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Estupidez no-stop

São três dias que nas televisões e diários portugueses fala-se só dum assunto: a transferência do antigo treinador do Benfica para o Sporting, Jorge Jesus.

Basta. Isso deveria provocar vergonha. Não nos media, que fazem o trabalho deles (barris de Valium despejados, o costume), mas nos Portugueses. Façam algo, organizem uma manifestação, escrevam para as redacções: isso é um insulto à qualquer inteligência, por pequena que seja.

Se é para ser anestesiados, pelo menos que seja com algo que tem a aparência de coisa com sentido. Há as eleições este ano, não será um assunto mais importante? Em Janeiro haverá a substituição do Presidente da República, o cadáver Cavaco Silva: não será um assunto mais importante? A economia está de rastos, não será mais importante? Uma boa percentagem da população está desempregada, não será um pouco mais importante?

Eu não sei se haverá um outro País cujos cidadãos são tratados como eméritos deficientes desta forma. Hoje comprei um diário, o Diário das Notícias (péssimo, mas o “i” estava esgotado):
– foto da capa: o presidente do Benfica;
– no interior: uma página dedicada ao discurso do presidente do Benfica contra Jorge Jesus;
– outra dedicada ao treinador do Sporting que sai e que será substituído por Jorge Jesus;
– outra dedicada a vida do eventual novo treinador do Benfica, que substituirá Jorge Jesus.
– no meio, manchetes com vida e obras e Jorge Jesus.

Estamos aqui, invadidos de especialistas que debatem acerca dum gajo que ganha 6 milhões de Euros por ano. Uma pessoa com ordenado mínimo (500 Euros) tem que trabalhar 12.000 anos para conseguir o mesmo. Não sei se a ideia fica clara.

Já disse: gosto de futebol, acho um bom desporto (infelizmente utilizado como válvula de escape para as frustrações diárias e apodrecido pelos rios de dinheiro). Mas isso já nada tem a ver com o futebol: esta é a sublimação da estupidez nacional.

Agora, falassem da Sampdoria, até poderia entender… 🙂

E para acabar a semana, dado o clima de estupidez que paira no céu português, fica bem uma canção duma banda de rock demencial italiano: Elio e le Storie Tese.
Título: Urna.

Coro: Urna, urna, uhh, coloca-me na urna, urna, uuh.
Urna cinerária, coloca-me na urna funerária, urna eleitoral, coloca-me na urna patat…

A morte chega, silenciosa como um alce, dos vivos nos separa com o corte duma foice;
Chega, silenciosa como um alce,  separa com o corte duma foice.

O disse Foscolo, e eu repito: da vida o fulcro é o sepulcro.
Fulcro, sepulcro, fulcro, repito que é o sepulcro.

E há algo no ar que me diz que eu vou perecer. Mais cedo ou mais tarde sei que isso vai acontecer, mas isso não me incomoda, tenho apenas um desejo:
quero uma digna sepultura,
Quando a morte chegará e te apanhará

uma tumba linda e douradora.
Que vai preservar-me da humidade. Apanhará!

Seguem para os mais cultos alguns trechos de Os Sepulcros de Ugo Foscolo:
“Só quem não deixa legados de afectos, pouca felicidade tem na urna”

Coloque-me na urna urna uuh.
[…]

Mas enquanto falo, tu não me ouves.
Há duas possibilidades: ou já não me amas ou estás morta.
Estaria inclinado para a segunda hipótese, porque emanas um cheiro nauseabundo.
E então acho que tu queres uma digna, digna, digna sepultura.
Porque a morte chegou e te apanhou

Uma tumba linda e duradoura
Que vai preservar-te da humidade.

Urna, urna, uuh, coloca-me na urna, urna, uhh
Urna, urna, uhh, coloca-me na urna, urna, uhh
Urna cinerária, coloca-me na urna funerária,
Urna eleitoral, coloca-me na urna patat…
Amor..

…ehm…não vou traduzir “patatosa”… e o vídeo é muito fraco. Mas gosto da canção!
E para todos: Bom fim de semana!

Ipse dixit.