está a ocupar!

 

Ipse dixit.

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Fonte: Nature