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Ainda o medo: até quando?

Após a publicação do artigo acerca do pequeno programa para limitar a recolha de dados a partir dos nossos computadores, surgiu um interessante comentário de Vapera.

Interessante também porque em linha com quanto tenho lido por parte de outros Leitores nos últimos tempos (a propósito: lamento ainda não ter resolvido o problema que me impede de poder comentar, isso está a tornar-se uma piada, mas enfim…).

Em primeiro lugar: espero que Vapera, não encare isso como um ataque pessoal, aqui estamos só para discutir e pego no seu comentário apenas por ter sido o último em ordem temporal, ok? Aliás,a proveito para agradecer a participação dele na actividade do blog.
Obrigado.

E agora?
Agora vamos a isso.

Somos controlados biometricamente

Sei que aí em Portugal já é obrigatório como em toda europa também, a biometria nas identidades.

Mas onde? Qual biometria? Donde raio chegam as informações que utilizam aí no Brasil??? O meu B.I. português é de papel, não tem chips escondidos em lado nenhum, é o mesmo papel utilizado há 100 anos. O meu B.I. italiano é igual, de papel, sem chip, idêntico ao primeiro B.I. que obtive uma vez chegado à maior idade (nem a fadiga de melhorar o aspecto fizeram, preguiçosos).

Os chips presentes nos B.I. de alguns cidadãos portugueses (em Italia isso não existe)? Por favor, informem-se: é o mesmo chip que pode ser encontrado no bilhete do metropolitano, algo extremamente simples, básico e absolutamente inócuo. De “biométrico” nem o aspecto tem, perguntem a qualquer informático: mesmo que não seja um especialista deveria poder explicar de forma clara e simples.
Ponto final.

O raio da morte

Se
um governo entender que somos inconveniente pode emitir em nossos
celulares o sinal mortal e cairemos duros, mortos de um “mal súbito.

Pessoal, tentamos não ficar paranoicos, pode ser?
Se isso fosse verdade, no mundo não haveria guerras.

Os EUA querem eliminar Assad na Síria? Então enviam-lhe um “sinal mortal” e ele cai morto.
Por qual razão não fazem isso? Simplesmente porque não existe nenhum “sinal mortal” que possa ser enviado. Pelo contrário, Washington gasta biliões sem conseguir obter resultados dignos de nota porque do outro lado está uma potência, a Rússia, que também não tem “sinal mortal” e combate com as mesmas armas obsoletas.
Leram bem: “obsoletas”.

As armas do futuro

Não sei se repararam, mas os últimos episódios bélicos viram a utilização de gás (uhi, grande novidade!) e de mísseis, uma arma tão moderna que a sua primeira utilização aconteceu durante a dinastia Song, na China do século 13º. E a MOAB? A “mãe de todas as bombas” outra coisa não é a não ser uma bomba maior do que as outras em dimensões, enchida com RDX (explosivo conhecido desde os anos ’30) e TNT (descoberto em 1863).

Wow, armas dignas da melhor ficção científica, sem dúvidas…

Voltamos ao Windows: há anos que a partir deste blog aconselho de todas as maneiras a utilização dum sistema Linux, um qualquer, desde que não seja utilizado o infame Windows. Mas sei que a maioria dos Leitores continua a utilizar o sistema operativo da Microsoft, evidentemente porque o ser humano é geneticamente masoquista (e preguiçoso).

Nesta óptica, acho bem fornecer pequenos instrumentos que não fazem milagres, como é óbvio, mas dificultam (minimamente) a recolha de dados e libertam parte da banda utilizada pelas conexões internet, permitindo um mínimo de ganho em termo de fluidez de navegação.

Está tudo controlado: melhor não mexer-se

O sistema operativo e os programas da Microsoft estão cheios de “subprogramas” que actuam de forma desconhecida? Claro que sim. E o mesmo se passa com Google ou até com aplicações online como Facebook, por exemplo. Onde está a novidade nisso? Acham que Windows 10 está pior do que um Windows 8, um Vista, um XP? Mas por favor…

Mas então, qual a alternativa? Não mexer nem sequer um dedo? Pensar “Está tudo mal, estamos tramados”? Se esta fosse a linha de pensamento, eu deveria fechar já o blog, aliás, todos os blogues de informação alternativa deveriam fechar já, pois “tudo é inútil”.

