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A conspiração demo-pluto-judáico-maçonica (O Cantinho dos Anti-Semitas)

Este artigo deveria ter tido como assunto a “confissão” de Benjamin Freedman. Quem era este?

Segundo a sábia Wikipedia:

Benjamin Harrison Freedman (Nova Iorque, 4 de outubro de 1890 – Maio de 1984) foi um empresário judeu americano radicado em Nova Iorque. Freedman ficou conhecido por sua oratória e como escritor, do que se valia a mostrar sua visão política antissionista e anticomunista. Era um judeu asquenaze e converteu-se ao cristianismo.

Em 1961, Freedman deu um discurso no hotel The Willard InterContinental, em Washington (EUA), não longe da Casa Branca. Neste discurso, Freedman revela a mega-conspiração sionista que abrange passado, presente e futuro. Obviamente, Freedman tornou-se o ídolo dos anti-sionistas e dos anti-semitas (porque se não é possível separar o judaísmo do sionismo, um anti-sionista deve ser necessariamente anti-semita), a prova-provada de que o planeta é alvo final de todos os hebreus.

Vamos falar disso? Não: o vídeo está aí, legendado para quem não entende o idioma inglês, não são precisas explicações. Pede-se apenas uma coisa: ligar o cérebro.

A realidade não existe

Resumo: segundo a visão anti-sionista e anti-semita, o planeta hoje está controlado pela grande conspiração demo-pluto-judáico-maçonica, que reúne as democracias ocidentais (isso é, as classes políticas que gerem o Ocidente), a Grande Finança, os judeus e os maçons: todos juntos para dominar o mundo.

É explicado que:

Uma vez assumido isso, as consequências são as seguintes:

…e muito mais ainda, simplesmente não existem. Não podem existir porque não fazem sentido.

Se a Administração Trump e a anterior Obama são parte da mesma conspiração, porque fazer-se a guerra? Se Moscovo está ao serviço dos demo-pluto-judáico-maçonicos, por qual razão a defesa da Síria, do Irão e os atritos com o Ocidente? Se a City de Londres e Bruxelas estão nas mãos dos sionistas, qual o sentido do Brexit? Por qual motivo instalar o Isis no Afeganistão para atacar a Rússia se esta faz parte do jogo? Porque os americanos têm que deitar abaixo um regime filo-russo na Ucrânia e substitui-lo com outro pró-Ocidente? Para que implementar uma União Europeia e depois tentar continuamente sabota-la? Por qual razão propor uns acordos comerciais transcontinentais e depois apaga-los enquanto uma parte da Finança ainda os quer? Seguir a globalização para depois fazer marcha atrás?

Conseguem ver a absurdidade disso? Liguem o cérebro, façam o favor não a mim mas a vocês. Mas realmente achamos que tudo não passa dum entretenimento para distrair o povo? O mundo estaria nas mãos desta grande conspiração global que consegue reunir judaicos, democracias ocidentais, finança e maçons para obter o quê? Uma sociedade em plena fase de decadência e decomposição?

Um planeta parado

Mas não acaba aqui, porque a conspiração demo-pluto-judáico-maçonica atravessa os séculos.

As duas Guerras Mundiais foram uma criação demo-pluto-judáico-maçonica; o Comunismo também era parte do mesmo plano; a queda das monarquias, a implementação das repúblicas, a Revolução Francesa, a independência dos Estados Unidos… tudo parte do plano demo-pluto-judáico-maçonico. Na prática, durante os últimos 300 anos nada aconteceu que não fosse parte do plano para dominar o mundo. Tenho a certeza absoluta que ao ir mais atrás seria possível encontrar a longa mão demo-pluto-judáico-maçonica na queda de Roma, na Antiga Grécia, no Diluvio Universal e na invenção da escrita. Porque no nosso planeta nada acontece se não faz parte do plano, nada mesmo.

Mas valha-me Deus, mas é tão difícil pôr a funcionar dois neurónios? Os demo-pluto-judáico-maçonicos estariam a trabalhar no grande plano há séculos: provocaram revoluções em todos os continentes e até duas guerras mundiais; e após 300 anos (no mínimo) qual o resultado? Nem conseguem segurar as fronteiras de israel sem o apoio dos Estados Unidos, têm que embutir-se de ogivas nucleares para evitar de ser apagados dum dia para outro, têm que financiar uma máquina bélica que seria impossível de manter sem apoios do estrangeiro. Provocaram revoluções, guerras, dezenas de milhões de mortos, viraram de avesso inteiros Países e não conseguem controlar um território “grande” uma terceira parte de Portugal? Tão poderosos ao ponto de nem conseguir livrar-se daqueles mortos de fome que são os palestinianos em 70 anos de guerra e guerrilha?

Eu não entendo como uma pessoa normal possa acreditar em tudo isso, porque a teoria da Terra Plana tem bases científicas muito mais sólidas, e está tudo dito.

Repito pela última vez qual o meu ponto de vista.

