Robot-tax? Valha-me Deus…

Interessante artigo de Ben Tarnoff , jornalista e escritor, no inglês Guardian. Pena que o titulo possa parecer estúpido: “Os robots não apenas irão subtrair-nos o trabalho mas os ricos ficarão cada vez mais ricos”. Estúpido porque o problema não são as maquinas. Mas vamos com ordem.

O simpático Bill Gates apoia a ideia de taxar os robots. A proposta faz sentido? Dado que o Parlamento Europeu tomou em seria consideração a robot-tax, temos  a nossa resposta: não, esta proposta não faz sentido nenhum. A questão das maquinas que roubam o trabalho ao homem é velha, muito velha: surgiu já no final do 1700 e estou convencido de que, cavando bem, seria possível encontrar alguém a queixar-se da automação ainda séculos antes. Mas a questão das maquinas é apenas um chamariz: desloca-se o foco da atenção, desvia-se o olhar daquele que é o cerne do problema.

Tal como no final do 1700, não se entende (ou melhor: no se quer debater) que o problema não são as maquinas, mas como elas são utilizadas. As maquinas estão nas mãos de poucos, trabalham para enriquecer os poucos, não representam um valor acrescentado para a maior parte de nós.

No começo do 1900 trabalhava-se 8 horas por dia: chegaram os aviões, os carros, a televisão, o telemóvel, as viagens até a Lua, os computadores, mas ainda trabalhamos 8 horas por dia. Tudo evoluiu, mas não o tempo dedicado ao trabalho. E isso representa talvez o melhor exemplo do fracasso da nossa sociedade, porque significa que o homem, apesar do progresso, nada ganhou em termos de liberdade individual. E nem em termos de dinheiro. O artigo apresenta um dado importante: a produtividade aumentou 80.4% entre 1973 e 2011, mas as retribuições horárias subiram apenas 10.7%.

E as máquinas? As maquinas são boas: fazem trabalhos monótonos, repetitivos, perigosos, delicados. Não se queixam, não ficam doentes, nada de greves, nada de ferias, nada de contribuições para a reforma. Trabalham, sempre. E produzem riqueza.

Então a questão é simples: dum lado temos as máquinas, que são boas; do outro temos a riqueza, que fica só para os bolsos de quem gere as máquinas. Solução? Uma taxa sobre as máquinas? Nem pensar: redistribuição da riqueza, isso sim. O que significa que a riqueza produzida pelas máquinas não pode ficar apenas para alguns.

Uma taxa sobre os robots seria só uma esmola dos ricos dada aos pobres para mantê-los calmos e distraídos. Mas o poder continuaria nas mãos deles. Hoje, pelo contrario, e ainda mais no futuro, estaremos na condição de eliminar a assim chamada “classe operaria” simplesmente deixando que as máquinas trabalhem por conta de todos. Esta seria a verdadeira redistribuição da riqueza. 

Pergunta o autor do artigo: o que há de mal na riqueza produzida sem trabalho? Eu acho nada, desde que todos possam usufruir dela.

Ipse dixit.

Fonte: The Guardian

13 Replies to “Robot-tax? Valha-me Deus…”

  1. Falou mas não disse nada.
    Tinha que dizer:

    -Povo acorde e tomem conta das maquinas!

    -Povo para isso tens que exterminarem os "donos" das maquinas!

    Aí sim eu diria que ele disse alguma coisa, porem sei que
    seria inútil pois poucos ouviriam.

    Então continua como esta.

    José Arruela

  2. "No começo do 1900 trabalhava-se 8 horas por dia: chegaram os aviões, os carros, a televisão, o telemóvel, as viagens até a Lua, os computadores, mas ainda trabalhamos 8 horas por dia. Tudo evoluiu, mas não o tempo dedicado ao trabalho. E isso representa talvez o melhor exemplo do fracasso da nossa sociedade, porque significa que o homem, apesar do progresso, nada ganhou em termos de liberdade individual" Magistral observação…inequivocamente avançaram as tecnologias físicas, involuíram as tecnologias políticas. E o pessoal vem com a historinha das máquinas demoníacas…Tudo é demoníaco quando é para beneficiar poucos e afundar a maioria. Efeito de discurso para a "macacada" aderir sem pensar, enquanto afunda…

