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Úteros para aluguer

Italia do Norte: um casal gay decide realizar o seu projecto de procriação, vai para um Estado “em que
os casais do mesmo sexo não são discriminados ou de outra forma impedidos na sua fundamental aspiração para tornar-se pais”.

Aqui, uma mulher doa os seus óvulos, fertilizados com o esperma de um dos pais, e estes são implantados no útero duma segunda mulher disponível para a gravidez.

Em 2009 nasce um par de gémeos, todos voltam felizes para Italia e aqui surgem os problemas: o Pais não tem uma lei que possa reconhecer este tipo de paternidade.

Choros, gritas, horror: os gays estão a ser discriminados.

Fevereiro de 2017: o Tribunal de Trento reconhece o efeito legal “da providencia (dos EUA, ndt) que estabeleceu a existência duma relação parental entre duas crianças nascidas através da gestação de outros e do seu pai não genético”. Dito de outra forma, como também explica o juiz Marco Gattuso, é estabelecida a absoluta indiferença entre as técnicas de procriação que tenham sido utilizadas em relação ao direito da criança para o reconhecimento do estado de filho no âmbito dum projecto compartilhado de parentalidade.

Festa, tripudio, a felicidade paira sobre o Pais: o racismo foi derrotado.
Opinião pessoal: cambada de bestas.

Não sou católico, mas a decisão do Tribunal, com todas as consequências que implica, é simplesmente abominável.

1. Está fora de questão o direito que todos têm de viver a sua sexualidade segundo os próprios instintos (excluindo, como é claro, a pedofilia). Mas esta liberdade não pode envolver um terceiro sujeito que não tem possibilidade de escolha: a criança. Em princípio (ou melhor, segundo a lei da Natureza) cada criança tem o direito de ter um pai e uma mãe. Portanto, não é verdade que essa lei tutela as crianças: tutela apenas o desejo do casal homossexual.

2. Esta lei consagra a completa mercantilização do corpo feminino. A mulher fica apenas como incubadora, nada mais do que isso. A gravidez se torna um mero negócio: faço a gestação, entrego a criança e recebo o dinheiro. Qual a diferença entre uma mulher que aluga o seu corpo por dinheiro ao longo duma hora (uma “puta”) e uma que aluga o seu corpo por dinheiro ao longo de 9 meses? E’ apenas uma questão de tempo? As feministas nada tem a dizer?

3. Voltemos ao desejo de maternidade dum casal homossexual. E vamos até a esquecer o direito da criança em ter um pai e uma mãe. Nem falamos da capacidade dum casal homossexual em dar amor porque isso é implícito. Mas quantas crianças abandonadas existem nos orfanatos, quantas nunca terão a possibilidade de ter uma família? Minha irmã foi adoptada, bem sei o que significa isso, o incrível acto de amor em acolher um pequeno ser que não é “nosso” mas que será “filho” ou “filha” na mesma. Em Italia são 35mil as crianças que esperam para ter uma família: é mesmo necessário envolver os óvulos duma mulher e o útero duma outra mulher? E’ apenas “desejo de maternidade” o que impede de adoptar?

4. Serena Marchi, autora dum livro sobre estas questões (“Meu Teu, Seu – Mulheres que dão à luz por conta de outros”):

Nas minhas viagens para encontrar mães substitutas notei que quase todas as mulheres fazem isso com alegria, mas acima de tudo com a consciência de colmatar uma espécie de injustiça da natureza, que impede que dois homens possam para ter filhos.

A única injustiça da Natureza foi ter permitido o nascimento de indivíduos como Serena Marchi, que descrevem a “felicidade” duma mulher paga para carregar uma criança ao longo de nove meses, dar à luz com dores de parto e, em seguida, ser feliz para não voltar a vê-la nunca mais.

Se a ideia for mandar de pernas para o ar as milenárias bases da nossa sociedade e até da nossa espécie então tudo bem, não são os únicos que tentam isso, venham que há espaço para todos. Mas se é só para espalhar porcarias, acusando até Mãe Natureza de ser “injusta” com os homossexuais, então que haja pelo menos o bom gosto de fazê-lo em respeitoso e ignorante silêncio.

Porque, como dizia Francis Bacon “O homem é o ministro da Natureza, mas à Natureza comanda-se apenas obedecendo a Ela”. E Bacon é considerado um dos fundadores do Método Cientifico. Que raio.

Ipse dixit.

Fontes: Huffington Post (edição italiana), Serena Marchi, Massimo Fini