Site icon

Vida de blog: o fim do conspiracionismo anti-judeu

E chegamos assim ao último capítulo da saga “o judeu é criminoso”. Admito que a minha intenção era aquela de continuar a investigar, mas as reações ao artigo “A questão judaica: Benjamin Freedman” foram tão míseras que obrigam a uma reflexão: vale a pena investir mais tempo e esforço num assunto que ninguém consegue, não digo “provar”, mas aos menos “justificar”? É lícito esperar uma discussão construtiva quando a contraparte demonstra ser totalmente incapaz de aportar argumentos?

Com a publicação do discurso de Benjamin Freedman e a respectiva análise, a intenção era clara: desmontar um dos pilares desta teoria (o discurso de Freedman) e dar aos seus apoiantes uma oportunidade para responder utilizando a mesma ferramenta (a análise). Isso porque os apoiantes desta teoria parecem ter comparecido em massa no blog durante os últimos tempos, condicionando até as escolhas de Leitores de velha data. Por esta razão pareceu-me bem enfrentar o assunto.

Como reparou Krowler, a tradução e a análise dos factos contidos no discurso de Freedman levaram tempo, algo normal quando a vontade for aquela de apresentar um bom trabalho, não apenas fundamentado no “acho que” ou no “ouvi dizer que…”. Não estou à procura de elogios: é só para frisar como foi preciso tempo e esforço para debater o tema de forma minimamente pertinente. Até decidi impor-me alguns limites, pois haveria mais para acrescentar, mas decidi restringir a análise aos factos mais salientes.

Perante isso, era suposto esperar uma reacção do mesmo nível, sobretudo em termos de análise. Isso é: evitar os proclamas, as frases vazias, os “ouvi dizer que” para concentrar-se nos factos. Porque uma teoria que não consiga ser apoiada por factos não passa duma fantasia.

Até deixei o artículo com o discurso de Freedman em evidência, não acrescentando mais durante mais de 24 horas para não retirar-lhe visibilidade e, ao mesmo tempo, para dar todo o tempo necessário para que os seus apoiantes pudessem procurar, analisar, escrever. Sinceramente: mais do que isso não sei o que fazer.

Os resultados?

Chaplin

Chaplin, o principal impulsionador do teorema “todos os judeus são criminosos e querem governar o mundo”, respondeu com uma nova teoria, segundo a qual os semitas estão empenhados numa luta contra os alemães desde a noite dos tempos, luta obviamente ganha pelos terríveis judeus. Depois sugeriu que o blog dedicasse espaço à “função clandestina (ou no mínimo discreta) das Universidades Republicanas e Democráticas” que cooptam alunos com capacidades para inseri-los em fraternidades/irmandades e “torna-los verdadeiros conspiradores sociais”.

A seguir apresentou uma longa exposição sobre os dados do Holocausto. E acabou entrando no mundo da filosofia, segundo o qual quem não confia nas suas opiniões afinal “acredita piamente, sem se dar conta na maior parte do tempo, em verdadeiras lendas/mitos” apresentados pelo “arcabouço doutrinário acadêmico”.

Resumindo: após ter alegremente ignorado o discurso relativo aos hebreus ortodoxos, que defendem um judaismo bem diferente daquele que gosta de apresentar e por isso são voluntariamente “esquecidos”, agora Chaplin responde com mais conspirações (a luta dos judeus contra os alemães ao longo dos milénios), uma dissertação não pedida acerca do Holocausto (curiosamente algo que o blog já tinha tratado em moldes muito parecidos, mas nada disso tem a ver com o discurso de Freedman), observando que os partidos políticos têm escolas nas quais tentam identificar os alunos mais dotados (olha só a novidade…), para acabar com a cereja no topo do bolo: quem não acredita nas teoria dele é um pobre estúpido que engole tudo o que o “arcabouço doutrinário acadêmico” propõe.

Chaplin não tem a menor capacidade para contra-analisar o discurso de Freedman, não consegue apresentar provas, factos, documentos, seja lá o que for. Pode só continuar a repetir que “os judeus são criminosos” e que “quem não acredita nisso é um estúpido ingenuo” mas nada mais.

