Site icon

Fármacos: o terceiro assassino

Temos gripe?

Experiência pessoal:

É uma questão de forma mental: o médico ocidental foi “criado” na ilusão de que a única medicina decente é aquela apoiada nos fármacos, enquanto no Leste teimam em não abandonar os curativos tradicionais e a medicina alternativa.

Como é óbvio, o caminho melhor é o segundo. Mas por qual razão? Porque as doenças não são todas iguais, pelo que algumas necessitam de fármacos (aqueles desenvolvidos nos laboratórios), outras podem ser tratadas ou com um conjunto de fármacos mais remédios naturais ou até só com os segundos.

Infelizmente, como vimos, a orientação ocidental é aquela de favorecer, sempre e sem excepções, os produtos das casas farmacêuticas, rotulando como “inútil” ou “primitiva” qualquer outra solução. Mas isso cria uma série de enormes problemas, como bem sabe o Professor Peter Gøtzsche.

Gøtzsche é um daqueles pesquisadores que nunca conseguirão um Nobel. E ele, que parvo não é, sabe disso. Mas evidentemente terá pensado que é possível viver sem o prémio. E acho que tem razão.

O médico dinamarquês, decidiu reunir uma série de dados e publica-los num livro, com resultados surpreendentes: os fármacos utilizados no tratamento das doenças psicológicas e psiquiátricas são a terceira maior causa de morte na Grã-Bretanha, logo após as doenças cardíacas e câncer. Os efeitos colaterais dos medicamentos contra insónia e ansiedade provocam milhares de vítimas.

Porque, então, os médicos costumam prescreve-los com tanta facilidade?

O diário britânico Daily Mail entrevistou Gøtzsche. É ele que explica qual a situação, após um título bastante cumprido:

Os fármacos prescritos são o terceiro maior assassino da Grã-Bretanha: os efeitos colaterais dos medicamentos tomados contra a insónia e a ansiedade matam milhares. Porque os médicos os distribuem como rebuçados?

O uso de fármacos psiquiátricos em subida (80 milhões de vendas por ano), um número crescente de pessoas que desenvolvem dependência, muito poucas clínicas para trata-los e um número de vítimas em ascensão: pode parecer o cenário duma País empobrecido pelos cartéis da droga. Em vez disso, é a realidade diária dos pacientes dos serviços de saúde britânicos que são tratados contra a ansiedade, a insónia e a depressão; medicamentos prescritos que não são apenas muitas vezes desnecessários e ineficazes, mas também podem ser viciantes, provocar efeitos colaterais incapacitantes e matar.

Os antipsicóticos, habitualmente subministrados a pacientes que sofrem de demência para mantê-los quietos, aumentam o risco de doença cardíaca, acidente vascular cerebral e diabetes. Os fármacos aumentam a possibilidade de quedas que, em caso de quebra da anca, podem significativamente encurtar a vida útil, enquanto alguns antidepressivos estão ligados a irregularidade do batimento cardíaco potencialmente mortal.

O número de mortes devidas a estes comprimidos tem sido grosseiramente subestimado. Como revelado no novo livro Deadly Psychiatry And Organised Denial [“Psiquiatria Mortal e Negação Organizada”, ndt], o total real é assustador: de acordo com os meus cálculos, com base em dados de fontes publicadas e não publicadas, os fármacos são a terceira maior causa de morte depois das doenças cardíacas e do câncer.

Como investigador Cochrane Collaboration, uma organização internacional independente que avalia a investigação médica, o meu papel é o de avaliar do ponto de vista forense os resultados dos tratamentos. No começo isso levou-me a desafiar hipóteses amplamente apoiadas, como no caso dos benefícios do rastreio do cancro da mama (de acordo com as minhas estimativas, a cada ano no Reino Unido milhares de mulheres se submetem a tratamentos desnecessários por causa de diagnoses exageradas)[…]. Mas o que eu descobri sobre os danos causados ​​por medicamentos psiquiátricos excede em muito qualquer outra coisa que tenha sido identificada.

