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Presidencias EUA: besta contra besta

Raramente foi observada uma campanha destas proporções. E falamos aqui da campanha mediática contra o candidato Donald Trump. Artigos, notícias nos telejornais, inteiros programas dedicados ao candidato presidencial.

Isso enquanto é silêncio acerca de Hillary Clinton; no máximo podemos saber que há outros candidatos democratas que recolhem consensos e conquistam Estados nas primárias. Parece implícito o facto da Clinton ser a escolha natural, óbvia, do Partido Democrata. E isso apesar do eleitorado enviar sinais bem diferentes (ver vitórias do candidato Sanders).

Voltemos ao milionário com os cabelos efeito porquinho-da-Índia.
Trump é uma besta ao quadrado, acerca disso não pode haver muitas dúvidas. O típico fruto duma sociedade, aquela norte-americana, em plena decadência de valores, de moral, até dum mínimo de bom gosto. Os seus apoiantes afirmam que Trump é incómodo porque diz a verdade, porque subverte as regras do jogo.
Não: Trump é uma besta ao quadrado, ponto final.

Mas a Clinton?
Paul Craig Roberts, provavelmente um dos poucos políticos decentes nos EUA (apesar do seu passado entre os Republicanos), dedica um dos seus últimos artigos à simpática Hillary. E não é um artigo de opinião, mas de factos: algo acerca do qual foi estendido um véu de silêncio, para que certas coisas não sejam lembradas, não agora, em plena campanha eleitoral.

E os factos são simples: Hillary Clinton tem provado ser uma candidata “impermeável”. Com o apoio do “esquecimento” dos órgãos de informação, escapou ilesa de grandes escândalos, dos quais apenas um teria sido suficiente para destruir qualquer outro político.

O dinheiro

Hillary recebeu subornos substanciais de empresas e organizações financeiras sob forma de compensações para conferências. É sob investigação por uso indevido de informação classificada, um delito pelo qual muitos informadores foram presos. Hillary sobreviveu ao bombardeio da Líbia e à criação (a sua criação) do “novo” Estado da Líbia, uma espécie de inferno no qual sobreviver é já um triunfo, fábrica de milicianos jihadistas, acerca do qual o silêncio ocidental é total. Sobreviveu às acusações de que, como Secretária de Estado, favoreceu os interesses estrangeiros em troca de doações para a Fundação Clinton. E há também uma longa lista de escândalos anteriores: Whitewater, Travelgate, Filegate…

Como é possível que Hillary Clinton tenha atravessado isso tudo sem um só aranhão? Simples: é ela a melhor representante da oligarquia dominante, a Public Relations do tal 1%. Hillary trabalha e é paga para fazer os interesses dos grandes bancos, do complexo industrial militar e da lobby israelita. Uma vez eleita (porque será eleita) defenderá aqueles interesses, não os do povo americano.

O facto de que a Clinton foi comprada pelos grupos de interesse privado é de domínio público. Por exemplo: de acordo com a CNN, entre Fevereiro de 2001 e Maio de 2015, Bill e Hillary Clinton têm arrecadado 153 milhões de Dólares em compensações para conferências, para 729 discursos que tiveram como custo médio 210.000 Dólares. E agora que é candidata, os preços têm aumentado. A Deutsche Bank pagou 485.000 Dólares para um discurso, a Goldman Sachs 675.000 Dólares por três discursos, Bank of America, Morgan Stanley. UBS e Fidelity Investments pagaram cada um 225.000 Dólares.
A propósito: já viram os nomes? Pois.

Como pode a simpática Hillary fazer isso, em plena corrida presidencial e, mesmo assim, continuar a apresentar-se como a melhor candidata democrata? Com o apoio dos media, em primeiro lugar do Washington Post e do New York Times que sempre defendem a Clinton. Enquanto Trump abre boca, diz um disparate (não faz outra coisa) e é logo atacado por qualquer “jornalista” (com muitas, muitas aspas…), a simpática Hillary trabalha alegremente pelos maiores bancos mundiais, é coberta de dinheiro e ninguém acha isso estranho.

Mas há mais além do dinheiro. Foi Hillaryque  levou o governo Obama à destruição do governo da Líbia, onde a “Primavera Árabe” não era nada se não um grupo de jihadistas pago pela CIA, utilizados para expulsar os investimentos da China no petróleo do leste da Líbia e para ocupar um dos últimos bancos centrais independentes (ou, pelo menos, não controlados pelos homens da oligarquia mundial).

Tinha sido ela a forçar o marido a bombardear a Jugoslávia. Foi ela que tramou para uma mudança de regime na Síria. Foi ela que puxou os cordéis do golpe que depôs o presidente das Honduras, eleito democraticamente. Foi ela que levou para o Departamento de Estado a neo-conservadora Victoria Nuland, a madrinha do golpe que provocou a queda do Presidente da Ucrânia. E foi ainda ela que definiu o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, o “Novo Hitler”.