Lamento, não alinho nisso.
A razão? Porque é mesmo este o objectivo que um qualquer sistema dominante deseja: a desistência, fazer passar a ideia de que qualquer forma de resistência é obsoleta, que há possibilidades nas mãos de quem manda que nem podemos imaginar, que há instrumentos quase fantacientíficos que bloqueiam qualquer tipo de oposição. Resumindo: o poder alimenta a sua própria segurança também com a construção de mitos (tipo o “sinal mortal”).

Nós, todos nós, temos que combater esta tendência e desfazer os mitos: afastar os medos que nós mesmos criamos e difundimos.
Sigam o raciocínio, por favor.

O “poder” tem armas incríveis: eis as provas

Então o “poder” sabe tudo acerca de cada um de nós, certo? Tem os dados biométricos (???), chupa dados dos nossos computadores (mesmo que tentamos evitá-lo: “é tudo inútil”!), utiliza o nosso smartphone para controlar onde estamos, com quem e o que fazemos, vigia a partir do espaço com satélites que podem lançar um raio que queima a cauda do Leonardo se este não se comportar bem. Esta a teoria. Agora passamos para a prática.

A prática é que há Echelon, uma super-orelha obrigada a analisar triliões de dados informáticos a cada dia. Toneladas de informações absolutamente inúteis são vasculhadas, gastando imensos recursos, à procura… pois, à procura de quê? Porque depois descobrimos que a chancelera Angela Merkel tem os seus telefones interceptados, exactamente como aconteceu com o presidente Nixon (em 1972!). Passaram mais de 40 anos mas as “novas armas” afinal são as mesmas.

Depois é suficiente um funcionário zangado (Snowden) para ridiculizar todo o sistema de espionagem dos Eua.

Depois o Presidente Trump ameaça a Coreia com a sua “Invencível Armada” e nem sabe que a frota se encontra no outro hemisfério.

Aqui na Europa o “poder” é tão forte que nem pode evitar a queda a pique da União Europeia, uma estrutura de controle que demorou décadas para ser construída (também com a ajuda dos EUA) e que até, supostamente, tem os nossos “dados biométricos”.

O “poder” é tão poderoso que vê-se preto para eliminar um indivíduo politicamente nulo e economicamente arrasado como Nicolas Maduro.

O “poder” tem armas tão avançadas que, ao ouvir os teóricos da conspiração, teve que atacar os vários Lulas, Dilma e Chávez com… o câncer! (provavelmente o “sinal mortal” estava em fase de manutenção).

O que significa isso? Significa que o melhor aliado do poder é o medo. E somos nós que construimos boa parte (a quase totalidade, para sermos mais precisos) do nosso medo. O “poder” nem tem que esforçar-se muito: é só vender um sistema operativo com código fechado e eis que nós (e não eles, mas nós!) vemos em Windows 10 a arma informática final que todos escraviza.

Meus senhores, se Windows 10 fosse o que acham ser, acreditem que no mundo não haveria uma única cópia de Linux disponível. Simplesmente não seria permitida.

No nosso B.I. há um chip? Meus Deus, este chip é o sinal de Satanás (já li isso…), a arma definitiva, o controlador supremo que chupa a nossa energia vital e escraviza as nossas mentes. Depois navego num site de vendas na China e descubro que é possível encomendar um anel que funciona como o dito chip (aliás. goza com o chip satánico!), custa uns 15 Dólares e não parece uma tecnologia oriunda dos Reptilianos.

E internet? Intenet, meus senhores, internet!!! Está toda controlada, não há como fugir. Será que só eu consigo ver as televisões da China, da Coreia do Norte, do Irão, da Síria (e também os jogos de futebol que os outros pagam, o que dá um jeitão)? Será que num destes dias vou ser atingido por um “sinal mortal”?

O “poder” é complexo e invencível

É o medo, meus senhores, tudo isso é o medo. O “poder” é feito de indivíduos, como nós, com as suas falhas, os seus defeitos, as suas paixões. Somos nós que acrescentamos o medo e este “poder” se torna algo superior, feito de tecnologias avançadas futuristas e inexistentes, feito de medidas aparentemente incompreensíveis mas na realidade absolutamente humanas.

O primeiro passo para combater o sistema não é entender como este funciona mas conseguir pô-lo no nosso mesmo plano: ultrapassar o natural sentido de inferioridade que cada indivíduo tem perante um organismo aparentemente mais complexo, perceber que este organismo é feito de muitas partes, cada uma pequena e cada uma perfeitamente ao nosso alcance.

