Da autoridade do governo

A autoridade do governo. Pensamos nisso: a nossa vida enquanto cidadãos é regulada pela forma de
governo presente no nosso País. Mais no geral, podemos falar de Estado, seja ele qual for.

É provável que a grande maioria dos Leitores viva num Estado democrático, onde o governo é eleito pelos cidadãos: dia de eleições, são votados e escolhidos uns indivíduos que têm o dever de criar leis, fazer respeitar as que já existem, etc.; nós voltamos para o nosso trabalho e a vidinha continua alegremente.
Parece simples e sobretudo parece óbvio.

“Óbvio”? Parem: donde provém a autoridade do governo? Quem estabeleceu que um governo, um qualquer, tem o direito de governar? E a autoridade do Estado? Uma tal autoridade é dada por nós, na altura do voto? Certeza? Mas o Leitor tem mesmo certeza disso? E se o governo, um qualquer governo num qualquer País, não detivesse autoridade nenhuma? Se afinal a autoridade que reconhecemos ao Estado não passasse duma ilusão?

A autoridade política, a autoridade do Estado ou do Governo, é algo que a pessoa média quase nunca questiona. Todos passamos a vida a pensar que o Governo (embora muitas vezes composto por elementos criminosos, fraudulentos e mentirosos) tem uma sólida base que justifica a sua autoridade política. Muitas pessoas, independentemente das ideias políticas, pensam que o governo tem o implícito direito de governar, usando a coerção se for necessário.

Donde surgiu esta ideia? Porque continua a existir? Porque reconhecemos uma tal autoridade? 

Curta introdução histórico-filosófica tanto para dar a ideia de que o blogueiro é gente fina que lê livros complicados dos quais até consegue extrair profundos ensinamentos

O filósofo britânico do século XVIII, David Hume, escreveu:

Nada é mais surpreendente do que a facilidade com a qual muitos são governados pelos poucos.

Hume foi um dos poucos que dedicou tempo para examinar de perto as origens da autoridade política do Governo. E as suas conclusões são surpreendentes. Hume percebeu que a maioria dos governos é formada e conseguida pela força. A História ensina isso vezes sem conta, inclusive mostra também como um Estado possa recorrer à criação de inimigos fictícios para justificar a existência dele.

A maioria dos governos não são formados por contracto, mas sim através da conquista e da guerra.

“Contracto” diz Hume. Alguma vez alguém entre os Leitores assinou um “contracto”? Um pedaço de papel com o qual reconhecia e aceitava o poder do governo ou até do Estado? Não.

Podemos pensar que o facto de votar é já por si uma aceitação implícita, uma espécie de assinatura do contracto. Calma pessoal, calma: voltaremos acerca deste ponto porque a coisa não é tão simples assim. Por enquanto continuemos a ler o bom Hume, porque no ponto de vista dele a autoridade concedida ao governo (ou Estado) não poderia passar nem sequer um exame superficial.

Nada é mais confortável do que submeter-se silenciosamente ao governo que encontramos estabelecido no país onde vivemos, sem indagar muito curiosamente acerca da sua origem […]. Poucos governos serão examinados de forma tão rigorosa.

Então é o hábito a base da autoridade sobre a qual são fundados os governos? É daí que deriva a autoridade que detêm? Não, o hábito é apenas uma consequência. Segundo Hume, há apenas uma causa:

É somente sobre a opinião que o governo é fundado; e esta máxima estende-se aos governos mais despóticos e militares, bem como aos mais livres e mais populares.

Como veremos, esta última citação soa verdadeira e é especialmente interessante dado que contradiz frontalmente a noção amplamente aceite apresentada pelo colega filósofo John Locke: a ideia segundo a qual existe uma espécie de “contracto social” no qual o Estado encontra a justificação para o seu poder.

