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Bom Todos-os-Santos

Alegria! Hoje é o dia de Todos-os-Santos, festa cristã celebrada em honra de todos os santos e mártires, conhecidos ou não.

O nome original é Festum Omnium Sanctorum (“Festa de Todos-os-Santos”): memorizem, citem e façam um figurão entre parentes e amigos.

Todos-os-Santos é uma festividade totalmente inventada: na Bíblia nunca se fala de Santos, ainda menos duma festa em honra deles. O que não espanta: ao longo dos séculos a Igreja tem distorcido bastante a mensagem do Livro Sagrado e até as palavras de Jesus Cristo. Eis alguns exemplo:

375 d.C. – Enquanto os primeiros cristãos veneram somente Deus (o próprio Jesus recusou ser feito objecto de adoração), a Igreja introduz a adoração dos santos e dos anjos para agradar as tendências pagãs do povo.

431 d.C. -. O Concílio de Éfeso, sob a forte pressão popular que desafiava a ausência de “deusas” no cristianismo, proclama Maria “Mãe de Deus”. A ideia duma “Mãe de Deus” é já por si hilariante, mas a figura preenche o vazio deixado pelas deusas da religião pagã. Maria ocupou o lugar que antigamente era de Diana, Ísis, Astarte e várias outras. Paralelamente foram introduzidos alguns “factos” (como o nascimento virginal) que faziam lembrar os contos pagãos sobre filhos semi-deuses (Hércules, Mitra, Horus, etc.).

593 d.C. – O bispo de Roma Gregório Magno inventa o Purgatório. Pode parecer apenas um pormenor, mas em verdade o bom Gregório encontrou uma mina: este conto permitirá que a Igreja, por muitos séculos, venda sufrágios, indulgências, promoções no Paraíso. Um fluxo inimaginável de dinheiro que de espiritual tem pouco mas que em Roma agradecem.

610 d.C. – Pela primeira vez um bispo de Roma é proclamado Papa. A figura do Papa não existe na Bíblia: a ideia foi do imperador Foca, que assumiu o poder após ter assassinado o seu antecessor. Foca violenta, portanto. Por este acto criminoso, o Bispo Ciriaco de Constantinopla excomungou-o, mas Foca em retaliação proclamou “Papa” (ou seja, chefe de todos os bispos) o bispo de Roma. Este era Gregório I, que recusou tal “promoção” pois contrária à tradição episcopal da igreja cristã. No entanto, o sucessivo bispo de Roma, Bonifácio III, concordou em usar o título de “Papa”.

O cristianismo original era claramente contrário aos líderes espirituais. A autoridade era exercida mais ou menos democraticamente por meio de conselhos. E a mensagem original de Jesus era muito mais radical:

Vós, porém, não queirais ser chamados Mestre, porque um só é o vosso Mestre, a saber, o Cristo, e todos vós sois irmãos.
E a ninguém na terra chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus.
Nem vos chameis mestres, porque um só é o vosso Mestre, que é o Cristo.

Mateus 23:8-10

Portanto, nada de Mestre (“Rabi” no original), Papa, Bispo, Cardeal, etc.: há um Deus, um Mestre (Jesus) e todos os outros são “irmãos”.

788 d.C. – A Igreja Católica adopta oficialmente a adoração da cruz, das imagens e das relíquias dos santos. Práticas obviamente supersticiosas. Os primeiros cristãos consideravam como idolatria este tipo de atitude. A versão original dos Dez Mandamentos (que depois eram 14 ou, melhor ainda, 613) de Moisés rezava ao ponto 3:

Não farás para ti imagem de escultura

Ex 20:1-17

Não farás para ti nenhum ídolo, nenhuma imagem de qualquer coisa no céu, na terra ou nas águas debaixo da terra.

Dt 5:6-21

Extremamente claro: Moisés proibia a adoração de imagens e Moisés repetia quanto dito directamente por Deus. A Igreja mudou a lista dos Dez Mandamentos, censurando o terceiro Mandamento original.

995 d.C. – João XIV introduz a “canonização dos santos”. O termo “santo” era utilizado em origem pelos cristãos: derivava do nome dum antigo deus romano, Sancus, que não deixava violar as promessas e os juramentos. E “santos” eram todos os membros da comunidade cristã. S.Paolo costumava concluir as suas cartas com a expressão “saudações a todos os santos”, isso é “a todos os membros da comunidade”. A ideia de que ser um santo é um condições “superior” não tem cabimento na teologia cristã original.

1079 d.C. – Gregório VII introduz o celibato dos padres. O que, mais uma vez, vai contra os preceitos da Bíblia. No Novo Testamento, de acordo com S.Paulo, o padre deve ter família, porque:

É necessário, portanto, que o bispo seja irrepreensível, esposo de uma só mulher, temperante, sóbrio, modesto, hospitaleiro, apto para ensinar; não dado ao vinho, não violento, porém cordato, inimigo de contendas, não avarento; e que governe bem a própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito (pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?).