Tudo isso não deve admirar: Hillary sempre foi e ainda é uma alma Republicana, convertida aparentemente ao Partido Democrata apenas para conseguir uma carreira de sucesso ao lado do marido Bill. Nesta altura, para sermos mais precisos, a Clinton já não é nem Republicana nem Democrata: simplesmente, faz parte daquela oligarquia, o tal 1%, que utiliza indiferentemente a falsa divisão entre Direita e Esquerda para poder melhor gerir os seus próprios interesses. Para os Clinton, o governo significa utilizar o cargo público para promover interesses privados, que proporcionam avultadas recompensas. De acordo com o Wall Street Journal, pelo menos 60 empresas que tiveram interesses no Departamento de Estado durante o mandato de Hillary Clinton (como Secretária de Estado) doaram um total de mais de 26 milhões de Dólares para a Fundação Clinton.

Ao fisco, a Fundação Clinton e os seus associados declararam um total de doações para 1.6 bilhões de
Dólares. Os nomes dos benfeitores? O oligarca ucraniano Victor Pinchuk, Exxon Mobil, James Murdoch, Boeing, Dow, Goldman Sachs, Walmart. E depois há os Estados: durante o mandato de Hillary Clinton, o Departamento de Estado aprovou a venda de armas no valor de 165 bilhões de Dólares em 20 Países, cujos governos deram milhões para a Fundação Clinton. Nomes? A monarquia do Kuwait, o Qatar, os Emirados Árabes Unidos, a Arábia Saudita…

Falta alguém entre estes nomes? Pois falta.
Por isso vale a pena espreitar a equipa que trabalha com Hillary ao longo desta campanha eleitoral.

A eminência parda

Chefe da organização é John Podesta, um nome que pode dizer pouco à primeira vista.

Podesta entrou no mundo do poder bastante cedo: já em 1967 tratava da eleição do candidato presidencial Eugene McCarthy: iniciava assim um relacionamento com Washington que dura até hoje. Conselheiro do líder dos Senadores Democratas, do Comité da Agricultura, do Comité para a Segurança e o Terrorismo, das Reformas, da Justiça, Chefe do Gabinete de Bill Clinton… Em 1988 fundou com o irmão a Podesta Associated Inc, uma empresa de lobby financiada por nomes como Wal-Mart, BP e Lockheed Martin.

Mas a importância de Podesta vai mais além disso. Em 2003 funda o Center for American Progress, um dos mais importantes think tank Democratas. Os financiamentos? Só em 2013 foram 42 milhões de Dólares, uma prenda de George Soros (que é também financiador directo da campanha de Hillary), da Fundação Ford, da Fundação Bill e Melinda Gates, da Fundação Walton, do Citigtoup, da Wells Fargo, da empresa de armamentos Northrup Grumman, dos Emirados Árabes.

Podesta, que também opera como conselheiro do actual Presidente Obama, é uma das principais eminências pardas de Washington e pertence ao exclusivo grupo de pessoas que desenvolvem um papel-chave no mundo político: são o elo de ligação entre a oligarquia política e aquela empresarial, são eles que gerem os contactos, que recolhem os financiamentos, que organizam as reais prioridades tendo como base não os interesses dos cidadãos mas as exigências dos financiadores.

Para entender quais os verdadeiros objectivos de Hillary, é necessário ter em conta donde provém a maior fatia do dinheiro que a sustenta. E aqui o quadro fica bastante mórbido: grandes bancos, empresas de armamentos, especuladores financeiros, produtores de petróleo… numa palavra: oligarquia.

Quanto disso chega até o ouvido do cidadão?
Pegamos no Huffington Post, o mais lido site político da internet, hoje na galáxia Verizon:

E, obviamente, nem falta o Gif para atrasados mentais:

O eleitor americano enfrenta uma escolha aparentemente quase impossível: votar para uma besta ao quadrado ou para uma besta interesseira belicista que nunca fará a vontade dos cidadãos mas sim aquela da oligarquia no poder?

Na verdade, o eleitor americano escolherá a pessoa belicista e interesseira, a que utiliza molho picante, pela simples razão que a campanha mediática contra a besta ao quadrado dará os seus frutos. Mas isso interessa até um certo ponto: seja como for, o próximo Rei do Mundo será um indivíduo que de certeza ninguém queria como vizinho.

Ipse dixit.

Fontes: Paul Craig Roberts, The Intercept, Washington Blog, Washington Blog (2), International Business Times, The Big Story, The Seattle Times, Formiche, The Huffington Post