A ideia de Hume aponta para opinião como primeira causa, hábito como preguiçosa consequência, nada mais. O Leitor pode aprofundar as teorias de Hume num dos muitos livros que o filósofo escreveu, leitura que todavia desaconselho a não ser que o Leitor esteja numa condição de excessiva felicidade e deseje recuperar um pouco de equilíbrio com uma boa dose de tédio e frustração (porque Hume apoiava a força coercitiva dos Estados e a guerra como forma de implementa-los!).

Mas agora deixamos para trás a História e passamos para algo mais próximo de nós.

O monopólio da força

O Professor Michael Huemer, que ensina na Universidade do Colorado, fez alguns óptimos trabalhos sobre o tema da autoridade política. Ele é autor de livros como The Problem with Political Authority: An Examination of the Right to Coerce and the Duty to Obey, título demasiado comprido que nem tenho a vontade de traduzir, tanto nem existe o livro na versão portuguesa (mas já foi traduzido “Creed: O Legado de Rocky” para que nada nos falte).

Bom, o que interessa é que Huemer mostra que é muito difícil justificar a autoridade política, especialmente na forma presente agora na maioria dos Países ocidentais: um governo “democrático” que reclama o monopólio do uso da força ou da violência.

Monopólio? Isso mesmo: monopólio. Só o Estado pode utilizar a força, o Leitor não. O Estado pode armazenar tanques, aviões e navios de combate: o Leitor não pode, por lei. Que dizer, o Leitor pode até juntar na varanda alguns misseis, isso sim, só que depois será preso e julgado com a acusação de terrorismo. Isso porque o Estado faz “defesa” (mesmo que há séculos ninguém o ataque), o cidadão não pode: tem obrigatoriamente que delegar a defesa dele ao Estado. Não há escolha.

Huemer realça que a maioria das pessoas defende o direito do Estado existir alegando a presença dum qualquer tipo de contracto social, a mesma teoria de Locke como vimos. No entanto, a teoria de Locke já foi demonstrada falsa: não existe nenhum contracto, não há um pedaço de papel que o consagre, nem há nenhuma folha que o Leitor assina uma vez alcançada a maior idade. E mesmo que existisse um contracto escrito, seria necessário o constante consentimento, a contínua revalidação por parte de cada nova geração para que fosse considerado válido.

Consentimento?

Dúvida: mas não haverá uma forma de consentimento implícito que justifica o governo?
Porque quando o argumento do “contracto social” cai, as pessoas tendem a argumentar que, ao invés de consentimento explícito, há alguns tipos de consentimento implícito que damos ao Estado.
Huemer identifica 4 tipos de possíveis consentimentos implícitos:

  1. o consentimento passivo;
  2. a aceitação de benefícios;
  3. o consentimento através da presença;
  4. o consentimento através da participação.

1. O consentimento passivo é aquele que é aplicado quando nada fazemos para não aceitar a situação. Por exemplo: o Leitor não gosta do governo mas nada faz para substituí-lo: na prática acaba por aceita-lo.

2. A aceitação dos benefícios é outra forma de consentimento: o Leitor diz não gostar do Estado mas quando vai para um hospital público aceita pagar a factura com a comparticipação do Estado. E até fica contente.

3. O consentimento através da presença é o mais simples: o Leitor está em Portugal e, só pelo facto de aí estar, aceita fazer parte do Estado português.

4. O consentimento através da participação é aquele muitas vezes apresentado como “prova definitiva”: o Leitor vota, isso significa que o Leitor aceita o Estado.

No entanto, para realmente dar o nosso consentimento, deveríamos estar num ambiente não-coercitivo: o
consentimento só pode ser realmente dado quando estamos também livres de não dar o consentimento, se este for o nosso desejo. É este o caso dos nossos Estados, dos nosso governos? A resposta é clara: não. Não temos escolhas.

O que os nossos Países “democráticos” fazem é apresentar uma escolha deste tipo: o Leitor pode votar mas apenas segundo as regras que eu (Estado) estabeleci. Eventuais alterações ao sistema podem ser introduzidas só com os meios que eu (Estado) prevejo e com os limites que eu (Estado) estabeleço.