1a Epistola a Timóteo, cap. 3

1090 d.C. – É introduzido o rosário, a corrente com os grãos, cada grão um Ave Maria. Tinha dito Jesus:

Mas tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente.
E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que por muito falarem serão ouvidos.
Não vos assemelheis, pois, a eles; porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes de vós lho pedirdes.

Mateus 6:6-8

1184 d.C. – O Conselho de Verona institui a inquisição dos hereges. De todas as invenções da Igreja Católica, esta foi aquela que ficou mais longe do espírito e da letra do Evangelho assim como do mero espírito humanitário. Nos sucessivos cinco séculos a história da Igreja Católica será um histórico criminal, feito de extermínio, tortura e repressão. Não seria mal substituir a festa de Todos-os-Santos com algo para lembrar todas as vítimas inocentes da Igreja ao longo dos séculos.

1190 d.C. – Começa a venda das indulgências, um dos pontos mais altos atingidos pela degeneração moral: dinheiro em troca de salvação. Que o próprio Deus possa ser subornado com dinheiro é um esquema mental que terá consequências catastróficas sobre a ética dominante dos Países católicos.

1215 d.C. – O Papa Inocêncio III proclama o dogma da transubstanciação. Isto é, o pão da Eucaristia deixa de ser um simples símbolo de comunhão para tornar-se “verdadeiro corpo e sangue de Cristo”. Com isso, a Igreja reduz o pobre Nazareno a uma pequena partícula farinácea enfiada nas bocas dos fiéis. Espiritualmente notável.

1215 d.C. – No mesmo ano, Inocêncio III (sempre ele) torna obrigatória a “confissão auricular”, aquela que deve ser feita ao ouvido do padre. Os primeiros cristãos ofereciam apenas o arrependimento a Deus, num percurso interior.

1229 d.C. – A Igreja Católica, agora já muito distante das origens do cristianismo, como medida de precaução e para evitar disputas, decide colocar a Bíblia no índice dos livros proibidos. Um fiel que se atrevia a ler o Evangelho arriscava a pena de morte como um herege. O catolicismo tornava-se assim uma religião fundada em palavras que era proibido ler. O sentido do ridículo atinge novos topos.

1311 d.C. – Ano em que o baptismo das crianças por aspersão de crianças é legalizado pelo Conselho de Ravenna. Os primeiros cristãos baptizavam apenas os adultos: isso porque o baptismo era um mero rito que simbolizava o renascimento, uma iniciação do convertido. O baptismo, portanto, deveria ser um acto inteiramente consciente, com o qual o fiel decide mudar de vida e entregar-se a Deus. Os bebés têm que mudar de vida?

1439 d C. – O Concílio de Florença transforma a lenda do Purgatório num dogma de fé. Não há absolutamente nada nas Escrituras que aluda a um tal lugar metafísico, trata-se de uma invenção total. Que, todavia, fornece dinheiro real com o sistema das indulgências.

1854 d.C. – Pio IX proclama o novo dogma da chamada Imaculada Conceição. Continua o processo de divinização de Maria, porque a Igreja Católica sabe que isso acentua o papel de “divindade materna”. A questão da virgindade de Maria sempre foi muito discutida: na Bíblia não há indicações claras acerca disso. Mateus é o único que fala do assunto:

E não a conheceu até que deu à luz seu filho, o primogénito; e pôs-lhe por nome Jesus.

Mateus 1:25

Mas reparamos: “não a conheceu atè que deu à luz”. E depois?

Em Lucas há mais um indício, na altura da Anunciação:

Perguntou Maria ao anjo: “Como acontecerá isso, se sou virgem? ”

Lucas 1:34-37

Todavia nem Mateus nem Lucas falam dum voto de castidade de Maria: afirmam simplesmente que a mãe de Jesus até então era virgem. Como explica o padre jesuíta Juan Masia em Periodista Digital:

A Anunciação a Maria e o anúncio feito a José são ambos enquadrados num sonho e não são uma aula de biologia, nem uma sessão de sexologia, nem o registro histórico de um casamento excepcional, nem mesmo de um nascimento sobrenatural.

1870 d.C. – Pio IX impõe algo que nenhum Papa tinha tido coragem de afirmar: a infalibilidade do Papa. Muito simplesmente: o Papa nunca erra. O melhor exemplo de humildade cristã.

1950 d.C. – Pio XII proclama que o corpo de Maria “voou” para o céu (dogma da Assunção). Onde estará agora? Em órbita ao redor da Terra, entre os satélites ou já perto da Lua? Obviamente na Bíblia não se fala de Assunção, no entanto o conto deu jeito para inserir um feriado no dia (15 de Agosto) antigamente em honra da deusa Diana.

Portanto: bom Todos-os-Santos para todos!

 

Ipse dixit.