O terrorismo ajuda as companhias aéreas (mas só algumas…)

Fevereiro de 2017: Os CEOs da Delta, United e American Airlines esperam que Trump bloqueie a concorrência árabe

As três principais companhias aéreas dos EUA queixam-se que a Emirates, Etihad Airways e Qatar Airways – financiadas pelos governos de Qatar e Emirados Árabes Unidos – são subsidiadas injustamente e que a expansão destas no mercado norte-americano representa uma concorrência desleal que deve ser bloqueada pelas autoridades reguladoras.

“Desde 2004, as empresas do Golfo têm recebido mais de 50 bilhões de Dólares em subsídios dos seus governos”, escreveram os CEOs das três maiores companhias numa recente carta ao Secretário de Estado, Rex Tillerson. “Sr. Secretário” continua a carta, “estamos confiantes de que a Administração Trump compartilha a nossa visão sobre a importância de respeitar os nossos acordos Open Skies: as companhias aéreas norte-americanas devem ter igual oportunidade de competir no mercado internacional, é preciso proteger os empregos”.
Março de 2017: Os EUA proíbem laptop e tablet em voos de Turquia e mundo árabe

Os Estados Unidos e a Grã-Bretanha proibiram os principais dispositivos eletrónicos na cabine dos passageiros de voos procedentes de alguns aeroportos da Turquia, Médio Oriente e Norte da África.

Os funcionários americanos advertem que os extremistas estão à procura de formas “inovadoras” para atacar os aviões com explosivos escondidos em produtos electrónicos de consumo maiores de que os smartphones.[…] As companhias americanas não são afectadas pela proibição, mas os passageiros de cerca de 50 voos por dia a partir de alguns dos centros mais activos da Turquia e do mundo árabe serão obrigados a seguir a nova regra.[…]

A proibição afectará os voos operados pela Royal Jordanian, a EgyptAir, Turkish Airlines, Saudi Airlines, Kuwait Airways, Royal Air Maroc, Qatar Airways, Emirates e Etihad Airways.

O que impede de voar de Dubai até Paris e de lá para New York com um laptop e um tablet na mão? Nada. Onde fica a segurança “anti-terrorismo”? Só que agora, do Médio Oriente para os Estados Unidos, é possível escolher entre um voo directo, sem tablet, ou um voo com várias paragens, com tablet: qual o mais confortável?

A lista das companhias proibidas nem coincide com aquela dos Países “proibidos” recentemente assinada pelo Presidente Trump.

Detalhe curioso: os britânicos têm seguido logo as indicações americanas mas com “medidas de segurança” diferentes, pois baniram outros aeroportos e empresas também. Foram omitidos Qatar, Kuwait e Marrocos, foram acrescentados Tunísia e Líbano (que nem voos directos com os EUA têm…). Problemas de concorrências na British Airways?

Tudo isso não faz sentido do ponto de vista da segurança: com as novas regras os dispositivos ainda estarão no avião, apenas num lugar diferente (no porão). E nada impede que eventuais bombas aí escondidas possam ser activadas com um timer ou um controle remoto

Nicholas Weaver, cientista da computação da Universidade da Califórnia, afirma ao The Guardian que esta é uma maneira “estranha” de promover a segurança:

Se você assume que o atacante está interessado em transformar um laptop numa bomba, esta irá funcionar no porão de carga. Se você está preocupado com os hackers, um celular é um computador.

Bruce Schneier, um técnico de segurança:

Do ponto de vista tecnológico, nada mudou nos últimos doze anos. Ou seja, não há novos avanços tecnológicos que tornem esta ameaça mais séria hoje. E certamente não há nada de tecnológico que possa limitar esta nova ameaça a um punhado de companhias aéreas do Médio Oriente.

Portanto: eis como o “terrorismo” consegue ajudar as empresas anglo-saxónicas…
 

Ipse dixit.

Fontes: Red River Radio, The Guardian, The Intercept, Yahoo News, Moon of Alabama

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