É esta uma escolha? Não, esta é uma imposição. 

Se o consentimento fosse verdadeiro, ambas as partes deveriam ter a possibilidade de “sair” do sistema e ambas também deveriam ter obrigações que, se não cumpridas, seriam motivo suficiente para a rescisão do acordo. Mas alguém entre os Leitores conhece uma forma de “sair” do sistema? Ou uma forma de rescindir este hipotético “contracto social”? Não, porque não existem.

O Leitor não pode simplesmente optar por não obedecer: o Estado apresentaria acusações e, finalmente, ia prende-lo por não obedecer aos seus decretos. O Leitor poderia sair, mudando de País: mas isso significaria enfrentar um outro Estado que actua da mesma forma.

Na verdade, como afirmado, não há maneira de rescindir este alegado “contracto social” ou de sair deste sistema, a não ser transferindo-se para uma remota zona desértica, na esperança que ninguém repare na coisa (porque todas as terras do Globo fazem parte dum qualquer País). Não há nenhuma maneira eficaz com a qual simplesmente dar como acabado o tal “contracto” sem sofrer a consequência negativa de ser acusado e preso.

É este um consentimento? Não: é uma relação de força, uma coerção. Sem alternativas possíveis não há consenso, nem explícito nem implícito. É esta a nossa condição.

A maioria

Outro argumento apresentado para justificar a autoridade do Estado na nossa sociedade é o apoio dado por uma maioria de pessoas. Afinal não estamos em democracia?

Sim, estamos, e isso apresenta outro problema: é justo que as opiniões e os desejos dum grupo de pessoas (a maioria) possam sobrepor-se aos dum outro grupo de pessoas (a minoria)? Sim? E por qual razão?

E não responda o Leitor “porque é justo”: esta é a resposta que fomos habituados a considerar como correcta, mas justa não é. Quero lá saber se a maioria das pessoas considera horrível os carros amarelos: eu gosto e quero um carro amarelo (por acaso o meu é branco). E se, utilizando um paradoxo, a maioria das pessoas decidisse publicar um novo decreto que põe fora de lei os carros amarelos, eu já não poderia ter um carro com a minha cor favorita? Acham isso “justo”?

Na verdade, o argumento da maioria é o mais fraco de todos: o poder da maioria é uma tirania das massas que esmaga as minorias, como sabe qualquer estudante de Ciência Política. Algo muito bem conhecido pela História e que hoje aceitamos naquele que é o seu aspecto politicamente correto, a Democracia.

Já Aristóteles afirmava que “uma Democracia sem limites é, tal como a oligarquia, uma tirania exercida por um grande número de pessoas”. Aristóteles tinha percebido isso há mais de dois mil anos. Um Estado que reclame a sua autoridade a partir da maioria é um Estado injusto, que utiliza uma forma de tirania, mesmo que goste de definir-se como “democrático”.

Os benefícios

O argumento final de quem tenta procurar uma sólida justificação para a autoridade do governo é geralmente a “consequencialista”, isso é: apela-se aos benefícios, invoca-se a utilidade do Estado. Olhamos em nossa volta e podemos observar todas as coisas boas que o Estado fez e faz: afinal podemos pensar que a autoridade do Estado é válida porque proporciona muito benefícios.

A esta observação responde-se com duas perguntas:

  1. tais benefícios valem o preço que pagamos em termos de perda de liberdade e de deveres?
  2. o que este Estado fez que não teria sido possível com outra forma de sociedade?

A História mostra claramente que a maior parte das injustiças e da destruição foram cometidas por pessoas que obedeciam a uma autoridade: foi esta a defesa dos nazistas no processo de Nuremberga também. Pelo que: a autoridade dum Estado pode sim proporcionar alguns benefícios (e proporciona, de facto), mas também implica perda da liberdade e alguns riscos terríveis. E são isso mesmo: terríveis.