Na verdade, mesmo que todos os dados estejam já disponíveis, se saberes para onde procurar, sou o primeiro a tê-los reunidos descobrindo, por exemplo, que o número de suicídios entre adultos e crianças que estão a ser tratados com antidepressivos é 15 vezes maior do que o número calculado pela Food and Drug Administration dos Estados Unidos. No entanto, os psiquiatras e os médicos geralmente ignoram ou negam a espantosa magnitude dos danos dos fármacos, também usados frequentemente ao acaso. Só neste mês, por exemplo, um estudo publicado no British Medical Journal revelou como, em Inglaterra, milhares de pessoas com dificuldades de aprendizagem são regularmente tratadas com medicamentos antipsicóticos, medicamentos que não fazem nada para ajudar esses pacientes, mas são usados ​​como uma camisa de força química.

Porque a história se repete?
Peter C. Gøtzsche

Oito anos atrás tinha sido avisado sobre os problemas criados pelas drogas, quando uma dos meus alunos tinha sugerido essa ideia para a sua tese de doutorado: “Porque a história se repete? Um estudo sobre benzodiazepinas e antidepressivos”.

Ela tinha descoberto que tranquilizantes populares como o Valium (um fármaco baseado nas benzodiazepinas) tinham sido apresentados como muito seguros logo introduzidos, mas depois foi descobertos provocarem elevada dependência. Mais tarde, quando os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (SSRIs) entraram no mercado, há 20 anos, a grande razão da venda era que não davam dependência: mais uma vez, não era verdade.

Decidi cavar profundamente nesta área e agora tenho três estudantes de doutorado que investigam para descobrir o que os fármacos realmente fazem às pessoas.

Os resultados são surpreendentes: os médicos os distribuem em grande quantidade, porque acreditam na eficácia e na segurança deles, mas os testes estão baseados numa má ciência. Os esqueletos estão a sair deste guarda-roupa com um ritmo alarmante. As pílulas para dormir, por exemplo, deixam de ser útil depois de um par de semanas, mas é deixado que os pacientes continuem a assumi-los durante anos; isso enquanto antipsicóticos são aprovados com base em dois ensaios em que foram comparados com placebos, não importa quanto pequeno seja o efeito.

As falhas nos ensaios

Uma razão pela qual os médicos são enganados é a falha fatal na forma como os ensaios são realizados. Ninguém é suposto saber a qual grupo é dado o medicamento e a qual o placebo.

[os testes são realizados com a técnica do “duplo
cego”. São criados dois grupos de pacientes: um grupo que obtém o
verdadeiro medicamento, o outro um placebo (uma normal pílula de açúcar). É chamado
de duplo-cego porque, em teoria, nem o médico nem o paciente sabem quem recebeu o medicamento ou o placebo, ndt]

Mas nos ensaios é amplamente sabido quem fica com o medicamento psiquiátrico porque este causa efeitos colaterais definidos, tais como náuseas e boca seca. Os médicos, cujo relatório acerca de como os pacientes respondem é utilizado para julgar a eficácia do medicamento, tendem a relatar melhores resultados para o grupo do medicamento, mas estes resultados são distorcidos pelo facto deles saberem a quem o verdadeiro fármaco tinha sido subministrado.

Sabemos que isso acontece porque uma análise de estudos conduzida pela Cochrane Collaboration descobriu que, quando o placebo for realizado para provocar efeitos colaterais semelhantes aos medicamentos, os psiquiatras relataram bons resultados em ambos os grupos.

Em outras palavras, foi descoberto que o fármaco não é mais eficaz do que o placebo. […]

Com base no mesmo tipo de ensaios, os antidepressivos também estão a ser prescritos para doenças como a compulsão alimentar, o transtorno de pânico, o transtorno obsessivo-compulsivo e sintomas da menopausa.

Os benefícios reivindicados podem ser ridiculamente pequenos: por exemplo, diminuir a taxa das “ondas de calor” de dez para nove por dia. Contudo, apesar da falta duma boa evidência acerca dos benefícios, 57 milhões de prescrições de antidepressivos são distribuídas por ano só na Inglaterra e os pacientes são deixados com eles durante anos.

As consequências

Uma razão pela qual a utilização de fármacos estar em constante expansão é que não existe nenhum marcador químico para diagnosticar a depressão ou a ansiedade. Assim, mudanças diárias do humor, tais como sentir-se menos felizes ou mais ansiosos, pode ser uma razão para o tratamento. A maioria de nós até poderia obter um ou mais diagnósticos psiquiátricos se consultar um psiquiatra ou um médico de família.

Um tratamento bem sucedido para a depressão deve permitir que as pessoas possam levar uma vida mais normal, voltar ao trabalho, manter relacionamentos. Mas, em todos os milhares de ensaios, nunca vi evidências de que os antidepressivos podem fazer isso.

