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Ken Livingstone e a Nova História

Ken Livingstone

Ken Livingstone é um político britânico.

Definido também como Red Ken por via das suas ideias orientadas à Esquerda, é membro do Parlamento, já foi líder do Greater London Council (GLC, um forma de governo local da capital inglesa entre 1965 e 1986) e desde 2000 até 2008 foi Presidente da Autarquia de Londres.

Faz parte do Partido Trabalhista (o Labour Party). Aliás: fazia.

Já não faz porque Red Ken foi expulso do partido. A acusação? A pior que hoje em dia possa atingir um ser humano: anti-semitismo. Uma infâmia que irá pesar sobre o que resta da vida dele e sobre as próximas duas gerações dos Livingstone. Red Ken disse o seguinte: os líderes sionistas dos judeus na Palestina emigraram no início dos anos de ‘900 e a seguir colaboraram activamente com Hitler.

Anti-quê???

É este anti-semitismo? Não. E não apenas porque é facto historicamente provado, mas também porque está escrito, preto no branco, em The Transfer Agreement and the Boycott Movement: A Jewish Dilemma on the Eve of the Holocaust, no Centro de Estudos Yad Vashem, Vol. XXVI, Jerusalem 1998, pp 129-172. O Centro Yad Vashem, tanto para ter uma ideia, é o memorial oficial de israel para lembrar as vítimas judaicas do Holocausto. O The Transfer Agreement… é um dos mais conceituados documentos sobre o tema do acordo de “transferência” (limpeza étnica) dos judeus europeus que deveria ter sido implementado pelos Nazistas com a entusiasta cooperação dos judeus sionistas da Palestina.

A documentação sobre o plano de limpeza étnica dos palestinianos por parte dos sionistas a partir do Primeiro Congresso Sionista de Basileia, em 1897, é tão fundamentada e conclusiva que pessoas como Golda Meir, Moshe Dayan, Rabin, Begin, Shamir e Netanyahu tiveram que aceita-la e admiti-la sem rodeios. O fundador do sionismo, Theodor Herzl, deixou tudo escrito já antes de 1904 (Herzl, Theodor: The complete diaries, N.Y. Herzl Press, 1969, vol. I, p. 88.):

Vamos tentar empurrar a população [da Palestina, ndt] em miséria além das fronteiras procurando-lhe emprego nos Países de trânsito, enquanto lhes negaremos qualquer trabalho na nossa terra […] Ambos os processo de desapropriação e de expulsão dos pobres devem ser realizados de forma discreta e secreta 

Os sionistas que desejavam expulsar os Palestinianos tinham todo o interesse que o maior número possível de judeus europeus emigrassem para a Palestina. E Nazismo, com a sua clara intenção de eliminar os judeus, representava uma oportunidade maravilhosa. Os sionistas ofereceram ao Terceiro Reich cooperação no processo de limpeza étnica na Europa. Ponto final, esta é História.

O grotesco é a forma como o Ocidente está disposto a rastejar quando se trata dos sionistas, babando-se e tremendo, até ultrapassar os mesmos israelitas na defesa dos crimes por estes cometidos: Livingstone foi expulso do seu partido por ter dito a verdade, nada mais do que isso. E reparem: não num partido conservador, mas supostamente de Esquerda, o partido liderado por Jeremy Corbyn.

Estamos perante a ré-leitura da verdade para que seja apresentada uma nova História, na qual o povo hebraico tem que desenvolver unicamente o papel de vítima, suprimindo até aqueles que são factos comprovados e que são aceites no mesmo israel.

É uma História simples, para mentes simples: Hitler era louco e chegou ao poder só pela força do fanatismo; os judeus eram um povo tranquilo que o regime Nazista decidiu eliminar por questões raciais; depois os EUA foram cobardemente atacados em Pearl Harbor, então decidiram entrar em guerra para derrotar a loucura de Hitler, Mussolini e do Imperador do Japão. Ken Livingstone? Um anti-semita que acusa falsamente os Judeus e que portanto não pode encontrar lugar num partido de Esquerda.