Se o governo recebe a sua autoridade política dos benefícios que proporciona, isso significa que um qualquer sistema que consiga os tais benefícios será tão bom quanto o nosso Estado. Dito de outra forma: todos os sistemas que podem proporcionar benefícios têm a mesma autoridade. Mas reparem: o Leitor não pode saber quais são estes outros sistemas porque o seu Estado não lhe permite experimenta-los.

Pegamos num exemplo absurdo: Hitler fez maravilhas para o povo alemão (antes da guerra, claro), proporcionou-lhe imensos benefícios. Temos de pensar que o Nazismo é bom? Isso não faz sentido, então temos que admitir que os benefícios (como um hospital gratuito, uma boa reforma, etc.) não podem servir para determinar se um Estado tiver uma legítima autoridade ou não.

Porque um Estado merece uma consideração especial, uma autoridade especial (que lhe permite usar a força, cobrar impostos, julgar, prender e até matar) quando a nenhum outro indivíduo ou organização é permitido fazer o mesmo? Não pode ser por causa dos tais “benefícios”, como vimos, porque neste caso seria também preciso admitir que no passado houve situações em que Estados brutais ou até a falta dum Estado conseguiu fazer o mesmo ou até melhor (sim, pessoal, leram bem: “até melhor”).

Da mesma forma, já houve situações em que a presença do Estado anula os tais benefícios: os governos que mataram os seus próprios cidadãos foram a principal causa de morte não natural no século XX. Não foi a Primeira Guerra Mundial, não foi a Segunda, nem as duas juntas: foram os Estados.

Fora da caixa

O Estado não é a raiz de todos os males, ora essa. Seria bom se assim fosse, seria um Mundo bem mais
simples.

Mas se o desejo for procurar algo mais, para nós todos, em primeiro lugar temos que começar a raciocinar out of the box, como dizem os anglo-saxónicos, “fora da caixa”, tentando afastar o condicionamento e a programação que qualquer regime (democrático, totalitário, religioso, etc.) inevitavelmente utiliza.

Seria óptimo se pudéssemos usar uma varinha mágica para poder pensar out of the box, mas não funciona assim, não há varinha nenhuma. Devemos pôr a funcionar o cérebro, fazer um esforço para acordar os neurónios preguiçosos: tentar afastar das nossas mentes as ideias limitativas e pôr em discussão tudo.

No caso da autoridade, é preciso reconsiderar as nossas posições: não há nada que justifique a existência dum Estado. Não há um “contracto social”; não há um consentimento, nem explícito nem implícito; não há uma autoridade “justa” por parte da maioria; não há benefícios que justifiquem a existência dum Estado que afinal é só imposto; não é apresentada nenhuma alternativa, pelo que não há uma verdadeira possibilidade de escolha; e mesmo que existam alternativas (e existem), estas são logo travadas pelo nosso sistema.

Resumindo: não há liberdade, somos governados por um Estado que é o único que pode utilizar a força (da lei ou da violência) para manter a actual condição; e não há maneira para justificar tudo isso.

Ipse dixit.

19 Replies to “Da autoridade do governo”

  1. Nunca tinha visto as coisas por esse prisma.
    De facto nunca seremos livres e as nossas escolhas serão cada vez menos "escolhas".

    Eu até acho que o nosso insconsciente nos leva invariavelmente a legítimar o estado porque faz parte da natureza humana aceitar ser liderado, conduzido.

    Parabéns pelo excelente blog.

    1. "Eu até acho que o nosso insconsciente nos leva invariavelmente a legítimar o estado porque faz parte da natureza humana aceitar ser liderado, conduzido."

      Acho que há esta componente: o homem como animal social, que precisa duma "manada". E na manada há sempre um líder, verdade.

