O The New York Time publica um artigo volumoso, bem polido e vergonhoso, que tenciona demonstrar como o Isis conseguiu existir e expandir-se com um meio muito simples e, todo somado, até vulgar: taxas e impostos. É explicado na primeira página, logo após o título:
Desenterramos milhares de documentos internos que ajudam a explicar como o Estado Islâmico permaneceu no poder por tanto tempo.
A utilidade do trabalho do NYT poderia ser apenas duvidosa: para entender as finanças do Estado Islâmico seria mais produtivo analisar as transferências monetárias internacionais. Mas o ponto é mesmo este: o que o diário entende demonstrar é que o Isis não recebeu dinheiro nenhum do estrangeiro, tudo gravitava à volta dos impostos. Pior: segundo o NYT, quem fala de financiamentos ocultos é um conspiracionista.
Ainda assim, os doadores na Arábia Saudita constituem a fonte mais significativa de financiamento para grupos terroristas sunitas em todo o mundo. É necessário […] encorajar o governo saudita a tomar mais medidas para conter o fluxo de recursos desde fontes baseadas na Arábia Saudita para terroristas e extremistas em todo o mundo.
[…] A Arábia
Saudita continua a ser uma base de apoio financeiro fundamental para a
Al Qaeda, os Talebães, LeT e outros grupos terroristas, incluindo o Hamas,
que provavelmente conseguem anualmente milhões de Dólares de fontes
sauditas, muitas vezes durante o Hajj e o Ramadã.
A reter: a Arábia Saudita não é “uma” fonte de financiamento mas “a fonte mais significativa de financiamento para grupos terroristas sunitas em todo o mundo”. Há uma leve diferença entre “uma” e “a” fonte.
Mas o ano de 2009 fica muito longe, quase pré-história. Vamos espreitar algo mais recente.
Por exemplo: 2015, a Clinton prepara a campanha eleitoral enquanto já há guerra na Síria. A simpática Hillary sugere ao colaborador John Podesta recuperar os “velhos planos” para ajudar os rebeldes sírios (os moderados, claro):
Enquanto esta operação militar / para-militar está a avançar, precisamos usar os nossos recursos de intelligence e os mais tradicionais meios diplomáticos para pressionar os governos do Qatar e da Arábia Saudita, que estão a fornecer apoio financeiro e logístico clandestino ao Isis e a outros grupos sunitas radicais na região.
Meditação final: a simpática Hillary está fora dos jogos e o establishment americano olha para frente, tentando reconstruir a sua virgindade. O que passa inevitavelmente por rescrever a História. Nisso tanto os Democratas quanto os Republicanos concordam: a experiência do Isis fracassou, é bom obrigar os cidadãos a lembrar que os EUA e todos os seus aliados sempre estiveram do lado dos bons.
Ipse dixit.