Alguns pacientes podem tornar-se um pouco eufóricos […] mas nos pacientes investigados muitos relatam sentir-se pior, afirmam que as pílulas mudam as suas personalidades e não num bom sentido; podem mostrar menos interesse em outras pessoas e relatam sentir-se emocionalmente entorpecidos. “Como viver sob um cobertor de queijo” é uma descrição típica que os pacientes utilizam.

A função sexual desaparece; a libido cai em metade dos pacientes e metade não conseguem orgasmo ou ejaculação. Então, os antidepressivos não são susceptíveis de salvar os relacionamentos íntimos, são mais propensos a destruí-los.

Quando dei uma palestra para psiquiatras infantis australianos, um deles disse que sabia que três adolescentes que tomavam antidepressivos tinham tentado o suicídio porque não conseguiam uma erecção a primeira vez que tentaram fazer sexo.

Aqueles rapazes não sabiam que a culpa era do fármaco, achavam que havia algo de errado neles. Embora muitos psiquiatras acreditem ainda que os SSRIs possam reduzir o risco de suicídio que pode aparecer com uma depressão, é bem estabelecido que esses medicamentos na verdade aumentam o risco em crianças e adolescentes, e muito provavelmente em adultos também.

Apesar da falta de um marcador químico para qualquer transtorno psiquiátrico, os psiquiatras frequentemente afirmam que os medicamentos trabalham corrigindo um desequilíbrio químico no cérebro. Eles dizem que é como a insulina e as diabetes, que os pacientes não podem produzir serotonina suficiente. Foi-me dito por um professor de psiquiatria que parar um antidepressivo seria como retirar a insulina a um diabético.

Mas é absurdo, ninguém descobriu que as pessoas deprimidas têm menos serotonina no cérebro, na verdade alguns antidepressivos baixam a serotonina.

Este conto de fadas tem-se revelado muito prejudicial e pode levar pacientes a tornarem-se viciados. São dados mais comprimidos ou doses mais elevadas na esperança de que o “desequilíbrio” possa ser reparado, e isso pode continuar durante anos. Quando tentam abandonar as pílulas e experimentam efeitos colaterais desagradáveis, os pacientes afirmam que o que lhes for dito é que os seus sintomas são o resultado da doença que regressa.

Isso ignora o facto de que os efeitos da suspensão dos fármacos pode imitar os sintomas do transtornos psiquiátricos. Também não e encaixa com o que acontece quando os pacientes em desespero alcançam os fármacos novamente: dentro de algumas horas podem estar a sentir-se melhor. A verdadeira depressão não desvanece tão rapidamente.

Os equívocos dos médicos sobre os medicamentos que prescrevem estão a transformar problemas temporários em crónicos.

Apenas Diga Não

Mais de um milhão de pessoas no Reino Unido são viciadas em pílulas para dormir e medicamentos anti-ansiedade, de acordo com o All Party Parliamentary Group on Involuntary Tranquiliser Addiction [“Grupo Parlamentar Interpartidário sobre a Dependência Involuntária de Tranquilizantes”, ndt], apesar de há anos o aconselhamento oficial tem sido de não prescrevê-los por mais de quatro semanas.

Os paciente entrevistados revelam que um número semelhante está a ter problemas para afastar-se dos antidepressivos. […] No entanto, o Sistema Nacional de Saúde faz quase nada para ajudar essas vítimas. Há vergonhosamente poucas estruturas para tratá-los, menos de dez em todo o País, e todas são mantidas por pequenas instituições de caridade, alguns das quais estão a fechar devido à falta de financiamento.

Precisamos educar os médicos para que eles saibam como esses medicamentos realmente funcionam, e para mostrar-lhes como ajudar os pacientes a deixar de tomar os comprimidos (reduzindo muito suavemente a dose).

De acordo com os meus cálculos, se os fármacos psiquiátricos só forem prescritos por algumas semanas em situações agudas, seria preciso apenas 2 % das actuais prescrições para a insónia, a depressão e a ansiedade. A poupança em termos humanos e financeiros seria enorme. […]

A minha proposta é iniciar uma campanha Just Say No [“Apenas Diga Não”, ndt], é tempo para uma guerra contra os fármacos psiquiátricos.