      É interessante todavia realçar como na nossa sociedade cada vez mais a figura do líder seja posta em segundo plano em prol dum conjunto de pessoas, a tal maioria. Eu tenho fortes dúvidas, não sei responder: será que esta Democracia é o mal menor? Será que esta democracia com a maioria como líder vai contra as nossas necessidades (a manada, o líder)? Será que, muito simplesmente, estamos a errar? Ou, vice-versa, este é o máximo grau da evolução duma sociedade humana?

      Tenho dúvidas, mas não consigo convencer-me de que o actual modelo represente o topo. Se assim é, então o homem é bem pouca coisa…

      Abraçoooo!!!!

  2. Parabéns por sintetizar a noção que tenho…do melhor que já lí !!!
    Porra não estou sozinho!!!

    Um valente abraço e força.

    Nuno

    1. Olá Nuno!

      Não, não estás sozinho. O problema é que este assunto nunca é debatido pelos canais públicos: a Democracia é o dogma absoluto da nossa sociedade, não pode ser posta em causa. O que é outra forma de condicionamento…

      Grande abraçoooo!!!

  3. Fantástico!
    Por isto, já deixei de votar há muito tempo.
    Daqui a pouco estamos a discutir as bases do sistema anárquico. Mas não é disso que trata o post, a análise é bem mais profunda. A liberdade absoluta só mesmo numa ilha deserta onde não existam outros homens, pois, quando o primeiro der á costa, esta fica sériamente ameaçada.

    Krowler

    1. Krowler!!!

      "A liberdade absoluta só mesmo numa ilha deserta onde não existam outros homens, pois, quando o primeiro der á costa, esta fica sériamente ameaçada".

      Se calhar é mesmo isso, conviver significa admitir uns compromissos e a liberdade não é uma excepção. Problema: muitas pessoas = muitos compromissos e a liberdade fica cada vez mais reduzida. Tem que haver outra solução, fogo…

      Grande abraçooooooo!!!!

  4. Li o artigo e veio-me logo a memoria o video deste homem a bater-se numa especie de tribunal dizendo que não pertencia a ficção corporativa dum Jolly Roger do qual o pretendiam fazer propriedade. Tanto se bateu que a "juiza" acabou por abandonar a sala de audiencia.

    Vejam o video o espirito e esse:
    The Natural Living Man

    EXP001

  5. Olá Max: anárquicos questionamentos…porque todos os teóricos do anarquismo político questionaram a existência do Estado (Prouhdon, Bakunin, Malatesta…) São gajos que eu admiro enquanto questionadores do autoritarismo, qualquer tipo (do pai, do patrão, do padre, do governador, do policial, do juiz, do chefe, do militar) porque defenderam uma sociedade de iguais onde a autoridade que alguém exerça só se pode basear na sabedoria reconhecida pelos iguais.
    E aí começa toda a confusão porque as sociedades de iguais que existiram e existem (este blog já deu ao conhecimento dos leitores várias delas, a maior parte dos "primitivos", povos sem Estado) reconhecem a autoridade baseada no exemplo, no sacrifício pela tribo, grupo de afinidade ou que seja, pela experiência de vida ou competência específica, mas a igualdade não é perante as leis ou perante as instituições.
    As culturas afirmativas das instituições, das normas, dos regulamentos, das leis, quanto mais fazem uso destas estratégias, mais se afundam no lamaçal da falta de liberdade e igualdade. Raríssimas pessoas aceitam que as coisas sejam assim, e a servidão voluntária prospera, penso eu, quanto mais o indivíduo metaboliza este statos quo. Tem solução? Para quem, como eu, deplora este tipo de amarras resta a desobediência civil, inventar a vida o mais possível de outra maneira. É isso que vem fazendo todos os rebeldes verdadeiros (eu não disse revolucionários)
    Pessoalmente chego num poço sem fundo quando defender um mínimo de Estado, o Estado mínimo, implica em apoiar uma forma de violência autoritária maior ainda com o advento das corporações como corpo de mando e subserviência globais que transcende os Estados nacionais. E lá do fundo do poço só me resta resistir à força esmagadora das corporações com uma arma vil, o fortalecimento dos Estados soberanos. Gostaria de receber contribuições porque este é um dos meus maiores pesadelos.

