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Ignorantes brasileiros

Título provocatório?
Nada disso: não é “Brasileiros ignorantes”,  é “ignorantes brasileiros”, coisa bem diferente.
Leiam o que se segue, s.f.f.

A ideia era publicar a segunda parte do artigo dedicado ao genocídio dos índios norte-americanos. Depois
reparei que a primeira parte tinha sido gentilmente republicada pelo site GGN, do qual sou regular leitor também.

Os ignorantes e os índios

Eis alguns dos comentários que encontrei, com relativos títulos mas desprovidos de nome dos utilizadores por uma questão de privacidade:

Agora é que tive tempo de ler

Agora é que tive tempo de ler mais desse artigo, e constatar que o
genocídio dos indígenas nele tratado serve de pretexto para propaganda
antijudaica, afinal. Assim como o artigo sobre Angela Merkel, desse
mesmo sítio português, e reproduzido nesta página. Lamentável, pra dizer
o mínimo.
Tem faltado “curadoria” aqui no blogue.

É um papo sem sentido e sem

É um papo sem sentido e
sem direção. A Historia da humanidade se fez através de conquistas de
territorios e povos, isso registrado pela historia escrita dos ultimos
dez mil anos. Os EUA se integrarem de Leste a Oeste conquistando
territorio indio, se assim não fosse o Pais não existiria tal qual é
hoje. Da mesma forma o Brasil se formou com os conquistadores e
bandeirantes adentrando territorio indigena, se assim não fosse o Brasil
não existiria talqual é hoje.
Sem falar na conquista brutal das civilizações pre-colombiadas dos
Incas, Maias, Aztecas, muito mais evoluidas do que a dos indios
brasileiros, até que os nossos indios foram melhor absorvidos do que os
da America espanhola, o retrocesso está se dando a partir da absurda
politica de “”reservas” para manter indios em estagio primitivo, tese
ahistorica.
Registro tambem qu as conquistas romanas se deram pela derrota de
incontaveis povos dominados, assim como os hunos dominaram o Imperio
Romano do Ocidente e depois os arabes conquistaram o Imperio Romano do
Oriente.
O que propõe o autor do artigo? Gostaria de entender qual sua
interpretação da Historia, me parece que pretende uma Historia
politicamente correta e retroativa, me parece conversa de maluco.

A culpa, no fundo, deve ser do Cunha ou do Temer

 “50
milhões de nativos morreram por causa das guerras, perda do ambiente
onde viviam, mudanças no estilo de vida, doenças. Mas outros estudos
apontam para 100 ou até 114 milhões de vítimas”.
Blablablá, blablablá, fantasia, fantasia. Números absurdos. Que baita
conversa mole, hein? Não há registros. Não há provas. Não há fontes. É
chutometria ou tiraram daquela porcaria de livro do Eduardo Galeano, “As
veias abertas da America Latina”? Livro, aliás, renegado pelo próprio
autor. Além do mais, os invasores ou descobridores eram uns chucros e
quase na totalidade analfabetos que não liam e mal contavam…e nem
tinham visão geral geográfica e demográfica. Além disso é preciso
ponderar o estágio de civilização do seculo XV. Ou não? Tempos de
inquisição, queima de hereges, ideia do indio sem alma, etc.
Post irrelevante. Comprido demais. Dá preguiça de ler. Fiz uma
“dinâmica”. Achei infeliz a ideia de contrapor o “dia da memória
judaica” com o inexistente “dia da memoria indígena. Seriam 3, 4?…pra
indio norte americano, centro americano….sul americano…brasileiro?. E
pra finalizar: a criação da data conserta a barbárie de 500 anos atrás?
Dá licença!

Imperialismo luso-castelhano

Não é conversa de maluco, é coisa de portugues. Curiosa e ironicamente o post é do blog lusitano “Informaçãoincorrecta“,
o que é autoexplicativo. E atenção: é parte I. Podemos esperar outras
considerações, preciosidades e profundas elocubrações intelectuais.

E qual a conclusão do artigo?

E qual a conclusão do artigo? Os europeus deveriam ficar na Europa e deixar as Americas com os indios?

