Site icon

Hipótese para o futuro – Parte I

Por qual razão a Finança internacional, na figura da especulador George Soros, está a desenvolver um papel tão activo na Ucrânia?

A resposta é complexa e tem a ver com o futuro da nossa sociedade.

Obviamente muitas são as hipóteses possíveis: de seguida vamos ver uma delas. Está certa? Está errada? E eu como posso saber isso? Acham que sou um profeta?

Simplesmente, parece-me uma hipótese lógica, porque baseada na tentativa de conectar entre eles os acontecimentos que têm marcado (e ainda marcam) os últimos anos da nossa História. E porque parte duma base extremamente sólida: a regra áurea. Que é sempre a mesma: na dúvida, sigam o dinheiro.

A viragem do Capitalismo 

O ponto de partida é entender que o nosso sistema alcançou um ponto de viragem. Não de “roptura”, no sentido que o Capitalismo (ou aquela coisa que ainda costumamos definir com tal termo) ainda tem margem para continuar a viver e, se possível, prosperar (em boa verdade: nunca esteve tão forte como agora). Podem não ser margens tão amplos (e a seguir iremos ver quais as razões), mas existem: e de certeza que a Finança global não deixará de explora-las até o limite.

O Capitalismo baseado no crescimento do mundo ocidental chegou ao fim. É verdade que a Bolsa de Wall Street voa, mas não podemos esquecer dois pormenores:

  1. as Bolsas costumam viver em contra-tendência (economia mais fraca = mais movimentações de acções)
  2. grande parte do bem estar financeiro fica baseado em activos não ligados à produção de bens reais mas à exploração de instrumentos que criam dinheiro a partir do dinheiro (e que, inevitavelmente, criam bolhas também: e sabemos qual o destino de todas as bolhas).

É uma situação insustentável no longo prazo (e talvez até no médio), pelo que é precisa uma mudança de paradigma. Esta mudança passa por atrelar a Finança à produção real. E aqui surge o problema: no Ocidente isso é impossível. Ou melhor: seria possível mas, do ponto de vista da elite financeira global, bem pouco aconselhável.

Para fazer que a economia ocidental volte a funcionar, seria necessário desmontar um sistema que foi implementado ao longo das últimas décadas e que permite que a Finança controle e direcione de forma rigorosa as escolhas dos vários Estados. Estes deveriam recuperar parte da sua independência política e económica, baixar taxas e impostos, voltar a nacionalizar alguns serviços, impor regras sérias na área do comércio de forma que possa existir uma verdadeira concorrência e não os monopólios que hoje conhecemos. Estes são apenas alguns exemplos dum percurso no final do qual a Finança acabaria por perder a sua actual supremacia.

Pelo que, é óbvio que o futuro do Capitalismo não passa por aí.

Há depois um outro discurso que não pode ser esquecido: a globalização.
Esta prevê uma homologação planetária, onde as diversidades entre Ocidente e Países em desenvolvimento são cada vez menores (a África é uma caso particular: actualmente e no futuro próximo continuará a ser terra de conquista e nada mais). A Globalização é vital para que a Finança mantenha e possa expandir os seus poderes.

As políticas implementadas no Ocidente (desde a crise dos subprimes nos Estados Unidos e com o Euro na Europa) vão exactamente nesta direcção: não se trata de fazer que os Países em desenvolvimento (como os BRICS) atinjam o bem estar do Ocidente, trata-se de baixar o nível de vida ocidental de forma a aproxima-lo a um valor que podemos considerar como uma média entre os Países ricos e aqueles pobres. A Globalização, apesar dos coros de lamentações e dos adeus prematuros, está perfeitamente em marcha e, para que funcione, precisa que o Ocidente perca o estatuto de supremacia económica (e até político-social) até aqui gozado.

Há uma maneira relativamente simples para obter um resultado que possa satisfazer estas duas vertentes: deslocar o “centro do mundo” para os Países em desenvolvimento, em particular para um deles, a China.

O novo umbigo do mundo

Pegamos num mapa: três dos BRICS (China, índia e Rússia) sozinhos ocupam uma ampla fatia do
continente euro-asiático e, mais importante ainda, totalizam quase 3 biliões habitantes.