    1. Uhi, Maria, eu sou mente simples, tu em poucas linhas inseres uma tal quantias de dados e dúvidas… E a verdade é que não sei responder.

      A única coisa que posso dizer é que, por enquanto, a Anarquia não pode passar duma utopia. Não pode porque o Homem não está minimamente preparado. A Anarquia implica mudanças tão profundas na forma de pensar de cada um de nós que até o Comunismo estremece.

      A Anarquia não pode ser imposta com a violência, com uma revolução, é algo que tem de ser aceite: nasce de interior do homem, então aplica-se de forma natural à sociedade. Não há maneira de fazer o percurso inverso (no Comunismo sim).

      Quanto ao Estado. Não sei, eu desconfio fortemente do Estado, prefiro o conceito de Nação: um grupo de pessoas que têm em comum um idioma, uma história, um percurso, costumes… Vejo estas como riquezas. O meu problema é encontrar "algo" que consiga unir a Nação à liberdade. Complicado, porque parece obrigatório passar pelo conceito de Estado: então caímos no nacionalismo da vertente mais ordinária.

      Pode haver um Estado "mínimo"? Na minha óptica não se os moldes do Estado forem os actuais, porque agora o uso da violência é obrigatório. Um Estado diferente? Também complicado: a ideia de Estado traz sempre consigo a de autoridade, então voltamos ao princípio.

      Talvez o problema resida não nas instituições mas no Homem: o Homem é imperfeito e as suas criações também o são. Se assim for, não há outra coisa a fazer se não esperar que o Homem evolua. Não é preciso muito, só algumas dezenas de milhares de anos. Se não pensarmos demais nisso, passam num instante.

      Grande abraçooooo!!!

  6. A DEMOCRACIA É UMA FORMA de dotar o contribuinte/consumidor de algum poder negocial…mas, todavia, no entanto… esse poder negocial deverá ser aprofundado (ver Exemplo 1, e Exemplo 2).
    .
    .
    .
    EXEMPLO 1:
    O CONTRIBUINTE TEM QUE SE DAR AO TRABALHO!!!
    -» Leia-se: o contribuinte tem de ajudar no combate aos lobbys que se consideram os donos da democracia!
    —»»» Democracia Semi-Directa «««—
    -» Isto é, votar em políticos não é (não pode ser) passar um cheque em branco… isto é, ou seja, os políticos e os lobbys pró-despesa/endividamento poderão discutir à vontade a utilização de dinheiros públicos… só que depois… a ‘coisa’ terá que passar pelo crivo de quem paga (vulgo contribuinte).
    -» Explicando melhor, em vez de ficar à espera que apareça um político/governo 'resolve tudo e mais alguma coisa'… o contribuinte deve, isso sim, é reivindicar que os políticos apresentem as suas mais variadas ideias de governação caso a caso, situação a situação, (e respectivas consequências)… de forma a que… possa existir o DIREITO AO VETO de quem paga!
    [ver blog « http://fimcidadaniainfantil.blogspot.pt/ »]
    .
    .
    EXEMPLO 2:
    CONCORRÊNCIA A SÉRIO!!!
    Não há necessidade do Estado possuir negócios do tipo cafés (etc), porque é fácil a um privado quebrar uma cartelização… agora, em produtos de primeira necessidade (sectores estratégicos) – que implicam um investimento inicial de muitos milhões – só a concorrência de empresas públicas é que permitirá COMBATER EFICAZMENTE A CARTELIZAÇÃO privada.
    [ver blog « http://concorrenciaaserio.blogspot.pt/ »]

    1. Nós deviamos era ser informados é para isso que o ensino existe de como relamente funcionam as coisas. E não inutilidade imbecis que se aprendem decoram e esquecem. Mas como dizia Henry Ford…..isso não interessa é claro! o falecido comediante George Carlin também menciona isso, ainda à uns threads atrás coloquei isso a parte interessante do sonho americano é precisamente a parte em que querem pessoas espertas o suficiente para fazer e não perguntar coisas incomodas e critica o sistema de educação.