Se não fizermos isso, o organismo permanece enorme, incompreensível, incontrolável, demasiado complexo: invencível. Mas é mesmo assim que proliferam os mitos: é desta forma que somos obrigados a inventar conspirações universais para tentar justificar coisas que aparentemente fogem à nossa lógica. Tal como o homem primitivo via um Deus atrás do relâmpago, da mesma forma nós tentamos explicar fenómenos aparentemente complexos com algo igualmente complexo e misterioso. 

Vice-versa, uma vez analisado o relâmpago podemos entender que Deus nada tem a ver com isso: e o medo desaparece (fica só o medo de ser atingido por um relâmpago: mas, aos menos, morremos com a satisfação de saber que não foi por culpa dum Deus zangado connosco).

Afastadas as grandes conspirações galácticas, o medo desaparece de forma natural, as coisas regressam para o plano do humano, do perfeitamente compreensível. E o que pode ser compreendido pode também ser modificado. Não por nós, porque a simples realidade é que nós, todos nós, estamos velhos, independentemente da idade anagráfica.

Este é o fim

Mas o que desejamos deixar como herança para as futuras gerações? Apenas o medo e a sensação da inevitável derrota? Um mundo que nem tentámos mudar simplesmente porque bloqueados pelos nossos medos? Nem um miserável programa para limitar a partilha dos nossos dados utilizamos porque “é tudo inútil”?

Parece este o estado de espírito que é possível encontrar entre alguns Leitores.
Chaplin:

Aqui no blog, o que fazemos parece ter algum valor, mas na verdade é
algo estéril, que até pode sensibilizar uns poucos, que sucumbirão logo
às seduções burguesas do cotidiano…

Portanto: o blog é perfeitamente inútil, pois os poucos sensibilizados irão morrer (com sofrimento) na mesma sob os golpes da burguesia. Chaplin, as mesmas considerações feitas no caso de Vapera valem por si: nada de pessoal, mas de que raio está a falar? Qual burguesia? E largue duma vez por todas os escritos de Marx e veja o mundo como ele é agora, não como era há 200 anos: não há burguesia nenhuma. Nenhuma. Zero, nada, niente, nicht.
O que Chaplin chama “burguesia” foi varrida há muito, substituída por uma massa informe, politicamente ignorante, socialmente primitiva, culturalmente insensível, tratada (justamente, acrescento eu) como fosse uma criança, cuja máxima aspiração é satisfazer as necessidades básicas (comida, sexo, aparência). Os meios de produção já foram, o capital hoje está num disco rígido, a propriedade vale menos do que nada. Mas de qual burguesia estamos a falar??? A burguesia tinha nascido na Idade Média, mas nesta nova Idade Média a burguesia encontrou o seu natural fim. O que sobra é a massa dum lado e a oligarquia do outro: não há mais nada.

Não ficamos escondidos atrás dos rótulos, não tentamos encontrar nestas rotulagens as justificações da nossa condição, porque não podemos fugir às nossas responsabilidades de forma tão simples.

Como escreveu Maria há poucos dias:

Quanto a mim […], enquanto opositora do sistema, sou e serei eterna perdedora.

Eu sou um perdedor também, não posso alinhar-me com esta sociedade, assumo e aceito isso de forma pacífica. Mas ser perdedor não significa baixar os braços ou esconder-se atrás de medos e  mitos que levam só para a inactividade.

Pelo contrário, e por incrível que pareça, o perdedor tem um ponto de vista privilegiado: não se limita a defender o que já existe mas pode observar de forma crítica os vário lados. É dele o ónus de realçar o que não funciona no sistema vigente e procurar uma alternativa. Queremos abdicar disso por causa dos Reptilianos? Do “sinal da morte”? Do chip satânico? Dum sistema operativo cheio de bugs? De Nibiru? Das fantomáticas armas que nem existem? Dum controle global que funciona com meios velhos de 50 anos? É disso que é feita a “informação alternativa”? É isso que acham os Leitores do blog?

Querem a verdade? A verdadeira verdade? É esta: subverter este sistema seria extremamente simples e rápido. Não apenas “simples”, mas “extremamente simples” e “rápido” também. Dum dia para outro o mundo poderia mudar, literalmente. E sem um pingo de sangue derramado.

Sabem porque isso não vai ser feito? Muito entre os Leitores já conhecem a resposta: o sistema somos nós.

Ipse dixit.