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O testamento de Gaddafi

Dois documentos do líder líbico Gaddafi, escritos pouco antes de ser assassinado.

O primeiro está entre as últimas declarações de Muammar Gaddafi e foi publicada numa carta aberta ao jornal russo Zavtra no dia 5 de Abril de 2011.

Durante 40 anos, ou talvez mais, fiz tudo que o podia para dar às pessoas casas, hospitais, escolas.

E quando tinham fome, dei-lhe comida. Transformei Benghazi dum deserto numa terra fértil, resisti aos ataques do cowboy Reagan quando, tentando de me matar, assassinou uma órfã, a minha filha adoptiva, uma pobre criança inocente.

Ajudei os meus irmãos e as minhas irmãs na África com dinheiro para a União Africano. Fiz tudo para ajudar as pessoas a entender o verdadeiro conceito de democracia, na qual os comités populares governar o nosso País.
Para alguns, tudo isso nunca foi suficiente, indivíduos que tinham casas de 10 quartos, vestuário e mobiliário ricos. Egoístas como são, exigiam cada vez mais à custa dos outros, estavam sempre insatisfeitos, diziam aos americanos e aos outros visitantes que queriam “democracia” e “liberdade”.


Não queriam entender que se trata dum sistema de assassinos, onde o cão maior come tudo. Ficaram encantados com estas palavras, não percebendo que nos EUA não havia medicamentos gratuitos, hospitais gratuitos, casas gratuitas, educação gratuita, comida garantida.

Para eles, não nunca foi suficiente o que fiz, mas para outros eu era o filho de Gamal Abdel Nasser, o único verdadeiro líder árabe e muçulmano desde o tempo de Saladino, um homem que devolveu o Canal de Suez ao seu povo tal como eu tenho reivindicado a Líbia para o meu povo. Eram os seus passos que tentei seguir, para manter o meu povo livre do jugo colonial, dos saqueadores que o iriam roubar.

Agora estou sob o ataque da maior força militar da história. O meu pequeno filho africano Obama quer matar-me, tirar a liberdade do nosso país, o nosso alojamento gratuito, a nossa medicina livre, o nosso ensino gratuito, o nosso alimento seguro, e substituí-los pelos roubo ao estilo dos EUA chamado de “Capitalismo”. Mas todos nós, no Terceiro Mundo, sabemos o que isso significa. Isso significa que as empresas governam os Países, o mundo, e que as pessoas sofrem.

Então, para mim não há outra alternativa, tenho que resistir e, se Allah quiser, morrer, seguindo o caminho Dele, o caminho que tem enriquecido o nosso País com campos férteis, alimentação, saúde e até mesmo permitiu ajudar os nossos irmãos africanos e árabes para trabalhar aqui connosco, na Jamahiriya líbia [Grande Giamahiria Araba Líbica Popular Socialista é a expressão com a qual Gaddafi batipzou o Estado líbio desde 1977; deriva do termo jamāhīr e significa “regime das massas”, ndt].

Não quero morrer, mas se deve ser, para salvar esta terra, o meu povo, os milhares de filhos meus, então que assim seja.

Deixem que esse testamento seja a minha voz ao mundo. Digam-lhe que opôs-me ao ataque dos cruzados da Nato, à crueldade, à traição, ao Ocidente e às suas ambições colonialistas. Que resisti com os meus irmãos africanos, os meus verdadeiros irmãos árabes e muçulmanos.

Tentei fazer luz. Quando em outros lugares eram construídos palácios, eu morava numa casa modesta, numa tenda. Nunca esqueci a minha juventude em Sirte, não desperdicei as nossas riquezas nacionais e tal como Saladino, o nosso grande líder muçulmano que resgatou Jerusalém para o Islão, guardei pouco para mim.

No Ocidente, alguns têm me chamado de “louco” e “demente”. Eles sabem a verdade, mas continuam a mentir. Eles sabem que a nossa terra é independente e livre, não sujeita ao colonialismo. Eles sabem que a minha visão e o meu caminho sempre foram honestos e no interesse do meu povo. Eles sabem que vou lutar até o último suspiro para manter-nos livres. Que Allah nos ajude.

A profecia

 Em Maio do mesmo ano, sempre numa carta aberta ao mesmo diário, uma interessante “profecia”:

Agora ouçam vocês, pessoas da NATO. Você estão a bombardear uma parede que estava no caminho da migração africana para a Europa, e no caminho dos terroristas da Al-Qaeda.

Esta parede era a Líbia. Vocês estão a quebra-la. Você são idiotas e vão queimar no inferno por causa dos milhares de migrantes provenientes da África e por apoiar Al-Qaeda.

Vai ser assim. Eu nunca minto. E não minto agora.

As últimas vontades

O segundo documento é reconhecido como as últimas vontades de Gaddafi e foram escritas poucos
dias antes de ser assassinado, em Outubro de 2011.

Esta é a minha vontade. Eu, Muammar bin Mohammad bin Abdussalam bi Humayd bin Abu Manyar bin Humayd bin Nayil al Fuhsi Gaddafi, juro que não há outro Deus senão Allah e que Maomé é o profeta de Deus, a paz esteja com Ele. Prometo que vou morrer como um muçulmano.

Se tivesse que ser morto, gostaria de ser enterrado, de acordo com os rituais muçulmanos, nas roupas que eu usava no momento da minha morte e o meu corpo, não lavado, no cemitério de Sirte, junto à minha família e parentes.

Gostaria que a minha família, especialmente as mulheres e as crianças, fossem bem tratados depois da minha morte. O povo líbio deve proteger a sua identidade, as conquistas, a história e a imagem honrosa dos seus antepassados ​​e heróis. O povo líbio não deve esquecer o sacrifício das pessoas livres e melhores.

Apelo aos meus apoiantes para continuar a resistência e lutar contra qualquer agressão estrangeira contra a Líbia, hoje, amanhã e sempre.

Deixem os povos livres do mundo saber que poderíamos ter negociado e vendido a nossa causa em troca duma vida pessoal segura e estável. Recebemos muitas ofertas para isso, mas escolhemos ficar na frente do confronto como um emblema de dever e honra.

Mesmo se não ganharmos imediatamente, vamos dar uma lição para as futuras gerações: a escolha de proteger a nação é uma honra e vendê-la é a maior traição da qual a história irá lembrar-se para sempre, apesar das tentativas dos outros para afiram o contrário.

Ipse dixit.

Fontes: Il Giornale, BBC, Global Civilians for Peace, Tass