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Novo estudo: o milho transènico é bom e faz bem

Os defensores de alimentos orgânicos citam frequentemente notícias ou estudos isolados que realçam a visão segundo a qual as culturas genéticas modificadas não são boas. E não são, não venham com histórias.

Por esta razão quando aparece um dos estudos de sentido contrário, nas empresas produtoras de transgénicos é festa grande: a notícia é tomada, amplificada, distribuída de todas as formas, apresentada como “a” prova.

Infelizmente (do meu ponto de vista) esta é a vez dum grupo de cientistas italianos que, com uma meta-análise, vasculharam os dados de mais de 6.000 estudos produzidos em 21 anos. E descobriu o quê? Que o milho transgénico não apenas é bom, mas até é melhor do que o natural (italianos, sempre exagerados…). Vamos ver esta obra-prima.
O milho transgénico aumenta o rendimento dos agricultores em 25% e diminui drasticamente os contaminantes perigosos dos alimentos. Dizem eles. O estudo também reafirma que o milho geneticamente modificado não representa um problema para a saúde humana. Pelo contrário, pode até ter efeitos positivos, imaginem.

Por exemplo, as culturas de milho transgénico apresentaram baixas percentagens de micotoxinas (-28,8%), fumonisinas (-30,6%) e tricotecenos (-36,5%) relativamente ao milho convencional.

E atenção: as micotoxinas são tóxicas e cancerígenas. O milho transgénico logo apresenta teores menores porque as variedades geneticamente modificadas diminuem os danos provocados por insectos em 59.6%. Estes danos enfraquecem o “sistema imunológico” da planta, deixando-a mais suscetível ao desenvolvimento de fungos.

Portanto: as micotoxinas são uma ameaça persistente à saúde humana e animal. Obviamente existem controles que analisam o milho antes deste ser comercializado; mas, explica a pesquisa, os sistemas de segurança alimentar não são tão rigorosos e vários estudos têm demonstrado que a contaminação por micotoxinas está associada ao aumento de taxa de câncer de fígado, por exemplo.

Eu que nasci estúpido pergunto: mas se os controles não são tão rigorosos hoje, e ao saber que no passado nem existiam, como é que a espécie humana sobreviveu à ameaça das micotoxinas ao longo dos milénios? Será que Deus afinal existe?

Não há respostas, pelo que vamos em frente.

A meta-análise italiana também marca o que poderia ser o capítulo final noutra vertente do debate sobre o uso de transgénicos na agricultura. Recentemente o New York Times publicou um estudo realizado pela Academia Nacional de Ciências dos EUA segundo o qual “existem poucas provas” de que a introdução das culturas geneticamente modificadas nos
Estados Unidos tenha produzido maiores lucros quando comparados com as culturas
convencionais.

Na prática: as culturas transgénicas aumentam o facturado das empresas que produzem os OGM mas não o desempenho dos campos cultivados. O que é aborrecido.

O estudo italiano explica: as informações foram extraídas do contexto. O que o relatório americano afirma é “óbvio”: nenhuma cultura transgénica foi projectada especificamente para aumentar o desempenho, mas sim para combater as perdas provocadas pelas ervas daninhas e os insectos, O que tem um impacto positivo na rentabilidade das culturas.

Eu que nasci bastante limitado pergunto: mas se os OMG eliminam as perdas provocadas por erva daninha e insectos, o resultado não deveria ser um aumento da rentabilidade? O que significa então “ter um impacto positivo na rentabilidade das culturas”?
Mais uma vez: não há respostas. Continuemos.

É explicado que uma revisão feita em 2015 pela PG Economics descobriu que as culturas transgénicas proporcionaram benefícios económicos de 133.4 mil milhões de Dólares entre 1996 e 2013, com cerca de metade dos ganhos que pertencem a agricultores de Países em desenvolvimento. Mas é maravilhoso! Pena que a PG Enonomic seja uma empresa inglesa especializada na comercialização de biotecnologias. É como perguntar ao padeiro se o pão dele é bom.

De acordo com o estudo italiano, mais de 53 milhões de hectares de milho modificado geneticamente foram cultivados em 2015, e estes representam quase um terço da área global de milho plantado (!!!). Os Estados Unidos lideram a produção com 33 milhões de hectares, seguem o Brasil, a Argentina e o Canadá.

Conclui o estudo: enquanto o aumento de rendimentos foi modesto nos Países em desenvolvimento onde as condições de crescimento são piores, o aumento do cultivo de milho transgénico nos Países em desenvolvimento pode proporcionar aos agricultores e aos consumidores benefícios substanciais para a saúde e a economia.

NBT, os novos OGM

Perguntinha final: mas qual o sentido dum estudo como este? Aqui há resposta.

Os italianos e os europeus no geral não confiam nos produtos OGM. Quase 7 em cada 10 cidadãos (69%) em Italia considera os alimentos com organismos geneticamente modificados menos saudáveis ​​do que os tradicionais, enquanto 81% nunca comerão carne e leite proveniente de animais geneticamente modificados ou clonados.

Estes são os dados divulgados pela Coldiretti (a maior associação de agricultores do País) após uma pesquisa sobre os riscos para a saúde do milho transgénico. À medida que o debate científico continua, explica Coldiretti, as opiniões dos cidadãos continuam a ser altamente suspeitas em relação aos organismos geneticamente modificados no prato, tanto na Itália como na Europa. Isto é demonstrado pelo facto de apenas dois Países continuarem a semear OGM no Velho Continente, Espanha e Portugal, enquanto houve uma nova queda de 4.3% da área cultivada. Em 2017, os hectares transgénicos foram 130.571 em comparação com os 136.338 do ano anterior. Também a República Checa e a Eslováquia, continua Coldiretti, abandonaram o cultivo e foram adicionados à longa lista de Países “no OGM” da União Europeia.

Além disso, mesmo nestes dias o Tribunal de Justiça Europeu está a decidir acerca dum pedido do Conselho de Estado francês em relação aos NBT, produtos que apresentam novas técnicas de manipulação genética, das quais as multinacionais apoiam a inofensividade.

Desenvolvidos ao longo dos últimos vinte anos, os NBT (New Breeding Techniques, “Novas Técnicas de Reprodução”) são técnicas de manipulação genética com o objectivo declarado de modificar o DNA de forma mais “meticulosa” em comparação com os OGM tradicionais.

Substancialmente, de acordo com a tese de quem requer a desregulamentação, é possível interromper o funcionamento de um gene, substituir ou inserir sequências genéticas em partes mais precisas do genoma para chegar à criação de novas variedades de plantas com características que respondem com maior grau de previsibilidade às necessidades e aos propósitos daqueles que as criam no laboratório.

Em síntese: são produtos OGM para os quais existem ainda menos estudos acerca das consequências na saúde e no meio ambiente. E é precisamente acerca disso que as Mentes Pensantes da União Europeia estão a deliberar. Um estudo que defenda os OGM nesta altura não se nega a ninguém.

Ipse dixit.

Fontes: Nature: Impact of genetically engineered maize on agronomic, environmental and toxicological traits: a meta-analysis of 21 years of field data, PG Economics, La Repubblica, Voci dalla Strada, Zap