Site icon

Bill Gates ecológico: a Democracia é um problema

Curiosa entrevista que Bill Gates concedeu ao mensal The Atlantic.

Sim, o governo é um pouco inepto, duma certa forma. Mas o sector privado é inepto no geral é inepto. Quantas empresas capitalistas investem em coisas que vão mal? De longe, a maioria deles.

Começa bem. Duma só enfornada, o simpático Bill define como “um pouco incapaz” o governo que ajudou a ser eleito com os seus financiamentos e rotula como “muito incapaz” o sistema no qual ele prosperou e ainda prospera.

Sobretudo esta última é uma afirmação curiosa: é como ouvir um ladrão dizer que roubar é pecado. Portanto, após disso seria lícito esperar algo como “desculpem, agora vou esconder-me atrás duma árvore e nunca mais vou sair daí por causa da vergonha”. Seria o mínimo. Mas não: o simpático Bill continua a espalhar pílulas de sabedoria. E vale a pena segui-lo.

A entrevista está focada nas alterações climatéricas. Bill é um pouco confuso neste aspecto, mas tudo bem, afinal ele percebe de computadores, não de clima:

A energia eólica cresceu super-rápida, tendo sido muito subsidiada. O solar tem vindo a crescer ainda mais rápido, sendo sempre altamente subsidiado. Mas é absolutamente justo dizer que o investimento que tem sido feito e que os vários incentivos estão aí e têm funcionado bem.

Boas notícias: as energias alternativas funcionam!

Infelizmente, a energia solar fotovoltaica ainda não é económica, mas o maior dos problemas é esta intermitência. Ou seja, precisamos de energia 24 horas por dia. Assim, pondo de lado o hidrogénio, que infelizmente não pode crescer muito, as novas fontes primarias limpas são intermitentes. […] É irónico: a Alemanha, através da instalação do solar nos telhados, tem as centrais de carvão e o solar disponíveis no Verão e o preço da energia durante o dia fica negativo. Depois, à noite, a única fonte é o carvão e dado que as empresas de energia têm de recuperar os seus custos, aumentam o preço porque não recebem lucro durante o dia e arriscam ir à falência.

Boas notícias: as energias alternativas funcionam durante o dia! À noite é só carvão.

Afirmam que o custo da energia solar fotovoltaica é o mesmo que o dos hidrocarbonetos. E esta é uma daquelas afirmações enganosas, sem sentido. O que eles querem dizer é que ao meio-dia, no Arizona, o custo de quilowatt-hora solar é o mesmo daquele dum hidrocarboneto quilowatt-hora. Mas não funciona assim à noite, não funciona depois do sol desaparecer, então é que num determinado momento alcançamos a paridade, mas daí?

Boas notícias: o petróleo e o carvão ainda não acabaram, caso contrário estaríamos todos com velas! E ainda bem que o eólico e o solar cresceram, cresceram, cresceram…

Precisamos de inovação que possa nos dar energia mais barata do que a energia dos hidrocarbonetos de hoje, que tenha zero emissões de CO2, que seja tão fiável como o sistema de energia global de hoje. E quando colocarmos todas essas exigências juntas, então precisamos de um milagre energéticos.

…cresceram, cresceram mas não prestam: precisamos dum milagre. Assustador? Nem pensar:

Na ciência, os milagres acontecem o tempo todo.

Pois, deve ser por isso que na Alemanha continuam a queimar carvão à noite.

Ok, até aqui o Bill Gates com algumas ideias bastante confusas acerca das energias renováveis. Paciência. Mas o que interessa é que bilionário já parece ter individuado o problema principal:

Se não conseguirmos trazer capacidades matemáticas para a resolução do problema, então a democracia representativa é um problema.

Marquem esta frase, porque num futuro nem demasiado distante será ouvida outras vezes e não dita por Bill Gates.
A teoria é simples: há um problema ambiental e para resolvê-lo são necessárias dotes matemáticas. Se não conseguirmos trazer estas dotes, então a democracia representativa é um problema.
O Leitor poderia dizer: “Ò Bill, ’tás parvo ou quê? É necessária vontade para reduzir a emissão de poluentes por parte de empresas capitalistas como a tua, não é um problema de Democracia”.
O Leitor poderia dizer isso, mas o Leitor não se chama Bill Gates e não é entrevistado pelo The Atlantic.
Portanto, ficamos coma dúvida: não é nada claro o que tenha a ver a Democracia com o ambiente (os totalitarismos são paraísos ecológicos?), mas vamos em frente pois ainda temos tempo para falar da teoria do aquecimento global:
Os níveis de aquecimento não têm seguido os modelos climáticos de forma exacta […]. Está tudo dentro da margem de erro.
Então Bill, as tais dotes matemáticas? Há aquecimento ou não?
Para mim, é muito claro que este é um grande problema. Mas quando as pessoas agem como se tivermos grandes certezas, isso mina a credibilidade. Há muita incerteza no presente, mas em ambos os lados, o bom e o mau.
Que podemos traduzir assim: “Só um idiota pode afirmar de ter grandes certezas e disso tenho certeza”.
Palavra de Bill Gates.
Ipse dixit. 
Fonte e imagens: The Atlantic.