Antes de continuar, duas notas.
1. Antijudaismo???
Acusar Informação Incorrecta de propaganda antijudaica é simplesmente idiota. Vou repetir mais uma vez: este blog não é anti-judaico mas pró-judaico, pois este blog é declaradamente antisionista. Ser antisionista é a melhor forma de ajudar o povo judeu.
2. Dados
Informação Incorrecta não atira dados para o ar. Cada dado apresentado é fruto de pesquisa, o que implica necessariamente, por minha parte, a procura de fontes fidedignas. No caso dos 50, 100 e 114 milhões de vítimas (que, como fica claro no artigo, são referidas ao total dos povos indígenas dos continentes americanos e não apenas aos índios dos actuais EUA):
  • Mann, Charles C.: 1491 – New Revelations of the Americas Before Columbus , Knopf, 2005, ISBN 978-1-4000-4006-3
  • Henige, David: Numbers from nowhere: the American Indian contact population debate, University of Oklahoma Press, 1998, ISBN 0-8061-3044-X.
  • Alan Taylor: American colonies; Volume 1 of The Penguin history of the United States, History of the United States Series. Penguin, (2002), ISBN 9780142002100.

Um pequeno esforço na net e poderão descarregar gratuitamente os documentos acima listados. Aconselho também a obra de David Carrasco, um dos máximos pesquisadores acerca do assunto. Mas estes são pormenores.

Os ignorantes e Angela

Passamos para um segundo artigo publicado pelo GGN, “Angela Merkel: costas quentes & oportunismo“.

Eis os comentários:

Esse texto é lixo

Texto
apócrifo, nazista, tendencioso,  de péssima qualidade
contendo informações falsas, racista, preconceituoso. Justamente por
tudo isso e por atacar os judeus do começo ao fim o autor se esconde
através da anonimidade. Na Alemanha ele seria aprocessado por um texto
com conteúdoantisemitista. É nazista e  fascista  de cima a baixo.   Ele
diz que quando Merkel se casou, ela “escondeu” seu nome de solteira por
ser de origem judaica. Simplesmente ridículo e manipulador.
Na Alemanha, até o final dos anos 80, a mulher, ao se casar, passava a
adotar o nome do marido e perdia o nome de solteira . . Em relação ao
escândalo de doações ilegais ao CDU,  o Partido Democrata Cristão, ao
qual pertence Helmut Kohl, cujo nome ele nem sabe escrever, ele dá
informação falsa: ele afirma que foram doaçōes de judeus. É falso. O
 tesoureiro do CDU estadual, do estado de Hessen,  Sayn-Wittgenstein,
havia afirmado que uma doação seria proveniente de judeus falecidos, o
que foi logo depois comprovado como mentira. Ele se desqualifica
completamente ao afirmar que o jornalzBILD  é de “primeira grandeza”.
Ele não tem a mínima ideia do que seja esse jornal que serve no máximo
para embrulhar lixo. A intenção do texto apócrifo é desmoralizar Angela
Merkel e ele usa de seu antisemitismo  para atacar o povo judaico. Se
Merkel tem origem judaica, onde esrà o oroblema a não ser no fascismo do
autor  ?  Esse artigo não poderia nunca está aqui. Ele diz que Merkel ”
é divorciada e agora  concubina” , preconceito mais que rudículo. Onde
nós estamos? Não sou de origem judaica e considero Merkel uma política
 com defeitos e qualidades. Mas textos desse nivel são repugnantes.

Também acho

Também acho.
Está faltando “curadoria” aqui no blogue. Uma coisa dessa não pode ser divulgada de forma acrítica.
Aliás, ao ler o artigo do mesmo sítio português reproduizido nesta
página do blogue, constato que a pretexto de tratar do genocídio dos
índios americanos, seu intento é de propaganda antijudaica. Lamentável.

Você resumiu todo o meu

Você resumiu todo o meu sentimento por esse texto. Sendo eu de
origem judaica, me senti pessoalmente agredido e me pergunto se o texto
foi lido antes de ser publicado por aqui.

Merkel

Lamentável
o tom deste artigo. É muito interessante expor os meandros do poder.
Mas o que o artigo faz não é isso. É simplesmente um uso de certos
conhecimentos misturado com preconceitos anti-semitas e anti-femininos.
Um desserviço. Se a Merkel é uma traidora, uma aproveitadora, uma lacaia
dos EUA (a ser comprovado, cf. o final do artigo…), a redação do
autor a respeito das origens ou, melhor, das relações judaicas dela são
um comprovante de que Merkel é mais progressista que o autor. Note-se
que o autor questiona Merkel ser ministra da família por ser
“concubina”! Um machista besta querendo pousar de contestador! Ridículo
demais, nem sei porque me dou o trabalho de comentar isso aqui. Enfim…
A gente não gosta de engolir bobagem de graça. Mas o principal seria
olhar o panorama das lideranças políticas europeias e mundiais. Podem
ter suas opiniões, eu acho que Merkel defende pontos mais democráticos
do que qualquer outra liderança europeia manifestou, e, inclusive, mais
democráticos do que Obama. É, Merkel não é mais do PC. É isso. É isso
que o autor quis dizer? Ela concorda. Todos concordamos.

