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Hipótese para o futuro – Parte II

A segunda fase será a definitiva deslocação do “centro do mundo” para o Oriente, nomeadamente
para a região russo-chinesa (mais chinesa do que russa), com sucessiva expansão para as regiões do Sul asiático (Índia, mas também as outras economias em progressão).

A Rússia ainda terá um papel fundamental por via dos imensos recursos naturais, mas o centro do mercado ficará bem firme na Ásia, por uma mera questão demográfica.

Todavia, neste percurso há um obstáculo. E é um grande obstáculo, cujo nome é Estados Unidos.
O que vamos fazer com eles?

Washington tem que desaparecer

Para muitos, a queda (ou o redimensionamento) de Washington é sinónimo de crise do Capitalismo e do sistema até aqui em função. Mas não temos que cair neste equivoco: se os EUA estão em crise (e estão: do ponto de vista económico ainda sofrem das sequelas da queda de 2007 e não irão recuperar totalmente), o Capitalismo (ou aquela coisa que ainda definimos como tal) está em plena saúde. E ficará ainda melhor uma vez que terá conseguido livrar-se do “berço” da Democracia e da Liberdade (sic!). O sistema capitalista utiliza, explora e sacrifica os Estados, todos os Estados sem excepções.

Como eliminar (ou redimensionar) os EUA?
O mundo da informação alternativa anuncia um dia sim e um dia não a queda do Dólar e a consequente morte do Império. Esta é uma ingenuidade que realça a dificuldade em entender quem realmente manda no mundo: a Finança. Não apenas o Dólar não irá cair num prazo tão curto, como continuará a ser a principal moeda de troca ao longo dos próximos tempos. E a razão é elementar: o mundo da Finança ainda trabalha em Dólares.

O Dólar será abandonado só quando a mudança para Oriente estará concluída, não um minuto antes
(e, mesmo assim, não desaparecerá por completo).

Mas os EUA não são apenas Dólares: são sobretudo uma força militar que tem uma assinalável capacidade de (rápida) intervenção em qualquer canto do globo. Poderá o novo “centro do mundo” (o Oriente) contrariar uma tal força?

Sim, tranquilamente. A razão? Mais uma vez: temos que seguir o dinheiro, sempre e só o dinheiro.
Quem mexe os exércitos não são os ideais, são as contas bancárias. Seria possível falar aqui da imensa multidão que a China poderia utilizar em caso de conflito, mas seria supérfluo: em primeiro lugar porque Pequim não tem apenas milhões de soldados, tem também uma tecnologia de ponta.

Depois porque não será uma guerra a decidir a supremacia dum ou do outro contendente: a guerra (se guerra será) constituirá apenas o acto final, a passagem de testemunho num processo que já está em andamento.

Guerra?

Não é o Presidente dos EUA que decide quem atacar; não são os generais que decidem quando atacar. Esta é uma visão ingénua, e também um pouco romântica, porque a guerra deve ser entendida como mais um instrumento nas mãos das grandes forças financeiras internacionais.

Foi a Primeira Guerra Mundial a permitir a definitiva queda das monarquias e das aristocracias; o surgimento do Capitalismo de Estado (União Soviética) e dos fascismos. Foi a Segunda Guerra Mundial que consagrou os Estados Unidos qual potência mundial, redefiniu o conceito de colonialismo e implementou (de facto e não apenas em teoria) os regimes democráticos ocidentais.

Será uma Terceira Guerra a consagrar o Oriente? Espero que não, mas Soros, por exemplo, está a mexer-se naquela direcção. Os Estados Unidos, com uma cada vez maior presença militar nos confins da Rússia, parecem seguir o mesmo plano (e, de certeza, é o que fazem). Espero estar profundamente errado, mas se a História ensina algo, então o futuro pode não ser lá grande coisa neste sentido…

Vamos esquecer a Terceira Guerra Mundial e pensamos no “depois”. Com ou sem guerra, como será a sociedade futura? O conceito de Oriente como “centro do mundo” utilizado até aqui está correcto até um certo ponto. Na verdade, seria melhor falar dum mundo multipolar: é isso que muitos preveem.

A multipolaridade financeira

Pessoalmente acho este termo enganosos. Diz a sábia Wikipédia:

Polaridade nas relações internacionais é o que se descreve como distribuição de poder dentro de um sistema internacional. […] No período pós-Guerra Fria, dos anos 1990 até ao menos até a primeira
metade dos anos 2000, teria existido uma clara unipolaridade no Sistema
Internacional, já que os Estados Unidos tornaram-se a única
superpotência e não havia sinais claros de que outros pólos de poder
regionais teriam alguma capacidade de se contrapor aos EUA. […] Quando se considera o conjunto do Sistema Internacional
na atualidade, pode-se considerar a existência de três grandes
potências globais, com capacidades militares de atuação global e
capacidade nuclear significativa, os Estados Unidos, a Rússia e a China.

Pois, acho ser este o problema. Wikipedia parte do princípio que o poder seja “distribuído” no interior do nosso sistema. Depois olhamos para a distribuição da riqueza e descobrimos que 1% da população detém 90% do poder económico. Então, qual tipo de “poder” é distribuído segundo Wikipedia? O poder de influenciar determinadas regiões do globo? O poder militar? O poder nuclear?

