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Deus é transgender (alguém O informe)

Enquanto o Canadá modifica o hino nacional para torna-lo gender-free (sem género), a Igreja Episcopal da diocese de Washington DC (EUA) aprovou uma resolução que prevê o cancelamento dos pronomes masculinos das orações referidas a Deus.

A resolução foi rapidamente aprovada pelos delegados na 123ª convenção da diocese. E há uma delegada da convenção, Linda R. Calkins, que queria ir mais longe, porque Deus, de acordo com o cerebrinho dela, é definitivamente feminino.

A simpática Linda
leu a Génesis, capítulo 17, em que Deus diz a Abraão: “Eu sou El
Shaddai”. Linda afirma que, se isso for verdade, “El Shaddai” significa “Deus com seios”.

Tendo
estudado muita teologia feminista no meu mestrado, escrevi
uma tese sobre a libertação, a liberdade e a não-igualdade na teologia
feminista. E ainda espero que a Igreja Episcopal chegue ao ponto em que todas as pessoas possam pronunciar o nome de “Deus”. Muitas
mulheres com quem falei nos meus quase 20 anos de ministério sentem que não podem fazer parte de nenhuma igreja por causa
da imagem masculina de Deus, que é sistémica e que é sustentada nas nossas liturgias. Muitos estão à espera e precisamos de ouvir Deus no nosso idioma, nas nossas palavras e nos nossos pronomes.

Tudo isso não deve surpreender: a mãe dos estúpidos está sempre grávida. E não apenas nos Estados Unidos.

Um salto e estamos na Inglaterra: a Reverenda Emma Percy, capelão do Trinity College de Oxford e é membro de uma organização religiosa da Igreja Protestante em Londres chamada Watch (Women and the Church, “Mulheres e a Igreja”), composta por mulheres sacerdotes, mulheres bispos e simples fieis: Emma afirma que utilizar uma linguagem masculina para identificar a figura de Deus reforça a ideia de que Deus é um homem e, portanto, sugere implicitamente que os homens sejam mais parecidos com Deus do que as mulheres. É injusto, continua Emma, que as mulheres sejam vistas como menos sagradas e menos capazes para representar Cristo no mundo.

O Reverendo Kate Bottley, vigária da igreja de St. Mary
e St. Martin em Blyth, Nottinghamshire (Reino Unido), já começou a remover todas as referências masculinas a Deus nas orações e
nas liturgias: Deus deve necessariamente ser neutro.

Todas estas pessoas têm algo em comum: não sabem do que falam. Gostam de definir-se como “cristãs” mas ignoram o verdadeiro sentido do termo. Jesus fala de Deus como do Seu Pai, mas sem esquecer que, como bem explicado também na Génesis, Ele é puro espírito: Deus, para quem acredita,  é pai e mãe, porque é plenitude de amor, e apenas homem e mulher juntos são a imagem de Deus.

Seria muito mais sério (e fundamentado) um discurso baseado na igualdade dos géneros nas Igrejas, não apenas na gramática. Por qual razão não pode haver um Papa ou um cardeal mulher? Esta é a verdadeira questão, não os pronomes. Além de que nos idiomas neolatinos temos um problema não indiferente: não há um género neutro. Como vamos definir Deus? “O Coiso/A Coisa”? Para mim tudo bem, agora, aos olhos dum fiel é que já não sei… 

Mas vamos voltar para a Terra, e precisamente no Canadá.

No hino nacional do Canadá há um ponto que assim reza: “em todos os filhos do teu filho”, onde “teus filhos” significa “filhos Dele”. Minha Nossa Senhora Santíssima e Beata, horror sexista! E as filhas? E os filhos gays? Então a frase tem que tornar-se “em todos nós comandamos” onde “nós” é um “nós” genérico.

Mudança aprovada, todos felizes. O que não deixa de ser curioso porque para promover a igualdade de género foi restaurada uma versão do hino do século XIX, que remonta a uma época em que a igualdade do género era alegremente ignorada. Mas atenção, no Canada há dois idiomas oficiais: inglês e francês. Como representar todos os cidadãos daquele País? O que acontece com os cidadãos que falam francês? E as mulheres franco-canadianas? E os gays francófonos?

São coisas importantes, não podemos subestimar ou permitir que assuntos secundários possam nos distrair. A sociedade é injusta, uma elite domina o planeta, há guerras e fome, somos tratados como escravos alienados. Mas reunir esforços para mudar o género das palavras pode resolver boa parte dos problemas. Ou talvez todos, quem sabe?

Apontamentos de Neolíngua Portuguesa

Como lembrado, nos idiomas neolatinos não há o género neutro, coisa que acontece nas línguas germano-saxónicas. Isso é um drama, que cria traumas nas crianças e impede que os jovens possam desenvolver-se segundo as leis da Natureza (que, lembramos, são transgender), empurrando-os para o mundo das drogas, satanismo e rock and roll.

Para ultrapassar o impasse, eis a minha humilde mas genial sugestão.
Aliás: duas sugestões.

1. “U” transgender 

Pegar na vogal “u” e estabelecer que a partir duma determinada altura esta passe a indicar o género neutro, com relativos pronomes.

2. Elisão assexuante

Eliminar as últimas vogais das palavras e modificar os relativos pronomes. Isso torna os termos desligados dos géneros e repõe o equilíbrio.

Pessoalmente gosto desta segunda hipótese por uma óbvia razão: nomes como Max, Krowler, EXP ou Chaplin ficariam inalterados. Problemas no caso de Maria ou Nuno (Mari, Nun). Mas não se pode ter tudo.

Ipse dixit.

Fontes: Life Site, La Repubblica, Il Foglio