Pronto, a Nova História é servida.
Sejam felizes.

Uma conspiração, Corbyn o covarde & anti-sionismo

Acabou? Ainda não.
O jornalista italiano Paolo Barnard conhece os citados documentos então decide ligar para alguns diários ingleses (The Guardian, The Independent e BBC Newsnight) com a intenção de informa-los de quanto acima reportado; mas a resposta é mais ou menos a mesma: “Sério? Boh, a notícia afinal já saiu, não é que nos interesse muito”.

Liga para Noam Chomsky e esta é a conversa:

Barnanrd: O que Livingston disse que é abertamente admitido por israel em Yad Vashem. O que diabo está a acontecer no Reino Unido?
Chomsky: Estão todos paralisados ​​pela habitual histeria sobre o sionismo. Tente contactar o The Guardian.
Barnard: Já falei com as redações de The Guardian, The Independent e da BBC Newsnight, mas não querem saber. Dá para acreditar??!!
Chomsky: Acredito, acredito… tenta com MediaLens.

MediaLens é uma organização inglesa que há décadas dá na cabeça da assim chamada “esquerda livre britânica” quando esta se assusta pelas notícias. Portanto, Barnard envia um mail para o director, David Edwards, e um para George Galloway do Parido Laborista. Na manhã seguinte, Edwards responde para dizer que Galloway já twittou as informações (isso é: que as palavras de Livingstone na verdade estão presentes no The Transfer Agreement…), que foram enviadas também por um activista anónimo de Londres; mas Barnard relata também das conversas tidas com o The Guardian, The Independent e BBC Newsnight e é aí que a coisa se torna ainda mais interessante:

Edward: Olha Paolo, há um acordo de ferro entre The Guardian, The Independent e a BBC para destruir Jeremy Corbyn [lembramos: o novo líder do Partido Laborista, ndt].
Barnard: Mas porquê? Corbyn é uma camomila de socialista, a quem pode meter medo?
Edward: Mesmo a camomila é demasiado de Esquerda neste País agora, o Partido Trabalhista quer elimina-lo e o escândalo foi montado por causa disso.

Jeremy Corbyn

Moral: Corbyn assustou-se perante a acusação de anti-semitismo e preferiu expulsar Livingstone do partido por ter dito a verdade (um facto historicamente comprovado) em vez que defende-lo e enfrentar as acusações.

Não satisfeito, Corbyn iniciou uma investigação interna sobre o anti-semitismo no Partido Trabalhista, tanto para não deixar dúvidas acerca da sua boa fé e atirar as dúvidas sobre o partido todo.

Potência do adjectivo: anti-semita. É suficiente esta palavrinha para espalhar o terror, fazer ruir muros, mergulhar na suspeita. E não deixa de ser irónico saber que um dos grupos mais anti-semitas seja mesmo o sionista, formado por judeus enlouquecidos por um sentido de omnipotência, combatido até por movimentos hebraicos.

A propósito: desde 2015 já não é possível ser “anti-sionista” e não “anti-semita”. Um tribunal alemão (Essen) decidiu que o anti-sionismo e o anti-semitismo são equivalentes.
Como afirma o juiz Gauri Sastry:

‘Sionista’ na língua dos anti-semitas é um código para ‘judeu’.

O que é um emérito disparate: muitos judeus não são sionistas, alguns até se reuniram em grupos declaradamente anti-sionistas. A ignorância espalhada é tal que ninguém fez notar ao juiz que os Árabes também são semitas, pelo que, segundo a Nova Língua, hoje ser anti-árabe (que é uma forma de antissemitismo) significa ser anti-sionista também. O tribunal de Essen resolveu involuntariamente séculos de conflitos!

Mas, como vimos, estamos numa fase em que deve ser construída a Nova História: e paciência se a inteligência for uma das primeiras vítimas.

Ipse dixit.

Fontes: Paolo Barnard, Yadvashem – The Transfer Agreement and the Boycott Movement: A Jewish Dilemma on the Eve of the Holocaust (ficheiro Pdf, Inglês), The Jerusalem Post,