Chaplin, o blog não vai gastar nem meia palavra sobre a heroica luta das elites alemãs contra os pérfidos judeus ao longo dos séculos e nem meia palavra acerca da incrível descoberta segundo a qual existem escolas de partidos nas quais os alunos mais dotados são selecionados (ooooohhhhhh!!!!). Eu nem tento fazer-lhe mudar de ideia, limito-me a convida-lo para que deixe as coisas complexas para outros com mais capacidades: porque o nosso mundo é infinitamente mais complicado daquilo que parece, a ideia dos bons dum lado e dos maus do outro é algo que pertence à ficção, não ao nosso mundo.

Aliás, o blog passa a ignorar o assunto porque totalmente desprovidos de bases, não oferecendo nada mais do que uma chave de leitura infantil para mentes simples. E, pessoalmente, acho que os Leitores de Informação Incorrecta pedem mais do que isso. Já convidei Chaplin a abrir um seu blog: não era uma provocação, era uma sugestão autêntica, porque acho que o seu tempo em Informação Incorrecta acabou. Abra um blog onde poder recolher os adeptos da sua teoria, aprofundam, investiguem, discutam, criem e mantenham vivo o vosso mundo. Mas fora daqui. Obrigado.

Última nota, sempre para Chaplin: longe de mim a ideia de ofender, mas se aquelas apresentadas forem as suas ideias de verdade (e tenho as minhas dúvidas acerca disso), procure ajuda porque a sua vida deve ser um autêntico inferno.

Os Anónimos

Além de Chaplin há (supostamente) outros Leitores que defendem a teoria do “judeu criminoso”. Nenhum deles tem a capacidade para contra-analisar o discurso de Freedman e todos mexem-se na senda indicada por Chaplin. Não admira: não há maneira de apoiar uma reconstrução tão absurda. Vamos ver.

Não entendo essa dependência quase reverente relação aos sofismas apresentados pelo blogueiro. Se o assunto lhe interessa e não se sente devidamente esclarecido , investigue por si mesmo, confie no seu discernimento.

O Anónimo fala de “sofismas” e, dado que espaço não falta, esta seria uma boa ocasião para frisar quais estes meus sofismas, quais os meus erros. Mas não, ficamos nos “sofismas”, nada mais. Uma pena. Sem surpresa aparece o espanto do Anónimo ao constatar que, quando uma pessoa raciocina, os Leitores tendem a apreciar esta atitude. Este é um ponto importante, que nem Chaplin nem os alegados acólitos deles conseguem interpretar. Aquela que chamam de “reverência” é na verdade “respeito”, construído ao longo de anos por quem, por sua vez, trata com respeito os Leitores, não tentando vender-lhes teorias absurdas, sem chama-los de analfabetas se não partilharem o ponto de vista, sem recorrer aos insultos uma vez acabados os argumentos.

Chamo a atenção, em particular dos Leitores mais antigos, acerca dum ponto: nunca o blog foi tão controverso, tão “campo de batalha”, tão insultuoso desde quando compareceram Chaplin e os alegados acólitos. Tragam as vossas conclusões.

Quanto ás “imprecisões históricas”, recordo que a história é sempre escrita pelos vencedores, e que estes são os mesmos que dominam as intrujices do mainstream mídia

Esta é uma visão interessante porque bem demonstra o esquema de raciocínio utilizado pelos conspiradores sionistas. Parte-se duma afirmação verdadeira (“a história é sempre escrita pelos vencedores”) para declarar que quem não acredita na versão apresentada é vítima das intrujices dos que dominam o mainstream. Isso significa o seguinte: tudo o que é possível encontrar que não esteja em linha com a conspiração é falso. Não importa quão profunda ou vária será a pesquisa: os dados “antipáticos” são obviamente falsos, manipulados.

É exactamente a visão utilizada por quem apoia Nibiru ou a Terra Plana: as fotografias da Nasa são todas manipuladas; aquelas que mostram algo “estranho” são o fruto da “distração” da Nasa; aquelas declaradas falsas pelos cientistas são obviamente autênticas, só que a Nasa quer encobrir tudo; quem não acredita nisso é um ingénuo ou, pior, um agente parte da conspiração.