Artigo besta esse, ou mal

Artigo besta esse, ou mal intencionado. “Origens judaicas” tinha
grande parte dos portugueses que colonizaram o Brasil. Tornaram-se
cristãos novos, lembram-se? Se o pai de Merkel era pastor luterano,
havia deixado de ser judeu. Não há uma raça judaica. O judaísmo é
cultural, religioso. Muitos de nós temos ascendência judaica, e nem
sabemos disso, ou não nos importamos com isso, porque não somos
seguidores do judaísmo. Além do mais, Merkel era “naturista” quando
jovem, como comprova essa foto, por exemplo.

É…

… Mas pelo menos ela faz menos feio que o ‘Sig’ Gabriel. E os
Verdes, então…! Resumo: as alternativas de poder na Alemanha são ainda
piores, basta olhar a AfD (que definitivamente não fica em cima do
muro).
No mais, é de sublinhar essa descomunal besteira do texto: “A Axel
Springer SE é uma das principais editoras de livros digitais da Europa,
mas pode contar com produtos em papel de primeira grandeza, como Bild…”

Realmente

Realmente, nota-se como o autor conhece bem a Alemanha ao citar o Bild como jornal de primeira grandeza. Seria o mesmo que considerar o antigo Notícias Populares de primeira grandeza. Mas ainda é melhor que a Veja… ainda pode-se encontrar alguma coisa que preste no Bild, o que na Veja não se encontra.

Quando cheguei na Alemanha, sabia muito pouco da língua e depois de poucas semanas estudando-a, consegui ler uma nota publicada no Bild sem ajuda de dicionário. Contei feliz à minha professora de Alemão e ela disse “não precisa ficar feliz, esse jornal é tão ruim que até analfabetos conseguem ler”.

E realmente, as alternativas à Frau Merkel não são as melhores. Temos o crescimento do AfD, temos o SPD que está cada vez mais parecido com o PSDB brasileiro (diz ser um partido socialista, mas não é bem assim). E a direita marchando para a vitória.

Também aqui algumas breves notas.

1. Bild “grande”?
Bild é ou não um “produto de primeira grandeza”?
Circulação diária de jornais na Alemanha:

  • Junge Welt – 19.000 cópias  
  • Neues Deutschland – 28.669 cópias
  • Die Tageszeitung – 51.959 cópias
  • Der Tagesspiegel – 111.146 cópias
  • Handelsblatt – 123.473 cópias
  • Die Welt – 187.866 cópias
  • Frankfurter Allgemeine Zeitung  – 263.910 cópias
  • Süddeutsche Zeitung – 367.924 cópias
  • Bild – cerca de 2.500.000 cópias

Bild é tão só o sexto diário não asiático que mais vende no planeta. Não é “grande”: é “enorme”.

É um diário obsceno? Sim, é, mas não ralhem comigo, falem com os alemãs que costumam compra-lo. São eles que tornam Bild um “grande” diário. 

2. Notícias, dados, fontes…

Não acaso inseri no início do artigo o nome de Thierry Meyssan. Duvido que o leitor médio brasileiro saiba quem é Thierry Meyssan, mas no resto do mundo é bastante conhecido, sendo jornalista e escritor de sucesso, autor de investigações sobre a extrema Direita, a Igreja Católica, o Opus Dei. A base (não exclusiva) do artigo publicado é um trabalho de Meyssan, já partilhado nas páginas de Voltaire.net em 2005.

As restantes fontes podem ser lidas no fundo do artigo: provavelmente Der Spiegel ou The Washington Post não são publicações suficientemente fidedignas para alguns leitores brasileiros, mas foi o que encontrei, lamento pelo incómodo.

Depois há isso, que acho muito engraçado: “Em relação ao
escândalo de doações ilegais ao CDU […] ele dá
informação falsa: ele afirma que foram doaçōes de judeus. É falso”. Claro que é falso, tanto que no artigo não pode ser encontrado. Mas isso significa que esta creme de opinionistas nem se deu ao trabalho de ler com um mínimo de atenção: o importante parece ser atacar, falar mal, insultar, mesmo sem bases. Já o facto de Informação Incorrecta ser um blog lusitano, uhi!, é suficiente para falar dele com um óbvio sentido de superioridade e escárnio (porque, como é óbvio, apesar dos meus constantes erros gramaticais ninguém entendeu que nem português sou…).

