A situação é complicada, pois o Peso alcança os mínimos históricos e o preço do Dólar atingiu ontem um novo máximo em Buenos Aires: 23 Pesos em troca duma moeda dos Estados Unidos, um ano atrás eram suficientes 15 Pesos. Para conter o colapso, o Banco Central argentino elevou as taxas de juros três vezes desde o mês passado, uma subida de 40%; mas, apesar disso, o Peso continua a perder valor.
Explica Macri:
O ambiente global mudou por causa do aumento das taxas de juros e dos preços do petróleo, a Argentina continua entre os Países mais dependentes do financiamento externo.
É por esta razão que o Presidente falou com o Diretor do FMI, a simpática Christine Lagarde. E é por isso que o governo de Buenos Aires decidiu negociar uma linha de apoio financeiro com Washington. Explica o Ministro do Tesouro argentino, Nicolas Dujovne, que ainda não esclareceu nem a extensão da assistência do FMI e nem os limites financeiros e temporais da ajuda:
Quanto mais segurança pudermos criar nos mercados internacionais, melhor é.
O Ministro continua afirmando que o governo Macri promove uma “política de correção gradual” que está a começar a produzir resultados, mas também lembrou:
A Argentina está exposta à volatilidade do mercado. A mudança no contexto global, como o aumento das taxas nos EUA, levou a uma mudança no fluxo de capitais das economias emergentes para as centrais.
Na frente interna, o bloco de deputados da aliança peronista-kirchnista Frente para la Victoria critica a decisão do Presidente de pedir 30.000 milhões de Dólares ao FMI. Num comunicado, a Frente afirma:
Exigimos do poder executivo que qualquer possível acordo com o FMI, antes da aprovação, seja amplamente discutido no Congresso Nacional. […] A decisão significa um sério revés: nos dois anos e meio de administração de Néstor Kirchner, a Argentina cancelou a dívida com o FMI, 13 anos depois, nos dois anos e meio no cargo, Mauricio Macri nós envia para o Fundo. Os acordos com o FMI foram sempre prejudiciais para o nosso povo. Significaram cortes salariais, pensões, privatizações, demissões no setor público e aumento da pobreza na Argentina, levando o País a crises económicas e sociais muito profundas.
A primeira vez que a Argentina recebeu dinheiro do FMI foi em 1957, após o golpe contra Juan Perón: os militares pediram 75 milhões de Dólares, a relação entre o País e o FMI culminou em Setembro de 2004, quando o Presidente Nestor Kirchner anunciou o reembolso da última prestação do empréstimo e a notícia foi comemorada como uma vitória da soberania nacional, o primeiro passo para a recuperação da grave crise de 2001.
O que está a acontecer parece um filme já visto e traz para a memória à crise da Dívida Pública que transformou os Títulos de Estado de Buenos Aires em papel sem valor. O risco é mais uma crise num País que, nos anos Cinquenta, era um entre os mais ricos do mundo, destino para a imigração dos Países europeus mais pobres. Mas o que está a acontecer não surpreende: a eleição de Mauricio Macri representava uma forte viragem na direção do neoliberalismo e agora é altura de recolher os frutos. Com o actual Presidente, a Argentina voltou ao ano de 2001 e o FMI agradece.
Em apenas dois anos, o homem que havia prometido na sua campanha a redução da inflação e o respeito dos números do emprego, conseguiu fazer crescer a Dívida Exterior em 35%, chegando assim ao total de 307.295 milhões de Dólares, o que representa 56% do Produto Interno Bruto. Culpa apenas do “ambiente global”, do “aumento das taxas de juros e dos preços do petróleo” como afirma Macri? A resposta chega dos Estados Unidos, onde várias agências de notação financeira, como Moody, alertaram acerca das grandes nuvens escuras que pairam sobre o futuro económico da Argentina, apontando também o dedo contra o responsável: a política escolhida pelo Presidente Macri. É nesta linha que encontramos o The Sunday Times, o Financial Times, Fitch e Forbes (curiosamente, os mesmos que antes tinham aplaudido com entusiasmo a eleição do Presidente).
Isso sem mencionar os mais pobres ou os reformados, que fazem saltos mortais para sobreviver com uma taxa anual de inflação que excede 30%.
Diante deste cenário turbulento, Macri escolhe a solução mais temida: chamar de volta o Fundo Monetário Internacional. Claro, haverá mais despedimentos, mais cortes, mais sofrimento e tudo isso ao longo de décadas: será hipotecado o futuro de inteiras gerações. Mas este é o mercado, é o “sistema que funciona”. Um País oferecido de bandeja: uma prenda que a simpática Lagarde aceitará com o rosto sério da ocasião e o coração aos pulos de felicidade. Para Macri e a simpática Christine: missão cumprida.
Ipse dixit.
Fontes: Il Fatto Quotidiano, Telesur