De facto, aplicando esta teoria é possível demonstrar tudo e o contrário de tudo: não há limites. Mas onde está o truque? O truque está na incapacidade em procurar e de analisar. As “imprecisões históricas” citadas pelo Anónimo não são “imprecisões”: são erros grosseiros, ao ponto de que contradizem até quanto escrito por Adolf Hitler. Erros que não conseguem justificar o desenvolvimentos dos factos a não ser recorrendo a outros erros grosseiros e distorções. Porque este é o ponto: para reconhecer uma história ré-escrita pelos vencedores é suficiente observar o desenvolvimento dos factos, a relação causa-efeito (que está sempre presente). Claro que se a nossa fonte for Wikipedia ou outro autor e “fantasia” teremos alguma dificuldades em distinguir tais elementos, mas é também claro que quem deseja procurar de forma séria não se limita a fontes como estas.

Depois o mesmo Anónimo apresenta “a prova provada”: uma série de vídeos do General da reserva Gerd Schultze-Rhonhof. Não sei o que tem a ver Gerd Schultze-Rhonhof com quanto afirmado por Ben Freedman, que trata da Segunda Guerra Mundial de forma apenas tangencial. O facto de Gerd Schultze-Rhonhof propor uma (válida) ré-leitura da Segunda Guerra Mundial justifica os erros grosseiros e as fantasias do discurso de Freedman? Não me parece.

Como bem disse P.Lopes:

e os leitores poderiam começar a vomitar só de ouvir falar em mais conspirações

E não apenas os Leitores, acrescento. O blog entrou num círculo em que o assunto de fundo é apenas um: a super-mega-conspiração judaica para dominar o mundo. Pior: tudo isso é suportado apenas por teorias que ninguém consegue provar, que conseguem viver apenas nas mentes de alguns, defendidas com suposições, alegações, erros macroscópicos, insultos se for o caso.

Peço desculpa aos Leitores pois a responsabilidade em parte é minha também: a ideia dum blog “aberto”, onde os assuntos tratados são o fruto das opções de todos e não apenas do Autor, tem deste problemas. Mas cabe ao Autor retomar o normal percurso, afastando as teorias que visam apenas criar “nuvens de pó” para ocultar o que se passa na realidade.

Admito ter ficado desiludido. Quem, como eu (e, suponho, os Leitores do blog) está sempre à procura de algo que possa ajudar a melhor entender o mundo, sabe que perante uma teoria, apesar de aparentemente descabida, é possível encontrar elementos de interesse. Mas no caso da teoria do “judeu criminoso” não há nada: o vazio absoluto, os insultos.

Vale quanto dito ao Chaplin: procurem ajuda, entrem numa igreja se for o caso, será sempre melhor de que viver nas vossas condições actuais.

Mais do que uma dúvida

Isso causa estranheza e dúvida: para quê, afinal? Qual o objectivo? invadir e deturpar a vida dum blog apenas para demonstrar que o nosso ponto de vista é o melhor? Que os outros estão todos enganados? A tal ponto chega a frustração da nossa vida social? É possível, mas sugiro outra interpretação.

Uma possibilidade é a seguinte: ao revestir o assunto “sionismo” com uma camada de racismo puro (“todos os judeus são criminosos”), é automaticamente de-potenciada qualquer crítica contra tudo o que for hebraico. E o sionismo alcança o seu objectivo: acusar de “antissemitismo” todos os que criticam determinadas atitudes tipicamente israelitas. É a mesma atitude que utiliza israel para defender os seus actos, podemos encontra-la facilmente nos media.

Só desta forma é possível justificar o (muito relativo, verdade seja dita) sucesso duma teoria vazia, sem nenhuma fundamentação, que consiste em repetir até a náusea sempre os mesmos princípios e que quer demonstrar só uma coisa: que todos os judeus são criminosos. Se Chaplin e acólitos sejam partes activas neste processo sionista ou apenas vítimas inconscientes, não sei e nem estou interessado nisso. O que me interessa é o blog, que é e continuará a ser, entre as outras coisas, anti-sionista.

É por esta razão que acaba aqui a questão da super-mega-conspiração judaica: a partir de hoje o blog deixa de tratar desta teoria, seja sob forma de artigos, seja sob forma de comentários.

Isso significa que os comentários vão ser censurados também? Obviamente sim, em particular os comentários de Chaplin e de todos os outros infelizes cujo fim é apenas desestabilizar e distrair o blog. Lamento, mas se o desejo for criar caos, insultar, defender o cego racismo e esconder os crimes do sionismo, então a minha tarefa é impedir isso e voltar à normalidade.

 

Ipse dixit.