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The American Dream: 400 Dólares na conta

Nos últimos anos, o número de pessoas que saem do Estado da Califórnia excede em muito o número de pessoas que lá chegam. As razões estão no crescimento do crime, na péssima situação dos transportes, na crescente epidemia de desabrigados, nos incêndios florestais, em algumas escolhas políticas locais. Seja como for, o resumo é simples: muitas famílias decidem deixar a Califórnia por causa do dinheiro.

Na última década, cerca de cinco milhões de pessoas mudaram-se para outros Estados e a tendência parece ser aquela do fenómeno aumentar, sobretudo se a Califórnia não encontrar uma série de soluções.

O preço médio de uma casa privada nos EUA é de 261 mil Dólares, segundo os dados de Fevereiro deste ano: no entanto, o preço médio duma habitação na Califórnia é de 469 mil Dólares. Em Oklahoma, por exemplo, uma casa é muito mais barata: 116 mil Dólares. No distrito californiano de Santa Clara, onde estão localizadas as sedes da Google e da Apple, o preço médio de uma casa para uma família é de 1.4 milhão.

E no caso do aluguer o panorama não melhora: um apartamento de um quarto na cidade de Los Angeles custa 2.229 Dólares e em San Francisco quase 3.400 Dólares. Para um apartamento com dois quartos, em Los Angeles o preço sobe até 3.200 Dólares e em São Francisco cerca de 4.500 Dólares. Em comparação, alugar um apartamento de um quarto em Las Vegas custa cerca de 925 Dólares (1.122 com dois quartos) enquanto em Phoenix 945 Dólares (1.137 com dois quartos).

Consequência: apesar do (fraco) crescimento económico, nos últimos cinco anos o número de sem casa em Los Angeles aumentou em 50% e no resto do Estado a situação não é melhor. Desabrigados na Califórnia podem ser encontrados em qualquer lugar: dormem em carros, perto dos prédios das administrações municipais, sob os viadutos. O diário Los Angeles Times define esse fenómeno como “uma tragédia humana de proporções extraordinárias”.

Da Califórnia não apenas saem famílias como também empresas. Produzir implica condições complicadas e caras, assim os bens das empresas californianas deixam de ser competitivos no mercado. Apenas os gigantes como Apple e Google enriquecem.

O que acontece na Califórnia é o sintoma de algo que abrange de forma mais ou menos latente todos os Estados Unidos. Espreitando os dados fornecidos pela CIA, vemos que em 2017 a taxa de crescimento foi de 2.2% (produção industrial: + 1.8%), o que coloca os Estados Unidos na 144ª posição mundial. A dívida pública foi de 77.4% do PIB (dado oficial…); a balança corrente (basicamente: o saldo entre exportações e importações) registou um défice de 462 mil milhões de Dólares, colocando os EUA no lugar número 201 em todo o mundo (em comparação: a União Europeia ficou com um activo de 387 bilhões de Dólares), sendo que Washington lidera as classificação mundial das importações. O que bem explica as recentes decisões comerciais da Administração Trump.

Sempre em 2017, os EUA registraram uma dívida externa de 17.910 bilhões de Dólares (a maior do planeta) enquanto a dívida pública é 77.4% do PIB (Produto Interno Bruto).

O que os dados da CIA não apresentam como actualizada é a percentagem da população que vive abaixo da linha de pobreza: o valor mais recente é de 15%, mas é do ano de 2010. A realidade é que muitos cidadãos americanos não podem pagar as despesas imprevistas, como uma conta do hospital ou a reparação do automóvel. E não são poucos aqueles que têm problemas para pagar as refeições completas.

Não se fala aqui de desempregados, mas de pessoas com trabalhos regulares: professores de jardim de infância, operadores de caixa dos supermercados, funcionários de lojas, de restaurantes ou de escritórios. Pessoas que trabalham mas que ficam continuamente à beira do abismo.

De acordo com o estudo da americana United Way, 43% dos americanos médios mal conseguem cobrir os custos de aluguer da casa e da alimentação, apesar de ganharem mais do nível federal oficial que estabelece a linha da pobreza. Em alguns Estados, a percentagem destas famílias é ainda maior: antes vimos os problemas da Califórnia, mas também no Novo México e no Hawai o número de famílias que mal conseguem sobreviver é elevado. Em cada um desses Estados, 49% das famílias trabalham apenas para ter algo para viver. A percentagem mais baixa pertence pertence ao Dakota do Norte: 32%.

O recente relatório da Federal Reserve (Report on the Economic Well-Being of U.S. Households in 2017, Maio de 2018) revela que:

São números que deveriam obrigar a reflectir: aquele dos Estados Unidos é o modelo económico universalmente aceite e implementado. Mas nem no seu próprio berço tal modelo consegue resolver os problemas típicos do “livre mercado” (“livre” por assim dizer): pelo contrário, a situação é aí pior quando comparada com aquela europeia, por exemplo, onde ainda existem mecanismos de intervenção estatal no âmbito social. Hoje o Sonho Americano é ter mais de 400 Dólares na conta.

 

Ipse dixit.

Fontes: The Economic Collapse, United Way via Antidiplomatico, Federal Reserve: Report on the Economic Well-Being of U.S. Households in 2017 (ficheiro pdf, inglês)