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Quem lucra com a emigração?

Pergunta: mas onde encontra o dinheiro um pobre desgraçado que mora no Bangladesh (ou Paquistão, Nigéria, Chad… a escolha é ampla) e que deseja emigrar para o Ocidente?

Resposta: simples, pede um empréstimo a uma das ONG’s especializadas em lucrar com as desgraçadas alheias. 

Num País de emigrantes miseráveis (no sentido que nem o dinheiro para sobreviver têm), o “empréstimo de migração” representa um negócio que acontece em plena luz do dia, com ONG’s tipo a BRAC: pessoas que são consideradas às margens do desenvolvimento, ficam totalmente integradas no sistema destes serviços financeiros.

Vamos ver mais de perto este exemplo, a BRAC, lembrando de que é apenas uma (provavelmente a mais popular) das ONG’s que lucram com o azar das pessoas.

BRAC!

 BRAC tem feito o que
poucos outros fizeram.
Conseguiram alcançar sucesso em grande escala,
 trazendo programas de saúde salva-vidas
para os milhões dos mais pobres
do mundo.
Bill Gates

BRAC é uma ONG que actua em várias frentes, entre as quais o microcrédito para a emigração.
Originária do Bangladesh, hoje opera não só na Ásia mas também na África, onde, obviamente, faz um óptimo trabalho considerada a vaga de africanos que conseguem chegar até as costas da Líbia e daí à Europa.

Obviamente, a BRAC é uma organização não-governamental que ostenta fins humanitários: na prática, antes das ONG’s que transportam os migrantes pelo Mediterrâneo, há a BRAC que fornece o dinheiro para chegar até à beira daquele mar.

Quem é a BRAC?
Na verdade, o pessoal que gere a organização não passa duma série de piões envolvidos num enorme negócio lucrativo, mas mesmo assim é interessante observar donde provêm.

Digam a verdade: esperavam encontrar pobres desgraçados que, uma vez unidos e com muitos esforços, conseguiram construir algo em prol dos seus concidadãos? Nada disso: estes são profissionais do sector, indivíduos habituados a manusear dinheiro, a fazê-lo render. E a ganhar bem.

Donde chega o dinheiro do BRAC? Eis uma lista parcial dos benfeitores:

O caso da Europa é paradigmático: enquanto a União Europeia enfrenta o problema da imigração (obviamente com o dinheiro dos contribuintes europeus), do outro lado financia estas empresas financeiras que enviam mais emigrantes e lucram com isso. Palavras para quê?

Tudo isso permite que a BRAC possa ter concedido mais de 195 milhões de Dólares de empréstimos (microcrédito) só em 2015.

Os biliões de Dólares
em microcréditos
que a BRAC concede a cada ano a milhões de pessoas
pobres
é só o início da história desta notável organização.
George Soros

O microcrédito da BRAC não é um serviço financeiro para aqueles que querem migrar, mas é um verdadeiro impulso à migração: um daqueles negócios “pobres” em que estão envolvidas grandes corporações financeiras, governos, instituições internacionais. Porque no Capitalismo nada se deita fora e tudo poder ser aproveitados, pobreza incluída. Aliás: quanta mais pobreza houver, melhor será porque enquanto um cidadão ocidental deve ter convencido com publicidade ou telemarketing, os famintos esperam só que alguém reparem neles.

É também um negócio financeiro de baixo risco, uma vez que consiste de milhões de pequenos empréstimos; mesmo em casos de insolvência, a perda é mínima. Em caso de sucesso, pelo contrário, chegam os lucros. Porque não podemos esquecer que a BRAC não fornece doações mas verdadeiros empréstimos: que devem ser reembolsados.

E aqui aparecem os problemas: o migrante gastou boa parte do dinheiro na viagem, finalmente vê as costas da Europa…e agora? Agora tem que arranjar um emprego para, no mínimo, sobreviver e reembolsar a dívida.

O círculo da dívida

Em 2013 (por isso bem antes da actual vaga migratória) o Fórum Internacional e Europeu de Pesquisa sobre a Imigração (FIERI) conduziu uma investigação focada na questão do endividamento dos imigrantes, concentrando-se na comunidade filipina da Itália (portanto: nem a mais desgraçada das comunidades), descobrindo que a situação é dramática: depois de ter contraído a dívida para emigrar, os imigrantes continuam a pedir dinheiro emprestado para cobrir as dívidas anteriores e para manter a família que ficou no País de origem.

A BRAC afirma que no prazo de dois anos o crédito pode ser reembolsado: isso partindo do princípio que o imigrante arranje um trabalho que lhe forneça dinheiro suficiente para manter-se e reembolsar as prestações da dívida. Mas se for um trabalho mal pago  ou precário? Não há crise (por assim dizer): há sempre o passo seguinte.

O passo seguinte consiste em encontrar mais dinheiro: mas quem pode conceder um novo empréstimo a um emigrante, que pode oferecer bem poucas garantias?

A primeira escolha é a BRAC, que assim reza:

Temos opções de “reescalonamento” e “refinanciamento” que oferecem flexibilidade para os devedores que pretendem reembolsar empréstimos mas não conseguem devido a circunstâncias inevitáveis.

Tão simples, não é?

Mas há outras soluções. Voltemos ao estudo da FIERI: na sondagem conduzida, em mais de 50% dos casos a escolha é uma instituição financeira, depois há os bancos (15%) e nem faltam os usurários (quase 10%).

Através da aplicação de taxas de juros no limite sancionado como taxa de usura, a agência financeira encontra terra fértil entre os imigrantes, oferecendo dinheiro rápido e pedindo requisitos mínimos de garantias.

Tudo com taxas de juros particularmente elevadas. Mas este não é um problema: estamos a falar de pessoas desesperadas, que vivem num País estrangeiro do qual mal conhecem a língua, com as famílias à milhares de quilómetros, com um trabalho (quando houver trabalho) cansativo e mal pago (porque esta é a realidade dos imigrantes). Pessoas que agarram a primeira das já escassas possibilidade: e paciência se o custo será elevado. Mais uma vez: quanta mais pobreza houver, melhor será. 

O que interessa aqui é realçar como uma vez entrados no círculo do crédito, é muito difícil conseguir sair dele: o migrante paga o empréstimos da BRAC e, uma vez chegado ao destino, cai nos braços de outras agências que concedem dinheiro “fácil”. Desespero dum lado, lucros do outro.

Ipse dixit.

Relacionados: O moderno comércio de carne humana

Fontes: FIERI – Sovraindebitamento e migrazione internazionale: il caso dei lavoratori e delle lavoratrici filippine in Italia, BRAC, Anarchismo Comidad