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Síria: dos ventos para as brisas de guerra

Então? Há guerra ou não?
Uma pessoa prepara-se, convida os amigos, compra pipocas, e depois? Nada.

Não é coisa séria. Já não há as guerras dum tempo.

Mas o que se passa? Tentamos perceber.

Até dois dias atrás parecia ter chegado o Dia do Juízo: Trump ameaçava Síria e Rússia, Theresa May e Macron afiavam os sabres. E a Rússia ameaçava o Ocidente todo. Depois algo aconteceu: alguém começou a tirar o travão de mão.

Tweeeeeet!

Ontem, de manhã, chega um tweet de Trump, às 10:57:

A Rússia jura abater todos os mísseis disparados contra a Síria.
Prepara-te Rússia porque eles vão chegar, lindos e novos e
‘inteligentes!’ Não podes aliar-te a um animal que gosta de matar o seu
povo!

Isso mesmo, vai Donald, mostra ao urso bolchevique quem é que manda!
Quarenta minutos depois outro tweet, às 11:37:

As nossas relações com a Rússia são piores do que nunca, incluindo a Guerra Fria. Não há razão para isso. A Rússia precisa da nossa ajuda para a economia, o que seria muito fácil de fazer, e todas as nações precisam de trabalhar juntas. Parar a corrida aos armamentos?

Como assim? E o míssil inteligente? O “animal”? E as minhas pipocas?
Nada. Aliás, hoje marcha trás:

Nunca disse quando um ataque à Síria aconteceria. Pode ser em breve ou não tão cedo! De qualquer forma, os Estados Unidos, sob a minha administração, fizeram um ótimo trabalho ao livrar a região do Isis. Onde está o nosso “Obrigado América”?

Os Estados Unidos livraram a região do Isis? Mas qual filme viu este gajo? Qual “Obrigado”?
Eis que chega o Presidente francês, Macron:

Temos provas de que armas químicas, pelo menos o cloro, foram usadas pelo governo de Bashar al-Assad. 

Ohhh, até que enfim, alguém que não só fala mas mostra factos também. Pessoal, agora Macron vai mostrar as provas, estamos prontos? Tudo pronto, de certeza? Ok, vamos.

Não é para já? Ah, tá bom. Sim, pode ser numa outra altura, não há crise. Ou até nunca, afinal estamos a arriscar uma guerra por causa deste pormenor, porque deveria haver pressa? Se Macron diz que há provas significa que há provas. Não é por nada, mas trabalhou no banco dos Rothschild, o homem é uma garantia.

Portanto, estamos outra vez com um pé por cima da “linha vermelha”, como já tinha acontecido com o simpático Obama. Na altura, o Presidente decidiu fazer inversão de marcha: apagou a linha vermelha e tudo continuou como antes. Isso é: com Assad no poder mas com os rebeldes “moderados” e o Isis que massacravam inocentes. E agora?

A impossível saída

Agora também Trump viu a sua linha vermelha. E, tal como o seu antecessor, também o novo Presidente está a abrandar. Mas com uma diferença: os rebeldes “moderados” estão em pedaços e já não há o Isis. E este é um problema, porque travar agora pode significar:

  1. perder definitivamente a guerra na Síria
  2. enervar sobremaneira o aliado israelita
  3. admitir a vitória regional de Rússia e Irão

Resumindo: perder a cara. Será que Trump pode tolerar o facto de passar para a História como o Presidente que decidiu abdicar duma boa fatia do Médio Oriente? Não parece: os falcões na Administração e Tel Avive bem poderiam apresentar a conta num caso destes. Então?

Então é deveras complicado fazer previsões: a simples verdade é que o Ocidente entrou numa prova de força da qual agora não sabe como sair. Além dos proclamas, Trump e o seu grupo sabem que a Rússia dispõe de superioridade em facto de armamentos e que Putin não está disposto a retroceder. Depois há a incógnita China: como reagiria Pequim em caso de conflito? A China voltou a ser o primeiro detentor da Dívida americana, algo como 1.189 biliões de Dólares: melhor não irrita-los.

Admitimos: é uma situação extremamente complexa.
Calhava bem um diversivo, isso sim.

As lamentações do Guardian e o Conde

Trump e o Conde

Entretanto, o cândido The Guardian escreve:

O tweet de Trump mostra como a má informação pode levar a uma crise global.

Olha, olha… e eu a pensar que fossem os diários a fazer má informação, difundindo notícias falsas, obedecendo aos ditames do regime, “bombeando” ao longo de dias as alegadas culpas (nunca provadas) de Assad, da Rússia, do Irão e de tudo o que não é Ocidente, esquecendo até quem financia os rebeldes “moderados”.

Mas não, se também The Guardian se queixa significa que não é assim: também a imprensa é uma vítima, como todos nós! Então fica a dúvida: quem será que difunde a má informação?

Acabamos esta pequena galeria dos horrores com o ainda Primeiro Ministro italiano, o Conde (é mesmo) Gentiloni. O nobre desbotado, que lidera um executivo de gestão (de Esquerda, note-se), tendo sido derrotado nas últimas eleições, acaba de enviar uns aviões KC-767 para a base aérea dos EUA na Jordânia. Mas afirma que a Italia não participará em eventuais ações militares.

Pergunta: mas enviar aviões para o reabastecimento em voo de bombardeiros não significa participar numa ação militar? Tecnicamente sim, todavia há um pormenor: os KC-767 italianos carregam só fertilizante 100% biológico que será utilizado para irrigar os campos palestinianos de Gaza e aliviar assim as consequências do bloqueio israelita.

Ou isso ou Gentiloni é só mais um mentiroso de profissão.

Ipse dixit.