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Suíça: stop ao dinheiro criado pelos bancos privados?

…e depois dizem que a democracia directa não mudaria nada.

Pegamos no caso da Suíça: os cidadãos podem influenciar a actividade do governo através de iniciativas e referendos, porque o povo é o órgão político supremo do Estado. Esse é o princípio que caracteriza o sistema político da Suíça.

Deveria ser o mesmo nos outros Países? Teoricamente sim, mas há uma levíssima diferença: na Suíça existe a democracia directa.

E um dos resultados é o seguinte: num dos próximos referendos (consultações frequentes no País), os cidadãos suíços vão decidir se for o caso de proibir aos bancos comerciais de criar dinheiro. Na prática: só dinheiro criado pelo Banco Central.

Mais de 110.000 cidadãos suíços têm assinado a petição que agora será tornada referendo. A campanha, promovida pelo movimento Dinheiro Soberano Suíço (Vollgeld) teria um efeito devastador no âmbito da especulação financeira: os bancos privados seriam obrigados a manter como reserva 100% dos depósitos. Na prática, proibição do sistema da reserva fracionária, incapacidade de “dopar” a economia até esta tornar-se especulação.

Pode ler-se na página do movimento:

Os bancos já não seriam capazes de criar dinheiro, mas apenas ser de emprestar o dinheiro que colectam com os depositantes ou dos outros bancos.

Tanto para fazer um sintético resumo: nas economias ocidentais, os bancos centrais não controlam a criação de dinheiro ex nihilo (do nada); esta ocorre sempre que um banco comercial abre uma linha de crédito, quando concede um empréstimo por exemplo.

O banco central só pode tentar influenciar a oferta de dinheiro com os seus instrumentos de política monetária. Todavia, esta intervenção acontece inevitavelmente “depois”, com um efeito atrasado que pode ficar fora do tempo útil. Se o referendo na Suíça passasse, o seu Banco Central viria a ser o único banco do País capaz de criar dinheiro.

Basicamente, o poder de criar dinheiro seria mantido separado do poder de decidir como utiliza-lo.
Ao fazer isso, os bancos comerciais continuariam a gerir as contas, os pagamentos, a servir como intermediários entre crédito e poupança. Todos os anos, o Banco Central iria decidir um total de dinheiro “novo” (criado pelo próprio banco) distribuído entre os bancos privados, os quais deveriam depois decidir como investi-lo.

Este sistema não fornece uma grande força no sentido do crescimento, mas torna a economia muito mais estável: diminui grandemente a especulação, pois os bancos têm uma quantia limitada (e não ilimitada como agora) de dinheiro e escolhem não correr riscos excessivos. Das mesma forma, os investimentos oferecidos aos clientes (quem poupa) tornam-se mais seguros pois o banco tem absoluta necessidade de rentabilizar a sua quota de dinheiro.

Não podemos falar duma verdadeira soberania monetária, pois para isso seria preciso nacionalizar o Banco Central (ah, pois, ia esquecendo…ainda há alguém que acredita que os Bancos Centrais sejam “nacionais”), mas certamente é uma das chaves fundamentais para interromper uma fraude de proporções enormes: a do dinheiro “privado”.

Ipse dixit.

Fonte: no texto