      Abraço
      Nuno

  7. Excelente abordagem Max!!!
    Poderia evoluir o nicho das relações entre Estados Nacionais, seus verdadeiros detentores e a formação dos indivíduos.
    O caminho é este mesmo! Parabéns.
    Mas a realidade imposta pela dominância dos pouquíssimos é outra e ainda mais grave. Aponta para a transferência do monopólio estatal para o monopólio privado, distanciando-nos de qualquer possibilidade de vivermos uma réstia de liberdade.
    Abraço e obrigado por me fazer desfrutar de conteúdo honesto e valoroso, tão raro nos dias atuais…

  8. Também gostei bastante!!

    Durante a Guerra Civil Espanhola, a cidade de Barcelona e boa parte da Catalunha, viveu numa espécie de sistema anarquista( é melhor mudar o nome, para libertário ). È certo que as circunstâncias eram especiais, mas a história prova que mesmo na prática, as alternativas que questionam a autoridade do Estado são possíveis. Já vamos assistindo, nos nossos dias, á criação de bolsas de resistência, comunidades que procuram a autosuficiência energética e alimentar e uma ligação mais forte entre as pessoas e a natureza. Como exemplos, temos as eco-aldeias, como a Tamera, no Alentejo, ou a Rede Aurora. Mesmo dentro do sistema, a proliferação de candidaturas de grupos de cidadãos ao poder local e a instituição de orçamentos destinados a projetos desenvolvidos pela comunidade, podem ser caminhos que a pouco e pouco vão trilhando novas formas de organização em sociedade que não sejam tão coercivas.

  9. Uma riqueza que, DE FACTO, as regiões/sociedades não podem deixar de aproveitar

    -» Muitas mulheres heterossexuais não querem ter o trabalho de criar filhos… querem 'gozar' a vida; etc…
    -» Muitos homens heterossexuais não querem ter o trabalho de criar filhos… querem 'gozar' a vida; etc…
    Concluindo: é uma riqueza que as sociedades/regiões não podem deixar de aproveitar – a existência de pessoas (homossexuais ou heterossexuais) COM DISPONIBILIDADE para criar/educar crianças.
    .
    —> Já há mais de dez anos (comecei nos fóruns clix e sapo) que venho divulgando algo que, embora seja politicamente incorrecto, é, no entanto, óbvio:
    – Promover a Monoparentalidade – sem 'beliscar' a Parentalidade Tradicional (e vice-versa) – é EVOLUÇÃO NATURAL DAS SOCIEDADES TRADICIONALMENTE MONOGÂMICAS…
    {ver blogs http://tabusexo.blogspot.com/ e http://existeestedireito.blogspot.pt/}

  10. Olá Max: falas que eu concentro dados e dúvidas em poucas frases…concordo, mas hás de convir que o tema é vasto! Mas o Chaplin conseguiu num único parágrafo explicitar melhor que eu o meu pesadelo: "Mas a realidade imposta pela dominância dos pouquíssimos é outra e ainda mais grave. Aponta para a transferência do monopólio estatal para o monopólio privado, distanciando-nos de qualquer possibilidade de vivermos uma réstia de liberdade."
    Soluções locais, me parece as únicas possíveis os demais comentaristas que antecederam este comentário apontam, e qualquer delas me parecem viáveis, na escala humana, como eu sempre digo, não para enormes coletividades.
    Aí tu dizes: "Se assim for, não há outra coisa a fazer se não esperar que o Homem evolua. Não é preciso muito, só algumas dezenas de milhares de anos. Se não pensarmos demais nisso, passam num instante." Só tem um problema para mim: esperar que a humanidade evolua..hum…aí há controvérsias. E mesmo admitindo que evolua, dado o estado da arte, esse tempo todo que será necessário…hummm, agora lembrei que o Trump e melhor ainda a Hilária, acho que ajudam as gentes todas a INvoluírem antes. Abraço.