Todos estes poderes são instrumentos nas mãos da elite financeira global e é este o ponto fraco da presente e futura multipolaridade. Todos os actuais regimes ficam baseados num sistema na cuja base encontramos um Capitalismo (por assim dizer) dominado por uma única elite global. Estamos a ser “empurrados” para um sistema que de multipolar tem bem pouco, apenas a fachada.
Do meu ponto de vista, o conceito de multipolaridade implica também a liberdade de escolha. Eu sei que em termos geopolíticos esta definição está errada, mas também é verdade que este é um “erro” muito utilizado para descrever as diversidade entre o sistema ocidental e aquele chinês, por exemplo. Fala-se de “economia chinesa” como se esta fosse algo “novo” inventado em Pequim, ocultando o facto desta ser um clássica economia baseada num Capitalismo de Estado em rápida transicção para um sistema tipicamente ocidental.
Qualquer outro tipo de pensamento económico é esmagado (Coreia do Norte) o absorvido (o caso de Cuba: e ainda há quem fale de “vitória cubana”…). Entretanto, como já lembrado, a palavra de ordem é “o Ocidente é mau”. Bom não é de certeza, mas como é que ninguém realça o que se passa na China? As minorias são massacradas (não fisicamente, mas culturalmente sim), os estragos ambientais são alucinantes, os trabalhadores mais parecem escravos, mas tudo o que conseguimos partilhar são as “estranhas cidades-fantasmas” construídas no deserto (que, doutro lado, deixam vislumbrar o sentimento de certeza que impera em Pequim acerca dos próximos desenvolvimentos económicos).
Mesmo discurso quando o assunto for a Rússia. Pessoalmente apoio a política de Putin e já deixei claro isso. Mas no mundo informação alternativa demasiadas vezes:
  1. se esquece que com Putin o conceito de Democracia (aquela verdadeira, entendo) e muito, mas mesmo muito relativo;
  2. não pergunta quem fica atrás dele (mas acham mesmo que fez e faz tudo sozinho?). 
A “beatificação” de Putin é tal que nem é lembrada a sua profunda (e ainda actual) amizade com uma personagem “incomoda” como Silvio Berlusconi (uma figura pouco simpática, verdade, mas mesmo assim o último político italiano que fez frente ao poder da Merkel e que pagou por causa disso).
A multipolaridade em direcção à qual marchamos é o triunfo do Capitalismo e, ao mesmo tempo, a morte das soberanias nacionais e do pensamento alternativo. Pela simples razão que é o fruto duma Finança global que não tem a mínima intenção de abandonar o leme.
Alternativas? Uma ideia.
A única e razoável saída seria uma multipolaridade inserida num sistema diversificado, onde é concedido espaço a várias formas económicas, mesmo que a base seja sempre o Capitalismo (não é um erro: nós estamos habituados a pensar no Capitalismo como algo monolítico, mas na verdade podem existir várias nuances dele). Um Capitalismo “aberto”, por assim dizer, e não “fechado”, monocultural como o actual.
Porque com base “sempre no Capitalismo”? Seria preciso partir sempre do Capitalismo pela simples razão que não há, actualmente, um sistema alternativo que possa ser implementado desde já sem grandes riscos. Vimos quais os limites do Comunismo (todas as experiências até aqui tentadas ou se tornaram Capitalismos de Estado ou totalitarismos baseados em cultos das personalidades ou uma mistura das duas; outras formas não têm sobrevivido); nunca vimos “ao vivo” modelos como o anárquico, por exemplo. Ambos (e outras hipóteses ainda) seriam autênticos “saltos na escuridão”.
Pelo que, um Capitalismo “aberto”, caracterizado por uma forte presença do Estado como entidade reguladora económica (retirando poder aos bancos privados, favorecendo a produção nacional, incentivando a política do pleno emprego com a gestão duma moeda nacional: ver Modern Money Theory) e política (sendo baseado na democracia directa e não na fórmula da representatividade) poderia (o condicional é obrigatório) ser um terreno para o germinar de novas ideias. Ou, eventualmente, iria desenvolver-se de forma “natural” (e não “artificial” como agora) para algo diferente que hoje nem conseguimos imaginar.
Absurdo? Sim, pode ser. Doutro lado, chorar para a crise ambiental, a escassez das energias alternativas, os estragos dos combustíveis fósseis e depois dobrar-se enfeitiçados perante o “milagre” chinês é muito mais inteligente? Sabem onde ficam as cidades mais poluídas do planeta? Sabem quem é o segundo maior consumidor de petróleo do planeta? Tentem adivinhar…
Pode haver uma terceira via? Sim, claro que há: chama-se “revolução”. Mas quem é suposto “revolucionar-se”? E quando? Depois da publicidade?
Não sou adepto do Capitalismo e nem da Democracia.
Mas o Capitalismo é a realidade onde vivemos agora (bom, na verdade vivemos em algo que de Capitalismo tem só o nome) e a Democracia é a pior forma de governo salvo todas as outras que já foram experimentadas (como disse Churchill). É isso o que temos, é este o nosso ponto de partida, que se goste ou não. Ambos têm que ser vistos como instrumentos e não como objectivos finais. É daí que temos de partir se a intenção for mudar: e temos que mudar com uma certa urgência para poder ultrapassar tanto este Capitalismo enraivecido quanto a actual pséudo-democracia.
A multipolaridade proposta pela Finança global, pelo contrário, representa um ponto de chegada “capitalista” e “democrático” com um longo (mas não infinito) prazo de validade. Um mundo com uma potência mundial (o bloco Rússia-China) mais algumas potências regionais (os EUA redimensionados, o Brasil, o bloco israelo-wahabita, etc.). Um mundo mais pobre (lembramos: não serão os Países em desenvolvimento a alcançar o bem estar ocidental, mas será este a descer para um patamar inferior), culturalmente cada vez mais uniformizado (a Globalizado!) e regido por uma única filosofia económica (aquela das grandes corporações e da Finança internacional).
É para isso que actuam os vários Soros, é neste tabuleiro que mexem os piões deles.
Acho que merecemos algo melhor.
Ipse dixit.