Dolce & Gabbana: collecção Inverno 2018

A dupla de estilistas Dolce & Gabbana ficou no centro da tempestade na China por causa dos seus novos comerciais. Um desfile foi anulado, está em curso um boicote aos produtos da empresa, Dolce & Gabbana tiveram que publicar um vídeo com as desculpas.

O lugar comum dos homens gays (D&G) dotados duma superior sensibilidade? Está todo aqui:

Os vídeos são muito menos inocentes de quanto seria possível supor. A rapariga chinesa é pintada como uma estúpida que tenta utilizar os típicos pauzinhos com mau jeito perante a comida ocidental. Além disso, há no texto algumas referências de cariz sexual.

Já os comerciais tinham enervado bastante o público chinês e descobrir que na conta Instagram dos estilistas foi publicado “China, uma nação de merda, ignorantes, devoradoras de cães e mafiosos” não deve ter caído tão bem.

D&G afirmam que a conta Instragam foi hackerada, que como desculpa não brilha por originalidade; Stefano Gabbana acrescenta que “ama a China e a cultura chinesa”. Coisa que ficou patente ao pintar a rapariga como uma bonita deficiente, com todos os estereótipos do caso.

É possível pensar no mau gosto ocidental, com o tique de superioridade que demasiadas vezes distingue o nosso relacionamento com as outras culturas? Claro que sim. Quem é que visionou os comerciais e deu luz verde para a divulgação? Domenico Dolce e o digno compadre Stefano Gabbana, aquele que “ama a cultura chinesa”.

Uma das primeiras coisas que ensinam os consultores de marketing às empresas que desejam vingar em mercados estrangeiros é o facto de que as sensibilidades acerca de determinados assuntos variam com o variar dos lugares. O que é “lícito” aqui pode não ser “lícito” lá e vice-versa. Se aqui em Portugal podes dizer a um amigo “mas vais f…-te” na brincadeira, na Rússia isso não pode ser feito porque os palavrões não são admitidos. Da mesma forma, gozar com as tradições chinesas não é nada divertido do ponto de vista chinês.

Afirmar, como fizeram D&G, que os chineses “não perceberam” a verdadeira mensagem dos comerciais é outro erro: antes gozas com o povo, depois dizes que não são capazes de perceber. Quando depois és contactado por uma revista chinesa via Instagram, respondes com os insultos que vimos antes (dialogo ocorrido entre a jornalista e D&G: “Olhem que se continuarem eu vou publicar tudo”, resposta “E publica o que te apetecer, quero lá saber!”).

Esta é uma das razões do presente artigo: realçar a arrogância, a insensibilidade, a altivez, a estupidez com as quais estas empresas ocidentais tratam o “resto do mundo”. Que depois é a mesma forma como tratam o público ocidental: só que connosco utilizam formas mais “soft”, então temos os ecrãs invadidos com spot de mulheres bonitas, luxo, glamour, olhares sensuais, músicas românticas e toda a tralha que costuma aparecer perto do Natal.

A segunda razão que está na base deste artigo é a seguinte: as culpas são da dupla D&G, disso não há dúvida, mas onde foram pensados e realizados inteiramente os comerciais? Na China, por chineses. Não dá da pensar isso, nem um pouco?

 

Ipse dixit.

2 Replies to “Dolce & Gabbana: collecção Inverno 2018”

  1. “A segunda razão que está na base deste artigo é a seguinte: as culpas são da dupla D&G, disso não há dúvida, mas onde foram pensados e realizados inteiramente os comerciais? Na China, por chineses. Não dá pensar isso, nem um pouco?”
    Caramba!!

  2. Para os chineses que produziram o comercial, valeu a máxima: “pagou bem , perigo não tem”.

    Mais do mesmo. É só mais uma cultura se achando superior a outra. Os norte-americanos fazem muito disso com os mexicanos e indianos. Até aqui ( pasmem !! ) gostamos de ridicularizar os paraguaios. Já que falei do Paraguai, estive ano passado visitando a Usina de Itaipu ( fronteira brasil-Paraguai ) e ouvi relatos dos brasileiros, espantados com o crescimento do país vizinho.

    Vejam abaixo:
    http://br.rfi.fr/americas/20180314-com-forte-crescimento-economico-paraguai-desponta-no-cenario-internacional

    Abraço.

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