  11. Mais do mesmo com outra roupagem e esta nem é "eleita" é o que há, que compra o resto.
    Pois é, Maria e Chaplin já puseram o dedo na ferida.
    Essa hipótese é um caminho ainda pior, se bem que na prática as coisas já estejam tão baralhadas que já nem se sabe bem de onde chegam as ordens ou desordens. Evolução, o que é evolução? Mencionando-se Aristóteles algumas cabeças e não poucas à mais de 2000 anos já lá tinham chegado onde está a dita evolução? Ou digamos mais do mesmo com muita cosmética?

    Nuno

    O paradoxo de Max :-))))

  12. E quem foi John Locke? ideólogo cujo pensamento serviu de base para ações dos primeiros liberais iluministas que ascendiam ao poder e precisavam fragilizar o absolutismo. Aprofundou-se em obras do cabalístico rosacruciano Bacon. Em 1683, fugiu para os Países Baixos por agitação social e voltou à Inglaterra quando Guilherme de Orange subiu ao trono, em 1688, garantindo a primazia de judeus travestidos de protestantes. Sua teoria parte de que todos são iguais, e a cada um será permitido agir livremente desde que não prejudique o outro.
    Definiu três direitos naturais, comum a todos os homens: à vida, à liberdade e à propriedade, estratificando coisas extremamente desiguais.
    Afirma que o mundo natural é propriedade comum, mas que qualquer indivíduo pode apropriar-se de uma parte dele ao acrescentar seu trabalho aos recursos naturais. Resume a relação propriedade-trabalho onde indivíduos têm direito de se apropriar da terra em que trabalham desde que isso não cause prejuízo aos demais. Mas desconsidera a realidade como se ainda houvesse terras suficientes e férteis além do que aqueles ainda não providos pudessem usar.
    Defende que a experiência é a fonte do conhecimento, que depois se desenvolve por esforço da razão.
    Precursor da democracia liberal dada a importância que atribui à liberdade e à tolerância religiosa (em favor de judeus) contra os abusos do absolutismo.
    Mas essa liberdade não seria aplicável aos povos ditos primitivos que não estariam associados ao restante da humanidade no uso do dinheiro e equiparados a bestas de caça ou selvagens (base ideológica, até então inexistente entre os pensadores anteriores, para legitimar invasões de terras e extermínio de povos indígenas) nem aos papistas (católicos) que seriam como "serpentes".
    A tolerância não se aplicava as camadas com menos recursos econômicos, para as quais defendia medidas severas, como: direcionar para o trabalho crianças a partir de três anos, de famílias sem condições de alimentá-las; obrigar mendigos a carregar um distintivo, para vigiá-los com fiscais, e impedir de circular fora das áreas e horários permitidos; impedir mendigos de pedir esmolas fora de sua paróquia, devendo ser internados em casa de trabalhos forçados; os que falsificarem salvo-conduto para fugir de casa de trabalho devem ser punidos com corte de orelhas e, na hipótese de reincidência, com deportação para plantações, como criminosos.
    Dizia todos serem iguais, mas defendia a escravidão.
    Sustenta a escravidão pelo contrato de servidão em proveito do vencido na guerra cuja outra opção seria a morte, assumindo o ônus de servir em troca de viver. Não defende a escravidão fundada em raça, mas no contrato entre vencedores e vencidos. Foi acionista da Royal African Company, empresa traficante de negros.
    A defesa da escravidão decorre da defesa do direito de propriedade, um dos grandes ideais do liberalismo, e isso une liberais clássicos, o direito de propriedade como um dos direitos naturais do ser humano.

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