Já há vários anos que GGN costuma republicar os artigos de Informação Incorrecta: não é esta a primeira vez que comentários deste estilo aparecem, mas até hoje nada que exulasse do âmbito da normalidade. Quando uma pessoa decide publicar o seu trabalho, deve estar pronta para receber elogios, críticas e indiferença, caso contrário melhor não publicar nada. A novidade consiste no número de delírios que desta vez apareceram, algo que obriga a reflectir, sobretudo considerando que o meu estilo de trabalho e de exposição não mudou. Algo está a passar-se, como é óbvio e nem é difícil imaginar o quê.

Como ponto positivo: se já antes tinha uma óptima opinião dos Leitores de Informação Incorrecta, bem podem imaginar agora…

Resumindo: pessoalmente convido os Leitores a seguir as publicações do GGN, cujo trabalho merece elogio (e o sucesso em termos de visitas justamente premeia o esforço). Mas, meus amigos do Brasil, lamento informar que andam uns problemas naquelas bandas, problemas sérios também. E agora mais do que nunca: não, o maior dos problemas não é o golpe, de todo. Não é a CIA, não é o Sionismo, não são os Illuminati, não é o Bilderberg, não é o pré-sal, não são os media, não são os Portugueses… o maior dos problemas não é nada que venha “de fora”.

Brasileiros e Brasil

E tanto para confirmar: pouco antes de publicar estas notas, encontrei o artigo Brasil é o terceiro país mais ignorante do mundo. Tenho os arrepios só a tentar imaginar como podem ser o segundo e o primeiro… lololololol

Falando a sério: a pesquisa (publicada no passado Dezembro) é importante porque mediu o que os brasileiros sabem sobre si mesmos. Falar de “ignorância” não é propriamente correcto, porque o objectivo não era a cultura geral mas estabelecer o nível de conhecimento dos brasileiros acerca do Brasil. Por exemplo: qual a percentagem de brasileiros com acesso à internet, em que percentagem as famílias mais ricas concentram a renda total do País, quantas pessoas, sempre em percentagem, vivem na zona rural, qual a idade média do País, quantos imigrantes, quantos têm nenhuma religião, quantas mulheres na política, etc.

São dados que não revelam a citada cultura geral ou o nível de instrução por exemplo, mas a consciência do meio no qual se vive. O que não pode ser ignorado porque deve ser daí que é obrigatório partir para tentar uma melhoria. Se não tivermos ideia de qual a nossa condição, melhoramos o quê?

A pesquisa mostra como nos outros Países é superestimada a proporção de riqueza nas mãos das famílias mais ricas; no Brasil este valor é subestimado. O que aparentemente não faz sentido: num País onde o governo está nas mãos dum partido “dos trabalhadores” (eleito pelos cidadãos), é suposto ter uma maior consciência da disparidade existente entre a riqueza média da população e aquela das classes mais privilegiadas, mas não é de todo o que acontece no Brasil.

Num País onde há mais de 10 anos o poder está nas mãos da dita Esquerda, seria normal ter consciência da situação da mulher no âmbito do trabalho ou naquele político, um dos pontos altos nas políticas “dos trabalhadores”: mas assim não é.

Da mesma forma, ignorar a idade média dos habitantes (o palpite foi 56 anos, enquanto o dado correcto é 31 anos) ou o total da população rural (os entrevistados responderam que 34% da população vive em áreas rurais, quando o número real é menor do que a metade disso: 15%) tem óbvias consequências na altura de estabelecer quais as escolhas prioritárias do País e quais as políticas que devem ser implementadas para o futuro.

Na maior parte dos casos, vejo como os Leitores brasileiros tendem a acusar o “fora” dos males do Brasil. O que é compreensível. Todavia, permito-me insistir na direcção contrária: o “dentro”. Faço isso não apenas pelos comentários apresentados aqui hoje, que são coisa recente; faço isso porque desde que abri Informação Incorrecta iniciei a ler diários, blogues, sites brasileiros, a ver televisão do Brasil. Em particular fico interessado nos comentários, e isso independentemente da origem política deles, porque representam uma boa maneira de medir o pulso, porque escritos ou proferidos com descontracção, muitas vezes motivados por sentimentos enraizados. Proporcionam um bom quadro dos pensamentos entre os cidadãos.

É claro que este será sempre um quadro limitado e não minimamente comparável com aquele de quem vive o Brasil. Todavia, não acho ser algo que possa ser tranquilamente ignorado e deitado no lixo. Porque depois aparecem os delírios publicados acima, depois aparecem os dados das pesquisas, então tudo começa a fazer um certo sentido, a encaixar-se, não acham?

Ipse dixit.