Se juntarmos alguns Países asiáticos cujas economias dão sinais de progressão, mesmo não sendo parte dos BRICS (Tailândia, Malásia, Vietnam, etc.) temos o seguinte resultado: 42% da população mundial vive na parte oriental do continente euroasiático. E, sobretudo, têm fome. Não de comida, mas de bens. 42% dos 7 biliões de indivíduos do planeta vivem numa área rica em recursos naturais de qualquer tipo e num mercado quase “virgem”.

Então, é intuitiva qual possa ser a escolha da Finança internacional. Mais do que intuitiva, é até obrigatória: deslocar o “centro do mundo” para onde seja possível juntar especulação financeira com um mercado autêntico, feito de produção, venda e crescimento.

Este o objectivo final (ou “quase final”: depois haveria um passo sucessivo, mas aqui o discurso iria complicar-se inutilmente). Problema: como alcança-lo? Não é que alguém possa aparecer na televisão na hora do jantar para dizer “Meus senhores, a partir de hoje o centro do mundo fica no Oriente”. Nem todos iriam gostar. Há equilíbrios que governaram o planeta até hoje e que devem ser mudados de forma muito cautelosa.

Transferir as sedes dos grandes capitais (não as sedes legais, aquelas nada contam, mas as sede reais, operativas, que trazem com elas o foco das operações) para o Oriente em tempos demasiado rápidos seria uma catástrofe: imaginemos, só para fazer um exemplo extremamente banal, as consequências duma repentina crise de confiança dos clientes ocidentais nos seus bancos, com a corrida aos balcões, etc.

Pelo contrário, tudo tem que acontecer segundo ritmos “naturais”. Que podem (e devem) ser preparados segundo uma táctica cautelosa e pormenorizada. Nesta óptica, Soros é apenas um dos “preparadores”: são estes indivíduos (que fazem parte da elite financeira global) que ditam o ritmo e preparam a “natural” transição.

Dúvidas? Claro que sim. Então abandonamos o Velho Continente e pegamos nas Monarquias do Golfo. A situação destes Países é delicada, muito mas daquilo que pode parecer. Mas o que isso tem a ver com a Globalização e a deslocação do “centro do mundo”?

Os jogadores: o exemplo das Monarquias

Até agora foram a bomba de gasolina do Ocidente, acumularam imensas fortunas, têm uma pesada presença no âmbito financeiro global. Mas se olharmos com atenção, podemos ver como nos últimos anos a intervenção político-militar das Monarquias na região do Oriente Médio tem aumentado de forma exponencial. Até criaram e continuam a financiar um Estado (o ISIS) que tem vários objectivos, alguns falsos, outros verdadeiros. O objectivo principal não é a Síria, como é óbvio, mas é eliminar a ameaça xiita da área de forma que o sunismo wahabista fique como único centro de poder regional.

Nunca as Monarquias tinham tomado uma posição tão decidida e violenta. Porque agora? Porque com tanta pressa?

A resposta é que os antigos equilíbrios globais estão a mudar e cada um tenta preparar-se para o Grande Evento. As Monarquias tentam ampliar quanto mais for possível a área de influência delas: não apenas o ISIS no Iraque e na Síria, mas também amplas zonas da África do Norte (ver críticas contra a Argélia nas últimas horas), até a Nigéria. Com a ajuda silenciosa de israel e aquela mais evidente dos EUA, as Monarquias têm a intenção de criar um seu próprio “quintal”, onde, atrás da fachada religiosa sunita, quem manda são as ricas famílias de petro-investidores.

Tel Avive tem tudo a ganhar com isso. As Monarquias do Golfo e o partido Likud de Netanyahu estão perfeitamente sintonizados, têm os mesmos objectivos: eliminar as ameaças xiitas (Irão em primeiro lugar, depois Síria e Hezbollah no Líbano), curda e iemenita (a Palestina não conta, tem apenas uma importância simbólica), controlar a região do Oriente Médio e da África do Norte.

A propósito, breve divagação: aparentemente a Primavera Árabe no Egipto foi um fracasso, pois de democracia e liberdade nem a sombra. Na verdade foi um sucesso: quem é o principal financiador do movimento islamista de Direita, conhecido como Irmandade Muçulmana, que agora controla o País? O Qatar. Olha, olha: uma Monarquia do Golfo!

A segunda fase

Mas voltemos ao assunto principal.
Resumindo, a situação é a seguinte:

Dúvida pertinente: qual será esta segunda fase?
Dado que se trata da segunda fase, vamos falar disso na segunda parte do artigo.

Ipse dixit.