  3. …e não esquecendo que a maioria dos trabalhos são desconfortáveis, rotineiros, pouco criativos e, essa coisa ocupa quase todo o tempo do sujeito. Tempo é uma coisa que não tem preço. Implica em deslocamentos permitidos (principalmente se associado à dinheiro), em liberdade de pensamento e ação (principalmente associado à criatividade e felicidade), em socialização abrangente.
    Uma das principais ferramentas de domesticação e domínio é a exploração do nosso tempo pelo outro. Faz o sujeito transferir para o futuro uma realização que é sempre preterida. A maioria não consegue desvencilhar-se dessa rede de extermínio, nem mesmo identificá-la. Estamos a falar dos ainda assim privilegiados por trabalharem apenas 8 horas diárias. Uma operária de uma grande cidade brasileira, uma professora secundarista, por exemplo: trabalha 3 turnos de 4 horas, viaja aproximadamente 3 horas diárias em metrô, ônibus e vans e ainda deixa comida pronta para a família. Legal,né?

  4. E entao, uma pessoa que em nada está relacionado com essas elites, com o seu esforço, consegue montar um negocio baseado na forca de producao desses robos, também teria de partilhar os seus lucros com outrem?

  5. Perfeitas explanações, Max. Mas pra não dizer que tudo é tragédia, temos os aparelhos voltados à medicina, que realizam exames e auxiliam em cirurgias e que contribuem para aumentar a longevidade humana. Porém , nos "dão" mais anos de vida , para continuarmos vivendo apressados. Completando o que a Maria comentou: acho que as ciências humanas não acompanharam a evolução das ciências exatas.
    Abraços.

  6. Pois, as máquinas são óptimas. O problema é que graças a elas eu diria que vamos exterminar 99% da população humana em menos de 200 anos. As formas de o fazer são várias, mas a causa é só uma: os trabalhadores são dispensáveis.

    Assim que os poderosos deixarem de precisar dos trabalhadores para manter o seu habitat, pois as máquinas o poderão fazer, os trabalhadores desapareceram. Primeiro desaparecerá o trabalho, o que já acontece hoje pois muitos dos que trabalham fazem uma única coisa: perdem o tempo que podia ser usado para coisas perigosas para o sistema. Depois quando as máquinas forem mais sofisticadas eu estou certo que as próprias pessoas desaparecerão. Será mais fácil a eliminação para um número razoável, digamos 1%, do que ter de entreter alguns biliões de humanos. Nós vivemos num sistema, só que não é bem um ecossistema é mais o oposto.

  7. Máquinas são ótimas…kkk Informem-se sobre transumanismo e verão o quanto a mente humana está louca!!!

  8. A teoria marxista é a que melhor trata esta questão. E o paradoxo, demonstrado por Marx, é que o uso intensivo de máquinas acaba por invibializar o próprio capitalismo, pois sem trabalho humano não há capital.
    A releitura do marxismo pelos pensadores da teoria do valor vai fundo neste paradoxo e explica, inclusive, a causa real da crise de 2008.

    1. Enfim alguém com discernimento sobre a sutileza da cooptação histórica da essência revolucionária do pensamento marxista, através da Escola de Frankfurt, à serviço dos donos do grande capital, leia-se sionistas anglo-saxões.

  9. Muitas teorias têm surgido com a teoria do trabalhador virar uma espécie de dinossauro. Tem os que crêem no surgimento para breve de uma I.A. capaz de dominar todos os setores da atividade humana (será que o sexo também?). Já vi gente falando que tal inteligência seria capaz de "surrupiar" das mãos da plutocracia todo sistema produtivo, sem que houvesse reação, já que não haveria mercado por qual lutar, "Dinossauros (desempregados) não consomem, portanto, nos livremos destas espeluncas: Goldman & Sachs, Toyota, Aranco, Microsoft, Apple…" Daí a ideia de RBU ou RBI (renda básica universal/incondicional) passa a ser atraente para os 1%. Uma forma de se manter no topo. Desde que consigam evitar o surgimento da IA.

    Parece que assistiremos uma espécie de autofagia do sistema. O sistema cria a máquina em seu benefício, contra o trabalhador, que se liberta com o uso de capacidades inimagináveis, para no final devorar
    o sistema.

    Parece enredo de ficção científica, mas tem gente fazendo fé nisso. Daí filmes sempre denegrindo IA são produzidos aos montes, segundo afirmam. 2001, Matrix, Ex-machina, Exterminador do Futuro e muitos e muitos mais. Tal inteligência é dada como favas contadas já para a próxima década. E transhumanismo do Chaplin entra nessa salada.

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