A super-mega-conspiração demo-pluto-judáico-maçonica

Os sionistas existem: não fazem parte duma mega-conspiração demo-pluto-judáico-maçonica que quer dominar o mundo; são ultra-nacionalistas israelitas, empurrados por motivos de carácter religioso também, que desfrutam a simpatia ou a participação no movimento de pessoas colocadas em algumas posições-chave da nossa sociedade com o propósito de realizar o sonho do “Grande israel” no Médio-Oriente; são apenas uma das fações que lutam para o poder.

Então, não há nenhuma conspiração? Depende do sentido que decidimos dar ao termo “conspiração”. Do meu ponto de vista, um grupo de pessoas com dinheiro e poder que deseja fortalecer o seu monopólio (empresarial, cultural, religioso, etc.) não é uma conspiração: é a simples história da Humanidade. Sempre foi assim, onde está a novidade?

O termo “conspiração” serve para quê? Para ridicularizar a realidade, para retirar-lhe seriedade e confina-la no âmbito dos alienados da informação alternativa, aqueles que acreditam na Terra Plana, nos Annunaki, nos Reptilianos, etc. Sabemos qual o papel das palavras na propaganda: “conspiração” é um excelente termo para quem deseja apagar da mente das massas a ideia dum plano para controlar os governos e as economias.

O termo “conspiração demo-pluto-judáico-maçonica” é ainda pior. Além dos problemas da “conspiração”, o termo é enganador pois subentende um grupo monolítico, compacto: e os eventos dos últimos dois-três anos demonstram (mais uma vez) o contrário. A chamada “elite” (porque é disso que estamos a falar) não é compacta mas dividida em pelo menos duas fações.

Se depois decidimos retirar “demo-pluto-maçonica” para ficar apenas com “judaica”, o resultado é péssimo: não conseguimos explicar nada daquilo que se passa, a realidade deixa de fazer sentido (ver exemplos acima). Além disso, ao falar de “conspiração judaica” damos uma grande ajuda à propaganda: entramos na área do anti-semitismo, do racismo puro, com o resultado de afastar as massas porque ser racista é politicamente incorrecto.

Porque o Leitor precisa duma super-mega-conspiração?

Porque faz parte da nossa natureza. A ideia duma super-mega-conspiração tem várias funções:

Estas são “pulsões” primitivas, simples, que todos conseguem entender e partilhar sem dificuldades. O que Informação Incorrecta pede aos seus Leitores é um esforço para sair desta visão básica e aceitar a realidade qual ela é: complexa, multifactorial, em parte imprevisível. Um autêntico campo de batalha com mortos e feridos, no qual nós somos não o público inocente mas os participantes. Porque não há publico aqui, todos somos parte disso de forma voluntária ou não.

Aceitar qual única explicação apenas a conspiração judaica significa escolher qual dos lados apoiar: o lado da elite. Porque desta forma aceitamos a visão básica, aquela que simplifica, do inimigo externo, que desresponsabiliza, que faz de nós a “boa gente” eternamente injustiçada. É disso que a elite precisa: pessoas que não pensam, que não tentam entender, que não aprofundam, que não perguntam, que aceitam uma explicação boa para todas as ocasiões.

A realidade

Se o Leitor chegou até aqui já deve ter percebido qual o ponto de vista de Informação Incorrecta. Não há nenhuma conspiração, há apenas uma elite que luta para manter e ampliar o seu poder. Sempre foi assim e não há sinais de que no futuro as coisas possam mudar.

Por aqui não se utiliza o termo “conspiração” porque isso significa pôr a questão na mesma panela dos Annunaki, da Terra Plana, dos Reptilianos. Mas o que a elite tenta fazer é algo incrivelmente sério, que afecta directamente as nossas vidas. Isso merece algo mais duma simples “conspiração”, não acham?

A elite é poderosa mas não invencível. Aliás: a elite tem problemas e sérios também. O principal: não há apenas uma elite mas no mínimo duas (e esta é já por si uma simplificação extrema).

A vertente sionista é transversal (todas as elites são realidades compostas de múltiplos factores que mudam o posicionamento consoante o desenrolar-se dos acontecimentos) e é apenas uma das vertentes em jogo. Por esta razão Informação Incorrecta não pode aceitar a “conspiração judaica”: é racista (culpa todos os judeus de forma indistinta, o que fica contra as evidências), limitativa (concentra todas as atenções sobre os judaicos, subestimando ou até ignorando o papel da elite toda), desviante (confina a realidade no âmbito das conspirações sem sentido).

Final

A partir de hoje recuso continuar a ofender a minha inteligência e aquela de parte dos Leitores com este assunto. Pensam que faço isso porque tenho medo dos judeus? Pensem o que quiserem, estou nas tintas: tentei explicar as minhas razões de forma muito simples, se não conseguem entende-las já não é problema meu.

Informação Incorrecta não vai tornar-se anti-semita e racista apoiando a infantil teoria da conspiração judaica: mudei de Blogger para WordPress por uma questão de princípio, não vou agora fazer um novo favor à propaganda ao ficar confinado no estéril mundo das conspirações de treta. Querem continuar a acreditar no conto de fadas onde há o lobo mau judaico que quer tramar a “boa gente”? Ou querem continuar a disfarçar o vosso racismo com o dito conto de fadas para dar-lhe um aspecto mais aceitável? Na internet, alternativas não faltam: desfrutem, sejam felizes e adeus.

 

Ipse dixit.