A Turquia e o avião russo

Durante as fases iniciais da recente guerra na Jugoslávia, perto da praia de Muggia (Italia) podia
acontecer de ouvir um barulho ensurdecedor e, a seguir, observar alguns MiG-29 (esloveno? croatas? sérvios?) que por causa do impulso e da inércia do voo, entraram no território italiano.

Os MiGs imediatamente desaceleravam (para poder manobrar melhor), curvavam, ganhavam velocidade e regressavam em território jugoslavo, passando perto da cidade de Trieste.

Tudo acontecia numa questão de minutos, no espaço aéreo italiano, e nenhum avião de Italia ou da Nato levantava o voo: aqueles MiGs não constituíam uma ameaça, já tinham problemas suficientes em casa deles. Todavia, a Turquia não apenas enviou enviou aviões contra a intrusão como também escolheu abater o “invasor”. Por qual razão?

Antes de prosseguir: a Turquia difundiu a sequência das imagens radar do abate do avião russo.
E as imagens confiram tanto a versão turca quanto a russa: o avião tinha entrado em território turco mas foi abatido nos céus da Síria.

A “invasão” do território turco interessou a zona que na imagem é o espaço entre os dois pontos cor de viola. O problema é que, na realidade, aquele espaço nem chega a um quilómetro de comprimento.
Da mesma maneira, os aviões turcos “invadiram” o território sírio para abater aquele russo. Mas este é um pormenor do qual a imprensa ocidental esqueceu-se: a Turquia arroga-se o direito de considerar como sua “zona de segurança” um espaço aéreo acima da Síria, algumas milhas além da fronteira turca.

E foi mesmo aí que o Su-34 russo foi abatido, culpado de ter “invadido” menos de 1 quilómetro de território turco e naqueles céus sírios que a Turquia define arbitrariamente como seu “espaço de segurança”. No total 17 segundos de voo.

Dúvida: a ordem de abater o Su-34 foi dado efectivamente pelo Primeiro Ministro turco, Recep
Erdogan, ou a decisão foi tomada num outro lugar?

Difícil responder. A Turquia pode ter as suas razões:

  • as bombas russas têm destruídos campos petrolíferos perto de Raqqa, o que danificou a capacidade de Ankara de obter petróleo barato a partir do Isis; e com certeza o filho de Erdogan, que gere o trânsito do petróleo ilegal, não deve ter ficado satisfeito com isso.
  • o avanço progressivo do exército regular sírio para o norte aumenta a pressão sobre os rebeldes “moderados” financiados também por Ankara.

Doutro lado, também a Nato tem os seus motivos (e hoje chega a confirmação de que as conversas entre os pilotos turcos e russos foram ouvidas em tempo real pela base Nato de Bagdade):

  • o abate do SU-24 frustra os esforços tácticos de Vladimir Putin para restabelecer relações diplomáticas e económicas normais com o Europa;
  • é sempre bom quando houver a ocasião de provocar o inimigo.

Obviamente, a Casa Branca expressou o apoio americano e da Nato à Turquia:

A Turquia, como todos os países, tem o direito de defender o seu território e o seu espaço aéreo

Com certeza. Sobretudo perante uma invasão de 17 segundos, a quase totalidade dos quais em território sírio.

Ipse dixit.

Fontes: La Repubblica, Il Corriere della Sera

4 Replies to “A Turquia e o avião russo”

  1. Nesse jogo de poder onde finanças e poder político se entrelaçam, dificultando algumas vezes o entendimento das jogadas, alguns movimentos ficam claros:
    1.EUA tem na Turquia um apoiador incondicional para ampliar o predomínio de políticas salafistas-jihardistas ( califatos e que tais) em território sírio, tornado o mais recente Afeganistão.
    2. Turquia, ou clãs que neste momento gerem os negócios turcos, arriscam a interrupção da torneira de petróleo do gaseoduto Rússia-Turquia (possível represália do governo russo, já que nesta jogada a Rússia se vê bloqueada militarmente…para todos os efeitos, o estado turco faz parte da Otan e os jogadores Rússia-Irã-Síria tradicionalmente vêm preferindo lances diplomáticos aos militares), considerando o que consideram vantagens econômicas, o fato de ser o território turco o "distribuidor" do petróleo sírio em posse do Isis.
    3. A armadilha no tabuleiro de xadrez que a Otan, movida pelo braço do império, tenta impingir ao estado russo, sai pela culatra, pois esqueceram que a Otan não é "máfia" coesa, aí existem distensões de toda ordem e, justiça seja feita, os oligarcas russos são melhores jogadores.
    Bom, até aí apenas meus pitacos, entre uma bolacha e outra, na hora do chá das quatro.

    1. Olá Maria,
      realmente algo se esta a passar. Parece que alguem esta por todos os meios a tentar provocar a Russia e desencadear uma guerra de grandes proporções. Vide o que aconteceu na Siria depois na Ucrania e agora novamente na Siria. Ha quem pense que este abate do Su-34 (Max foi um SU-24 e não um SU-34 são aviões completamente distintos) por parte dos Turcos foi uma represalia pelos bombardeamentos aos camioes carregadinhos de petroleo mas verdadinha seja dita que o presidente Turco nunca iria fazer isso sem consentimento dos eua/ nato e a 06-11-2015 chegaram mais 6 caças F-15 (caça especializado para combate aereo) das Forças Armadas dos Estados Unidos a base americana de Incirlik na Turquia. Como o Isis não tem caças de combate nem pilotos e não foi nunca colocada a hipotese de invasão da Turquia pelas forças Russas ou Sirias esta movimentação causa estranhesa. De notar tambem que apos os atentados de Paris foi quando toda a gente "França, Alemanha, Inglaterra, EUA" ficaram mais activos e determinados que nunca para entrar na Siria (nem por isso no Iraque) para eliminar o Isis quando a Russia e o exercito Sirio estao a dar bem conta dos acontecimentos e agora este abate do SU-24. Cada vez mais estou convicto que alguem precisa muito de uma guerra mundial para ganhar dinheiro e principalmente esconder algo que podera rebentar em breve… sera o colapso economico do ocidente ?

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