Voltamos ao discurso de abertura e a isso somarmos quanto afirmado pelo Professor Gøtzsche: isso significa que todos os fármacos são inúteis? A pergunta é pertinente, pois na internet é muito simples encontrar histórias de “tratamentos milagrosos”, de “curas” não reconhecidas pela Ciência que tratam doenças impossíveis. É o caso do câncer, tanto para fazer um exemplo.

A resposta deve ser perentória: não, não todos os fármacos são inúteis. Há doenças que não estão ao alcance da medicina tradicional e nem da alternativa.

Não estão convencidos? Então reflectam acerca disso:

  • da família Agnelli (dona da FIAT), membros atingidos pelo câncer, tratamento: quimioterapia e radioterapia.
  • o presidente da França, François Mitterrand: quimioterapia e radioterapia.
  • Lloyd Blankfein, judeu e número um da Goldman Sachs, com linfoma: quimioterapia.
  • Warren Buffet, Número Um da Berkshire Hathaway, o homem mais rico da América, com câncer da próstata: quimioterapia.
  • James Dimon, número um de JP Morgan Chase, com câncer na garganta: quimioterapia e radioterapia.
  • Robert Benmosche, número um do gigante dos seguros AIG, com câncer do pulmão: quimioterapia,
  • Sultan bin Abdulaziz Al-Saud,  o príncipe herdeiro do trono saudita, com câncer: quimioterapia.

Realmente acham que estes senhores não têm (ou tinham, como no caso de Mitterand) “amizades” suficientemente importantes para evitar o que todo o resto da humanidade faz em caso de câncer: quimioterapia e/ou radioterapia? Falta de dinheiro? Não brinquemos, por favor…

As casas farmacêuticas são um horror, pensam só e exclusivamente no lucro: acerca disso não podem existirem dúvidas. Mas há medicamentos ou tratamentos que, infelizmente, não podem ser substituídos.

O que o Professor Gøtzsche faz é lançar um alarme acerca de outros problemas: a ignorância dos médicos e até dos profissionais de áreas específicas; as falhas nos métodos de experimentação (e aqui não podemos esquecer as “prendas” que as casas farmacêuticas entregam aos envolvidos na redacção dos relatórios); uma cultura da “prescrição fácil” que prejudica o paciente e a sociedade; uma outra cultura, paralela e igualmente prejudicial, a do medo em denunciar erros e falhas em âmbito médico (de novo: quem tem a coragem de opor-se às práticas das poderosas casas farmacêuticas ou aos especialistas de maior renome?).

Sempre mantendo bem presente quanto afirmado acerca da impossibilidade em substituir determinados tratamentos “modernos”, assim como o perigo de cair em tentações simplistas quantos perigosas, não seria mal de vez em quando olhar para trás e recuperar certos métodos que vigoraram ao longo de séculos. Não se fala aqui de aplicar sanguessugas para retirar do paciente o “sangue mau”: é que não sempre ter um pouco de insónia significa estar deprimido ou precisar de 20 gotas de Valium…

 

Ipse dixit.

Para quem estivesse interessado no assunto, eis os livros publicados pelo Prof. Peter C. Gøtzsche:
  • Peter C Gøtzsche, Henrik R Wulff (2007): Rational diagnosis and treatment – evidence-based clinical decision-making. John Wiley & Sons. ISBN 9780470723685.
  • Peter C Gøtzsche (2012): Mammography screening – truth, lies and controversy. Radcliffe Publishing. ISBN 9781846195853.
  • Peter C Gøtzsche, Richard Smith, Drummond Rennie (2013): Deadly medicines and organised crime : how big pharma has corrupted healthcare. Radcliffe Publishing. ISBN 9781846198847.
  • Peter C. Gøtzsche (2015): Deadly Psychiatry and Organised Denial. People’s Press. ISBN 978-87-7159-623-6.

Infelizmente não encontrei nenhuma versão traduzida em Português.

Livremente disponível em formato Pdf existe Corporate crime in the pharmaceutical industry is common, serious and repetitive: obviamente sempre em idioma inglês. Documento extremamente interessante apesar de relativamente breve (umas 18 páginas), reporta casos de crimes cometidos pela indústria farmacêutica entre os anos de 2007 e de 2012.

Para quem não entender o Inglês: fiquem descansados, vou traduzir as partes essenciais nos próximos tempos. Se não me esquecer como de costume, claro…

Fonte: Daily Mail