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Argentina e FMI: olé!

Como já antecipado (Argentina: um País como prenda) a Argentina cai nas garras do Fundo Monetário Internacional, o qual aceitou a petição apresentada pelo regime neoliberal de Mauricio Macri. A Argentina receberá um empréstimo de 50 bilhões de Dólares do organismo internacional. Através de um comunicado de imprensa, o Fundo, chefiado pela francês Christine Lagarde, anunciou que o governo argentino solicitou essa intervenção para evitar o colapso da atividade económica e industrial do País e para eliminar o risco de uma grave recessão.

Mas, como não há refeições de borla, a intervenção do FMI vai custar ao argentinos lágrimas e sangue: para receber o empréstimo, a Argentina será forçada a liberar a taxa de câmbio e a parar de vender reservas para manter um Dólar na casa dos 25 Pesos.

O que implica isso? O montante solicitado fará com que a moeda argentina desvalorize 40%:  o que significa uma repentina subida de todos os preços. E boa parte deste aumento não será compensada com a subida dos salários. Os argentinos ficam todos mais pobres, é previsível que o Dólar atinja a marca de 30 – 35 Pesos.

O anúncio oficial do acordo com o FMI causou a imediata reação da oposição kirchneriana:

Temos certeza de que o acordo com o FMI terá horríveis consequências sociais. A recessão aumentará, o ajustamento irá piorar o mercado interno e a situação social entrará em colapso. Nós não estamos a lançar nenhuma campanha de medo, existem muitos exemplos do que será aplicado na Argentina; um modelo que já falhou em todos os Países em que foi implementado, basta olhar para a realidade da Grécia.

E isso é verdade: a situação da Grécia é o mais recente exemplo dos efeitos que as medidas do FMI implicam. O bloco dos deputados do FpV-PJ (Frente para la Victoria) afirma:

Acreditamos que a pressa de Maurício Macri de fechar o negócio com o Fundo vai contra os interesses da nação e do povo argentino. Portanto, continuamos a exigir que o acordo seja discutido pelos legisladores no Congresso Nacional, diante dos argentinos.

O líder do grupo, Agustin Rossi, acrescenta:

O Presidente e o seu gabinete ainda não escutam as pessoas. Este acordo não tem legitimidade social ou popular.

Tarde demais: as garras já chegaram. Cerca de 50.000 milhões era um empréstimo que o Fundo Monetário Internacional (FMI) aprovou-o a Argentina, disse quinta-feira

Juntamente com o Presidente do Banco Central, Federico Sturzenegger, o Ministro argentino das Finanças, Nicolas Dujovne, revelou os detalhes do acordo: um período de 36 meses para o pagamento e a redução do deficit fiscal de 3.2 até 2020. Numa primeira fase redução de 2.7 (em 2018), redução de 1.3 em 2019, equilíbrio primário em 2020 e um excedente de 0.5 em 2021.

O segredo para alcançar estes objectivos? Simples: redução da despesa pública, especificamente prevista no acordo. É uma meta realista? Difícil num País que nas semanas passadas teve que pagar 30.000 milhões de Dólares só em juros sobre a dívida.

As novas medidas vão mexer numa sociedade que há dois anos já tinha sido abalada pelas primeiras medidas do governo Macri: eliminação de subsídios e aumento dos impostos, numa tentativa de ajustar as contas internas para reduzir o deficit. Mas os dados económicos não ajudam: o País está a passar por uma enorme seca o que atinge os campos de soja e milho, duas das exportações essenciais da Argentina. Estima-se que as perdas desses dois setores sejam de cerca de 5 bilhões de Dólares, um acréscimo de quase 1% no PIB: o que, uma vez mais, demonstra quais prejuízos possam derivar das monoculturas.

Uma condição económica não optimal, a seca duma lado e algumas escolhas errada do outro perfazem o quadro geral: a mudança abrupta nas taxas de juros, operada pelo Banco Central, o corte do financiamento internacional e a fuga de capitais levaram a uma desvalorização do Peso de 34% só neste ano. Tudo isso provoca uma subida dos preços domésticos e uma consequente redução das compras por parte dos cidadãos. Mas é um círculo vicioso: menos compras significam menos produção, menos investimentos, menos dinheiro a circular, etc.

É o exacto contrário de quanto tinha prometido Macri: os salários não subiram o suficiente para lidar com o aumento dos preços e da inflação. Em 2015 um metro cúbico de gás custava quatro Pesos, agora custa 12.

Culpa só do Macri? Não. O mal estar já estava presente, fruto de escolhas macro-económicas erradas durante as últimas décadas. Sem dúvida, as opções do governo Macri foram o golpe da misericórdia. Há uma insistência em receitas e esquemas macroeconómicos que já falharam na Argentina nos anos ’70 e ’90: uma economia originalmente muito vulnerável, afundada com o aumento do endividamento externo. A escolha do FMI percorre a mesma senda: já foi um recurso utilizado no passado, são 20 os programas do FMI assinados em Buenos Aires ao longo das décadas. Os resultados? São aqueles que podem ser observados hoje com a assinatura do programa vigésimo primeiro.

 

Ipse dixit.

Fonte: Tele Sur, Emol, Magnet