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A (falsa) carta de Lulu Santos

A Sempre Muy Nobre Maria envia o que o cantor Lulu Santos escreveu ontem no Jornal Diário de São Paulo. Eu só inseri entre parêntesis os valores em Euros para os Leitores não brasileiros.

Nota: pelo visto, esta carta é falsa. Portanto, na segunda parte do artigo a desmentida do cantor.

Hoje, vendo pessoas morrendo em filas de Hospitais, bandidos matando por R$ 10,00 e pessoas andando feito zumbis nas ruas por causa das drogas, adolescentes que não sabem quanto é 6 x 8, meninas de 14 anos parindo filhos sem pais, toda a classe política desse país esfregando a bandalheira na nossa cara e desfilando uma incompetência absurda, o nosso país sendo ridicularizado por tantos escândalos…

Eu peço perdão ao Brasil pela porcaria que fiz…

Deveria ter ficado em casa quieto ao invés de ir às ruas. Lutei pra que? Pra ver corrupto no poder fazendo manobras pra se manter no poder e por quê agora estamos quietos? Cade você nas ruas? Esqueçam cor de bandeiras. Vamos nos unir e lutar por um só motivo: nossos direitos.

Somos mais de trinta milhões de aposentados!

Não podemos admitir:

  • Policial R$ 3.660,00 [ 843 €] para arriscar a vida;
  • Bombeiro R$ 3.960,00 [ 912 €] para salvar vidas;
  • Professor R$ 2.200,00 [ 506 €] para preparar para a vida;
  • Médico R$ 9.260,00 [ 2.132 €] para manter a vida;

E o Deputado Federal?

  • R$ 26.700,00 [ 6.150 €] (Salário)
  • R$ 94.300,00 [ 21.720 €] (Verba de Gabinete)
  • R$ 53.400,00 [ 12.300 €] (Auxílio Paletó)
  • R$ 5.000,00 [ 1.152 €] (Combustível)
  • R$ 22.000,00 [ 5.068 €]  (Auxílio Moradia)
  • R$ 59.000,00 [ 13.590 €] (Passagens Aéreas)
  • R$ 17.997,00 [ 4.145 €] (Auxílio Saúde)
  • R$ 12.100,00 [ 2.787 €] (Auxílio Educação)
  • R$ 16.400,00 [ 3.777 €] (Auxílio Restaurante)
  • R$ 13.400,00 [ 3.086 €] (Auxílio Cultural)
  • Auxílio Dentista
  • Auxílio Farmácia

E outros, para LASCAR as nossas vidas!

E o trabalhador R$ 937,00 [ 216 €] para sustentar a família.

Será que o problema do Brasil são os trabalhadores? Os aposentados?

Publique!!!

E publico.

A questão dos salários dos políticos não é simples e não é um problema apenas do Brasil. Baixar os vencimentos? Significa “empurrar” os melhores gestores para o sector privado, onde é possível ganhar mais. Aumentar os vencimentos? Significa atrair parasitas e irritar os cidadãos. Pelo que, como ficamos?

O ideal seria disponibilizar um vencimento “sem limites” para quem consiga obter resultados de excelência. Que depois é o que acontece no sector privado, onde o dono duma empresa está disposto a pagar uma fortuna aos melhores gestores. Isso acontece porque, evidentemente, o bom gestor rende à empresa muito mais do que consegue ganhar. No público deveria ser o mesmo, pois o bom resultado “da empresa” é na verdade um bom resultado para toda a sociedade.

O problema é que no sector político não há um relacionamento directo entre o trabalho desenvolvido e quanto recebido: e nem é simples introduzi-lo. Em muitos casos falta um modo para escrutinar e premiar os melhores. A obra dum Ministro é bem visível e assim as suas consequências: mas os deputados? Como distinguir um deputado que trabalha e bem dum que passa o dia a ler o jornal ou navegar na internet (à nossa custa)?

Voltemos ao exemplo do Ministro, porque também aqui há problemas: avaliar os efeitos dum Ministro da Economia é (relativamente) simples, mas que tal o Ministro do Negócios Estrangeiros? Com que base deveria ser avaliado o trabalho dele?

E para todos: quem deveria avaliar? Quem deveria decidir quais merecem um bom ordenado e quais não? Não é simples, ao ponto que até hoje ninguém encontrou a solução ideal e os salários dos políticos continuam a ser objecto de discussão, por vezes feroz.

Solução? Não tenho, mas uma sugestão é possível.

Em Junho de 1900 foi eleito deputado à Câmara pelo Colégio de San Pier d’Arena (Genova) tal Pietro Chiesa, que foi um dos primeiros trabalhadores a entrar no parlamento. Os seus colegas de trabalho, todas pessoas que trabalhavam no porto, colectavam o dinheiro necessário para mantê-lo em Roma, tão importante era que Chiesa os representasse. Um dos seus colegas no parlamento, o deputado-camponês Pietro Abbo, não tendo dinheiro suficiente para ficar em Roma, usava o chamado bilhete permanente emitido pelas Ferrovias do Estado, para poder dormir durante a viagem e estar presente de manhã logo na abertura dos trabalhos da Câmara.

Só em 1912, quando foi introduzida a indemnização parlamentar, Chiesa pôde dispensar a colecta dos colegas e Abbo dormir na capital.

Pergunta: quantos hoje aceitariam submeter-se a este tipo de sacrifício? O que mudou entretanto? É apenas um problema de vencimento ou há algo mais?

Lula Santos desmente

O cantor e compositor Lulu Santos denunciou o uso indevido do seu nome como autor da carta aberta que tem circulado na internet (a publicada acima):

O texto atribuído a mim é absolutamente falso, Fake News da pior espécie, e me admira que algum meio de informação minimamente responsável o esteja veiculando. Não é minha linguagem e tampouco meu pensamento. Repudio.

O texto em questão, que em outras ocasiões também já foi atribuído a Sérgio Reis e Mr. Catra, é uma carta supostamente publicada no Jornal Diário de São Paulo, criticando “a classe política desse país desfilando uma incompetência absurda”. O texto, além dos erros ortográficos, apresenta dados que não são verdadeiros.

Longe de mim a ideia de apagar o artigo: os erros acontecem e esconde-los não é comigo. Informação Incorrecta pede desculpa aos Leitores por esta notícia falsa e também ao directo interessado.

Só uma pergunta: qual o sentido disso? Quem pode ter uma cabeça tão doentia ao ponto de inventar uma carta e assina-la como se fosse doutra pessoa? Para quê? Qual o efeito pretendido? A carta conseguiu enganar Informação Incorrecta e pelo que vi outros sites e blogues ao longodos anos: e daí? Qual o ganho?

 

Ipse dixit.